エピソード

  • Astérix e Obélix em Portugal: 41º álbum exporta crítica social, humor e bacalhau em 19 línguas e 25 países
    2025/10/31
    A dupla Astérix e Obélix desembarca em Portugal no 41º álbum da série mais lida da história dos quadrinhos franceses. Com roteiro de Fabcaro e desenhos de Didier Conrad, a aventura lusitana mistura humor, crítica social e uma homenagem ao herói Viriato, símbolo da resistência contra Roma. Os autores falaram à RFI sobre bastidores, criação e o fenômeno cultural dos "irredutíveis gauleses" que atravessa gerações em todo o planeta. A aventura portuguesa foi traduzida para 19 línguas e dialetos. Astérix e Obélix estão de malas prontas para sua 25ª viagem e o destino da vez é a Lusitânia, atual Portugal. O 41º álbum da série, com tiragem inicial de 5 milhões de exemplares, marca a estreia dos gauleses em terras lusitanas. O roteiro é assinado por Fabcaro (Fabrice Caro), em sua segunda participação na franquia, e os desenhos são de Didier Conrad, veterano que já soma sete álbuns da saga. A escolha de Portugal não foi aleatória. “Eles já viajaram bastante, e percebi que nunca tinham ido à Lusitânia. Logisticamente, faz sentido: é perto da Gália, da Bretanha. Propus ao editor e ele disse: ‘Vai fundo, essa ideia está circulando há tempos, mas ninguém quis ainda encampar’”, conta Fabcaro. Para Didier Conrad, a ambientação exigiu pesquisa e sensibilidade. “Já tinha estado lá [em Portugal], molhado os pés daquele lado do Atlântico. É um lugar que vi e senti. Depois, é só trabalhar”, diz, com a leveza de quem domina o traço, mas reconhece o peso da responsabilidade. Astérix como "jazz": variações sobre temas A criação de um novo álbum exige respeito à tradição e inovação constante. “Há passagens obrigatórias que o leitor espera. Mesmo as ideias novas precisam manter uma continuidade. Os romanos apanham, mas não pode ser a mesma briga da última vez”, explica Conrad. “É como jazz: variações sobre temas que as pessoas adoram.” O vilão da vez é Pirespèce ("da pior espécie", em tradução livre), um lusitano ardiloso, herdeiro da traição que marcou a história de Viriato, um líder militar lusitano do século II a.C., pastor de origem humilde que uniu tribos ibéricas contra a ocupação romana. Traído por aliados, foi assassinado em 139 a.C. e permanece como herói nacional em Portugal. “Imaginei que Pirespèce fosse descendente dos traidores de Viriato. Um personagem mais traiçoeiro do que malvado”, diz Fabcaro. “Didier o desenhou com um ar dissimulado, perverso.” "Goscinny e Uderzo criaram personagens que são geniais", diz o roteirista. "Eu não sinto que estou trabalhando. Eu não deveria dizer isso, porque senão eles não vão me pagar [risos]. Eu sou como uma criança que recebe brinquedos de luxo e dizem: 'agora divirta-se'", brinca Fabcaro. Leia tambémNovo inimigo de Asterix é um filósofo romano inspirado no escritor brasileiro Paulo Coelho Quadrinhos que falam do presente com roupagem de passado O sucesso de Astérix, segundo os autores, está na capacidade de preencher um vazio simbólico. “Não temos uma imagem clara da nossa antiguidade. Astérix preenche esse espaço de forma divertida e confortável. É uma origem que dá prazer de lembrar”, reflete Fabcaro. Além disso, os álbuns funcionam como retratos da época em que são lançados. “Sob o disfarce da antiguidade, falamos de temas contemporâneos. Neste, temos dois gauleses velhos que reclamam da reforma da previdência. São verdadeiros gauleses”, brinca o roteirista. A viagem à Lusitânia também permite uma crítica bem-humorada ao comportamento dos turistas franceses. “A figura do francês no exterior me fascina. Somos horríveis como turistas. Quis mostrar dois gauleses de férias reclamando de tudo, inclusive porque não se fala francês fora da França”, ironiza Fabcaro. Obélix, por exemplo, não se adapta à gastronomia local. “Está no país do bacalhau, mas sente falta dos javalis”, ri Conrad. Leia tambémNova edição de Asterix tem heroína adolescente rebelde que lembra Greta Thunberg O futuro da série Apesar do sucesso estrondoso — mais de 400 milhões de álbuns vendidos desde 1959 —, os autores preferem não pensar nisso durante a criação. “Se pensarmos na máquina que é Astérix, ficamos paralisados. Eu entro na minha bolha e sigo”, diz Fabcaro. Sobre o futuro, ambos mantêm os pés no chão. “É um livro por vez. Nunca sei o que vai acontecer depois”, afirma o roteirista. “Provavelmente será o último, mas podemos continuar”, pondera Conrad. Enquanto isso, os leitores brasileiros podem se preparar para mais uma aventura dos gauleses, agora com sabor de bacalhau, sotaque lusitano e a garantia de muitas risadas, à la française. Leia tambémMorre aos 92 anos o quadrinista Uderzo, criador do "Asterix" Recepção ambivalente em Portugal A chegada de Astérix na Lusitânia ao mercado português, em 23 de outubro, gerou reações contraditórias na imprensa local, como destacou o ...
    続きを読む 一部表示
    7 分
  • Paris: design brasileiro se destaca em salão que cria uma 'Embaixada do Futuro' sustentável
    2025/10/24

    O Estúdio Rain, de São Paulo, é o único escritório brasileiro convidado a participar do salão Les Nouveaux Ensembliers (os novos designers), evento realizado em Paris para celebrar o centenário da Exposição Internacional de Artes Decorativas de 1925, que consagrou o movimento Art Déco.

    Patrícia Moribe, em Paris

    O evento, que acontece na histórica tapeçaria Manufacture des Gobelins, é organizado pela recém-criada instituição Manufactures Nationales (manufaturas nacionais), que reúne a cerâmica de Sèvres e o Mobilier National, dedicado à preservação de técnicas tradicionais e do mobiliário histórico do país.

    A edição deste ano tem como tema “A Embaixada do Futuro”, com o desafio de repensar os espaços diplomáticos sob a ótica dos designers contemporâneos, utilizando materiais sustentáveis. Uma comissão selecionou dez escritórios – nove franceses e um brasileiro – para repensar cada cômodo de uma embaixada moderna, revisitando o espírito da exposição de 1925, com uma nova tradução contemporânea.

    O Estúdio Rain, fundado por Ricardo Innecco e Mariana Ramos, foi selecionado para representar o Brasil por um comitê composto por 19 membros. O estúdio foi encarregado de projetar o hall de entrada da exposição.

    Inspirado pelos palácios governamentais de Brasília, cidade natal de Innecco e Ramos, o projeto se distanciou da ideia de recepção fria e impessoal. “O hall foi projetado para que as pessoas se sintam acolhidas, com elementos que as façam refletir enquanto esperam”, explica Ricardo Innecco.

    Mamona e Chanel

    O projeto do Estúdio Rain também destacou a importância do "savoir-faire", a "expertise" artesanal. A pesquisa do estúdio em biomateriais foi essencial para a criação de peças inovadoras, como luminárias e o portal, feitos com biorresina à base de óleo de mamona – um material sustentável desenvolvido ao longo de cinco anos.

    O estúdio também fez parceria com o Studio MTX, da Chanel, que criou um painel de "bordado arquitetônico", como explica Innecco, com 12.000 tubos de metal e 7.000 sementes de feijão beiçudo (não comestível), gerando um contraste entre o industrial e o natural. Outras colaborações incluíram a Marchetaria do Acre, que produziu um armário que evoca a história do pau-brasil, e a Móveis Amazônia, que criou poltronas feitas de junco.

    Além do hall de entrada projetado pelo escritório brasileiro, a "Embaixada do Amanhã" inclui outros espaços revisitados, como o escritório do embaixador, a sala de jantar, o bar, a cozinha de recepção, o dormitório do presidente e uma área de relaxamento.

    O salão busca, com essas múltiplas linguagens e refinamento, equilibrar tradição e modernidade, mostrando que a figura do ensemblier – ou designer, aquele que dá coesão ao conjunto – continua essencial para refletir a cultura francesa e seus valores, acoplando sustentabilidade e "savoir-faire".

    O salão dos Novos Designers (Les Nouveaux Ensembliers) segue até 2 de novembro, na Manufacture des Gobelins, no 13° distrito de Paris.

    続きを読む 一部表示
    6 分
  • Balé da Cidade de São Paulo apresenta coreografias de Rafaela Sahyoun e Alejandro Ahmed na França
    2025/09/30

    O Balé da Cidade de São Paulo realiza uma turnê na França, com apresentações em cinco cidades. Após lotar o Théâtre de la Ville de Paris, a companhia segue viagem pelo interior francês.

    O público da França tem a chance de conhecer a potência técnica e artística do corpo de baile do Theatro Municipal de São Paulo por meio de Fôlego e Boca Abissal, criações de Rafaela Sahyoun. Em Lyon, o repertório se amplia com Requiem SP, de Alejandro Ahmed, que assumiu a direção artística do grupo em julho de 2023.

    Antes dessa temporada com o balé paulistano, Ahmed participou da Bienal de Dança de Lyon, de 6 a 28 de setembro, com sua companhia Cena 11. Para o coreógrafo, a França é um espaço que valoriza “a complexidade do pensamento e a abertura para um diálogo honesto e vigoroso”.

    “Estamos em um teatro de enorme relevância, com a possibilidade de dar voz e refletir sobre este modo de pensar um Brasil atualizado, questionado e aberto a transformações”, afirmou Ahmed à RFI, em Paris, durante o ensaio no Théâtre de la Ville, antes das apresentações que aconteceram entre os dias 23 e 27 de setembro.

    Foi a primeira vez em três décadas que a prestigiada casa parisiense, considerada a meca da dança contemporânea, incluiu uma companhia brasileira em sua programação principal.

    “Estarmos aqui, a convite do Théâtre de la Ville, para compartilhar modos de pensamento próprios do Brasil, representa um espaço de diálogo e de troca de saberes extremamente potente”, acrescentou o diretor.

    Intensidade e vigor

    Fôlego e Boca Abissal se destacam pela força musical e pela expressividade coreográfica.

    Com trilha hipnótica de The Field, projeto do produtor sueco Axel Willner, Fôlego reúne 16 bailarinos em cena.

    “Começamos em 2022, ainda sob o impacto da pandemia, diante da cratera que ela deixou no mundo. Naquele momento, me senti desafiada a pensar a dança na urgência do encontro”, recorda Sahyoun.

    “Quis criar estruturas cênicas que, mais do que simbólicas, aproximassem os intérpretes pela própria composição. Fôlego fala de apoio, de um estar junto não romantizado, mas nascido da resistência — e talvez mais ainda da insistência. Uma das questões que coloco é: como encontramos nossa força a partir do outro?”, explica.

    Atuando entre Brasil e Europa, a coreógrafa também compartilhou suas expectativas para a temporada francesa:

    “Espero que possamos ativar as presenças em tempo real, deixar os celulares de lado e nos encontrar — público e cena. Desejo um campo de acontecimento, um encontro em que a própria obra seja praticada no instante da apresentação.”

    A turnê integra a programação oficial da Temporada do Brasil na França. Depois de Paris e Arcachon, em setembro, o balé segue para Clermont-Ferrand (2 e 3 de outubro), Annemasse (8 e 9 de outubro) e Lyon, onde se apresenta na Maison de la Danse, de 14 a 18 de outubro.

    続きを読む 一部表示
    5 分
  • Exposição sobre Amazônia em Paris foge de clichês e destaca produção artística contemporânea
    2025/09/30

    O museu do Quai Branly, em Paris, abre a exposição "Amazônia: Criações e Futuros Indígenas”, nesta terça-feira (30), com o objetivo de abordar uma nova perspectiva sobre a região amazônica. Fruto de três anos de planejamento, a mostra busca desconstruir a visão tradicionalista e de exotismo da floresta, apresentando-a como um mundo vibrante, contemporâneo e plural, de criação.

    Patrícia Moribe, da RFI em Paris

    A curadoria da exposição é assinada pelo artista, designer e militante dos direitos dos indígenas brasileiros Denilson Baniwa, do povo Baniwa, da região do Alto Rio Negro, e pelo antropólogo Leandro Varison, diretor-adjunto do Departamento de Pesquisa e Ensino do museu parisiense.

    Denilson Baniwa explica que o desejo curatorial foi fugir de uma Amazônia apresentada como "uma representação exótica ou de um espaço inabitável, ou clichê". A estratégia foi dar voz a artistas da Amazônia brasileira, peruana e colombiana, para mostrar uma Amazônia "mais plural e diversa", manifestando-se "a partir de si própria", e não mais a partir de um "ponto de vista ocidental europeu".

    Baniwa ressalta que, apesar da diversidade dos povos – alguns isolados, outros na cidade, ou na fronteira entre o urbano e a floresta – eles compartilham reivindicações fundamentais, como "dignidade e respeito" e "o desejo de serem escutadas".

    Sem linhas cronológicas ou delimitações geográficas convencionais, o visitante é convidado a passear entre espaços temáticos - abordando tradições, culturas, línguas e gestos artísticos -, nos quais objetos das coleções do museu dialogam com peças contemporâneas.

    De objetos de observação a protagonistas

    A escolha do termo "criações" no título é central para a proposta da exposição. Para Varison, era fundamental mostrar que a região não é "apenas uma terra de tradição", mas um espaço onde os povos estão ativamente "criando mundos, relações e biodiversidade". Ele destaca a colaboração com coletivos e artistas indígenas, como o Instituto Cultural Maluá, do povo Inacarajá, que demonstra como esse patrimônio "continua sendo produzido e sendo transmitido para as próximas gerações".

    O antropólogo enfatiza ainda a importância de promover as coleções nacionais. "O Brasil valoriza muito pouco as coleções indígenas", lamenta. Ele destaca a parceria crucial com o museu de Arqueologia e de Etnologia da USP para a concepção da exposição. Ele cita ainda instituições que merecem maior apreço, como o Museu Goeldi, em Belém, o Museu dos Povos Indígenas (antigo Museu do Índio), em Brasília, e o Museu Nacional, no Rio de Janeiro.

    Valorizar coleções nacionais

    Leandro Varison instiga o público brasileiro a priorizar esses espaços culturais, afirmando que os museus e coleções nacionais "valem a pena ser visitados", com uma mensagem dirigida especialmente a um público que "às vezes está mais interessado em conhecer o museu do Louvre do que conhecer a sua própria cultura".

    No contexto brasileiro, Denilson Baniwa reforça a necessidade de o país entender que a Amazônia "faz parte do Brasil, não como um lugar isolado ou num lugar que precisa ser protegido de fora para dentro". Ele conclui que é necessário "aproximar o sudeste do norte, o nordeste do norte, para pensar o nosso Estado brasileiro e a sociedade brasileira, porque uma interdepende da outra".

    “Amazônia, criações e futuros indígenas” faz parte da Temporada Cruzada França Brasil 2025 e fica em cartaz até 18 de janeiro de 2026, no museu do Quai Branly, acompanhada por uma vasta programação de encontros, espetáculos e concertos.

    続きを読む 一部表示
    5 分
  • Brasil ganha dois prêmios no Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz
    2025/09/26
    A 34ª edição do Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz termina nesta sexta-feira (26) com a reprise dos filmes vencedores deste ano. A cerimônia de premiação aconteceu na noite de quinta-feira (25), no sudoeste da França. O Brasil recebeu um prêmio especial do júri para o longa-metragem de ficção "A Melhor Mãe do Mundo" e o prêmio Perspectiva Queer, na categoria curta-metragem, para "Presépio". Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI a Biarritz A cerimônia de encerramento, que acontece esta noite, contará com a exibição do longa-metragem "La Ola", do diretor Sebastián Lelio — um musical que retrata a onda de protestos no Chile em 2018. Durante uma semana, foram exibidos 71 filmes, de 26 países, distribuídos em três categorias: longa-metragem, documentário e curta-metragem. "A Melhor Mãe do Mundo", da diretora paulista Anna Muylaert, recebeu o prêmio “Coup de cœur" do júri, uma distinção especial concedida ao longa-metragem que mais emocionou os jurados. Este é o 20° prêmio do filme, lançado no Brasil em agosto deste ano, estrelado por Shirley Cruz e Seu Jorge. O longa conta a trajetória de uma catadora de lixo que foge com os filhos pequenos pelas ruas de São Paulo para escapar de um marido abusivo. Na categoria curta-metragem, "Presépio", do diretor Felipe Bibian, recebeu o Prêmio Perspectiva Queer. "Fico muito feliz, é o reconhecimento da trajetória do curta até aqui e valoriza as discussões que o filme traz, como a democracia e os conflitos geracionais", disse o cineasta em entrevista à RFI. "É um filme muito brasileiro, mas que conseguiu se comunicar com o público estrangeiro", acrescentou. "Presépio", que vai estrear no Brasil no Festival do Rio, em outubro, conta a história de uma família carioca reunida na noite de Natal. "Ao longo da noite, a gente descobre, pelas descrições rápidas do amigo oculto, um pouco da intimidade desses personagens, dessa família", diz o diretor. "E a noite se transforma quando a criança da família recebe um brinquedo aparentemente banal, uma arminha de plástico de atirar água, o que transforma aquele quintal da família num coliseu", acrescenta. "Cada um tendo um lugar nessa zona de conflito, uma opinião diferente, baseada nas suas trajetórias até ali", descreve Bibian. Um dos personagens foi um resistente da ditadura militar, o que, segundo o diretor, "toca ele profundamente em alguns lugares que para outros parecem uma banalidade, uma arminha de plástico, mas isso começa a escalar a discussão". Felipe Bibian diz que decidiu abordar o tema do armamento como um alerta. "Hoje em dia, com esses governos autoritários ressurgindo com tanta força em diferentes países do mundo, cada um da sua maneira, é importante pensarmos sobre isso", avalia. "É um tipo de cinema que eu admiro, que eu busco fazer: tratar de questões íntimas e familiares e, com isso, consegui abordar o político e o universal", finaliza. Outros filmes brasileiros em Biarritz A diretora brasileira Flavia Castro levou para as telas suas memórias de infância. Em 1973, ainda criança e logo após o golpe militar de Augusto Pinochet no Chile, ela viveu exilada na embaixada da Argentina, enquanto centenas de ativistas de esquerda latino-americanos aguardavam vistos para deixar o país. O longa-metragem “As Vitrines” fez sua estreia mundial em Biarritz, onde a RFI conversou com a cineasta. "Eu acho que é uma forma de compartilhar uma história muito pouco conhecida, que é a das crianças no exílio, das crianças que acompanharam os seus pais", diz. "Tem a ver com a minha história, porque eu de fato fiquei três meses na embaixada da Argentina no Chile, logo depois do golpe. Mas eu acho que, antes de mais nada, é um filme que se inscreve no presente", continua. "É mais uma pecinha para a gente seguir contando essa história coletiva", completa. A trama é apresentada pelo olhar de duas crianças: Pedro e Ana, os protagonistas infantis. A diretora explica a importância de contar essa história, ocorrida há mais de 50 anos. "Eu acho que é fundamental num país como o Brasil, em que a gente não processou os responsáveis por isso", diz Flavia Castro. "Eu acho que é muito importante a gente seguir fazendo esse trabalho de memória. E o cinema tem feito isso de uma forma maravilhosa nos últimos anos no Brasil", conclui. Na categoria documentário, o Brasil esteve representado por "Copan", uma coprodução com a França, que mostra o dia a dia no edifício que é um símbolo da cidade de São Paulo e da arquitetura moderna brasileira. "O Copan, com seus 5.000 moradores, funciona como um recorte de Brasil muito complexo, principalmente por suas questões políticas", explica a diretora Carine Wallauer. "O filme serve como uma possibilidade para que a gente discuta a sociedade como um todo", diz. Ela conta como foi a negociação para as filmagens na casa dos moradores. "Eu também fui moradora do Copan ...
    続きを読む 一部表示
    5 分
  • Fotojornalismo: machismo ainda emperra o destaque de mulheres na profissão
    2025/09/14

    O Festival Visa pour l'Image, realizado anualmente em Perpignan, no sul da França, é um dos mais prestigiados eventos de fotojornalismo do mundo. A mostra, que termina neste domingo (14), funciona como um termômetro dos rumos globais ao apresentar os principais acontecimentos do ano, além de retrospectivas e homenagens. No entanto, apesar do crescimento constante da presença feminina na profissão, a visibilidade das mulheres no festival ainda é historicamente limitada, refletindo uma persistente disparidade de gênero no campo.

    Pioneiras como Gerda Taro e Lee Miller já evidenciavam, desde o século passado, o poder da lente feminina na documentação de conflitos como a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial. Suas imagens revelaram o sofrimento civil e a brutalidade humana com uma sensibilidade singular.

    Embora muitas mulheres atuem no fotojornalismo, a representatividade nos grandes palcos ainda é desigual. Dos treze prêmios concedidos pelo Visa pour l'Image este ano, apenas um foi destinado a uma fotógrafa. O festival, contudo, tem buscado ampliar essa presença por meio de bolsas e prêmios específicos para mulheres.

    Não há um levantamento global e atualizado sobre a atuação feminina no fotojornalismo, mas dados de organizações como a Freedom of the Press Foundation indicam que a participação das mulheres tem crescido lentamente, porém de forma consistente, nas últimas décadas.

    Segundo um relatório de 2019 da Women Photograph — organização internacional dedicada a aumentar a representação feminina na fotografia jornalística — apenas 15% a 20% dos fotógrafos profissionais eram mulheres. Atualmente, estima-se que elas representem cerca de 22% dos profissionais da área, número ainda distante da paridade.

    Apesar dos desafios, ser mulher no fotojornalismo pode oferecer vantagens únicas. Carolyn van Houten, do jornal The Washington Post, observa que mulheres são frequentemente subestimadas, o que pode facilitar o acesso a informações sensíveis. Ela relata, por exemplo, que conseguiu entrar em áreas do Afeganistão e conversar com mulheres que seus colegas homens jamais teriam acesso.

    "Olhar feminino é importante"

    “Em campo, é uma vantagem porque nos permite ter acesso ao mundo das mulheres, especialmente em regiões onde há muita violência sexual”, diz Paloma Laudet, que apresentou em Perpignan uma série sobre a República Democrática do Congo. “No mundo do fotojornalismo, especialmente em zonas de conflito, há mulheres fotógrafas, mas proporcionalmente ainda há mais homens nessas regiões. O nosso olhar — o da mulher — é importante, mas infelizmente o olhar dos homens ainda tem mais destaque.”

    Juliette Pavy teve seu trabalho sobre a Groenlândia exibido nas projeções noturnas do festival. Ela também destaca a vantagem de ser mulher em suas reportagens. “Durante três anos, investiguei a prática de esterilização forçada de mulheres na Groenlândia. Inevitavelmente, ser mulher faz com que esse assunto me toque profundamente. Sinto que isso cria uma conexão mais sensível com as vítimas, que acabam confiando em mim com mais facilidade para compartilhar seus testemunhos sobre esse tipo de violência.”

    Apesar dos avanços, o fotojornalismo ainda é descrito como um “mundo muito machista” pela veterana Ana Carolina Fernandes, que iniciou sua carreira aos 19 anos no jornal O Globo e foi a única mulher entre 30 fotógrafos no Jornal do Brasil. Embora tenha recebido apoio de colegas, ela relembra que a chefia deixava claro que, se dependesse deles, ela não estaria ali. Coberturas de futebol e de hard news continuam sendo majoritariamente masculinas, e Ana Carolina relata que ainda é raro ver mulheres atuando como fotojornalistas em eventos como a Copa do Mundo.

    続きを読む 一部表示
    8 分
  • Brasileira Lygia Pape ganha 1ª exposição individual na França com obras emblemáticas do neoconcretismo
    2025/09/12
    De 10 de setembro de 2025 a 26 de janeiro de 2026, a Bourse de Commerce, sede da prestigiosa coleção Pinault em Paris, apresenta a primeira exposição individual de Lygia Pape (1927–2004) em solo francês. Intitulada Lygia Pape, Tecer o Espaço (Tisser L'Espace, no original), a mostra é um tributo à artista que, ao lado de Lygia Clark e Hélio Oiticica, redefiniu os rumos da arte brasileira no século 20. A exposição é realizada no contexto da Temporada Cultural Cruzada Brasil-França 2025 e marca um momento decisivo na recepção internacional da obra de Pape, uma das signatárias do Manifesto Neoconcreto, de 1959 no Brasil. Junto com Lygia Clark e Hélio Oiticica, ela pertenceu ao Grupo Frente, bastião do concretismo no Rio de Janeiro. Em 1957, acabou de aproximando do neoconcretismo, criando trabalhos icônicos que reformularam preceitos e horizontes das artes visuais brasileiras, influenciando gerações de criadores. Com curadoria de Emma Lavigne — diretora e conservadora geral da coleção Pinault — em colaboração com Alexandra Bordes e o Projeto Lygia Pape, a mostra articula obras fundamentais da artista, desde suas gravuras abstratas iniciais até instalações luminosas e filmes experimentais. No coração da exposição está Ttéia 1, C (2003/2025), uma instalação feita com fios de cobre tensionados no espaço, que mergulha o visitante numa experiência sensorial profunda. “Nosso corpo está ativo, nosso olhar desempenha um papel quase cinético”, observa Emma Lavigne. A obra se transforma conforme a luz e o movimento do visitante, encarnando o conceito de “tecer o espaço” que dá título à mostra. Para Lavigne, essa peça emblemática “explode completamente a ideia do cubo, da geometria, e redefine a relação entre obra e público”. "Essa exposição está sendo, para mim, uma coroação de sua obra", disse à RFI na abertura da mostra em Paris a filha da artista, Paula Pape, que administra seu legado. "Desde que a minha mãe faleceu, ela me deu uma missão: resguardar sua obra e divulgá-la através do Projeto Lygia Pape", conta. "A Lygia gostava muito da França, gostava muito dos franceses. Então eu acho que faltava uma exposição desse nível em Paris. Acho que quem não conhecia tanto o trabalho da Lygia está tendo agora a oportunidade de conhecer", sublinhou. Além de Ttéia, a exposição apresenta o majestoso Livro da Noite e do Dia III (1963–1976), composto por 365 pequenos quadros que evocam o tempo e sua passagem, e a performance coletiva O Divisor, em que os corpos dos participantes ativam o espaço, tornando-o sensível e vivo. “Queríamos ativar essa dimensão performativa e meditativa da obra de Lygia”, explica Lavigne, destacando o engajamento da artista com "o espaço público" e a transformação social. A mostra na sede da coleção Pinault também apresenta filmes experimentais raramente exibidos, que revelam o olhar de Pape sobre o tempo, o ritmo e a abstração. Imersos no contexto político do Brasil, esses filmes reforçam sua busca por uma arte que ultrapassa o objeto e se inscreve na experiência. Leia tambémGuggenheim de Bilbao celebra centenário de Lygia Clark com mostra de pinturas experimentais Nascida em Nova Friburgo e morta no Rio de Janeiro, Lygia Pape foi uma figura central da vanguarda brasileira. Sua obra, impregnada pelo contexto político do Brasil, rompe com a ideia da arte como objeto acabado. “Ela reinventou completamente a relação entre o artista, sua autoridade e o espectador”, afirma Lavigne. A curadora lembra que Pape desejava que seu nome quase desaparecesse, para que a experiência artística fosse apropriada pelo público, e cita uma frase atribuída a Pape, gravada na entrada da mostra em Paris: “Como vocês veem, tudo está ligado. A obra de arte não existe como objeto finalizado, mas como algo sempre presente, permanente dentro dos indivíduos”, dizia a artista. A coleção Pinault, que abriga essa exposição na capital francesa, é uma das mais influentes coleções privadas de arte contemporânea da Europa. Fundada pelo empresário François Pinault, ela reúne obras de artistas consagrados e emergentes, e tem se destacado por sua programação ousada e internacional. A escolha de Lygia Pape para uma mostra individual na Bourse de Commerce é um reconhecimento de seu lugar incontornável na história da arte global. Com Tecer o Espaço, Lygia Pape ganha finalmente o espaço que lhe é devido na cena artística francesa — não como uma artista exótica ou periférica, mas como "uma pensadora radical da forma, do tempo e da experiência estética", diz a comissária francesa. “Ela tem uma prática tão rica, tão complexa, que ultrapassa a questão do objeto de arte em sua finitude”, conclui Emma Lavigne.
    続きを読む 一部表示
    7 分
  • 'Vênus': artista brasileira celebra tensão entre beleza e memória de corpos negros em instalação em Paris
    2025/09/05
    A artista brasileira Val Souza apresenta em Paris a exposição “Vênus”, uma instalação monumental com mais de 800 imagens que ocupa a Maison Européenne de la Photographie (MEP) entre os dias 3 e 28 de setembro. A mostra é resultado de uma pesquisa iconográfica profunda sobre a representação das mulheres negras no Brasil e no mundo - uma investigação que Souza desenvolve há anos, entre arquivos familiares, revistas, livros, redes sociais e registros etnográficos. A proposta da artista vai muito além da estética. Em “Vênus”, que possui curadoria de Thyago Nogueira (IMS, São Paulo) e Clothilde Morette, Val Souza confronta a violência simbólica presente nas imagens históricas dos corpos negros, ao mesmo tempo em que propõe novas formas de ver e sentir essas presenças. A figura de Vênus, que dá nome à exposição, é ressignificada: não se trata da beleza idealizada da mitologia greco-romana, mas de uma beleza construída a partir "da memória, do afeto e da resistência". Segundo Souza, o trabalho é fruto de "uma trajetória pessoal e artística que remonta à infância". Os álbuns de família criados por sua mãe foram o ponto de partida para uma reflexão sobre a importância da imagem negra. “Minha mãe repetidas vezes mostrou o quanto a nossa imagem era importante”, relembra. Esses gestos cotidianos de afeto contrastavam com a forma como a sociedade tratava sua imagem. “Desde criança eu me perguntava por que algumas pessoas não gostavam de mim, quando em casa eu era tão amada.” A tensão entre o afeto íntimo e a hostilidade pública é um dos motores da pesquisa visual da artista. “A minha intenção não é resolver imagens, muito pelo contrário, é colocar cada vez mais tensão em algumas imagens, que possam produzir na gente outras maneiras de ver, de se perguntar e de conversar com estas imagens”, disse Val Souza à RFI. “Vênus Hotentote” Na exposição, figuras da cultura pop como Beyoncé e Kim Kardashian aparecem ao lado de retratos da própria artista, da escritora e ativista Sueli Carneiro, da cantora Nina Simone, de mulheres anônimas e de Saartjie Baartman — a “Vênus Hotentote”, escravizada e explorada na França no século 19. A multiplicidade de imagens revela uma Vênus essencialmente plural, que existe "tanto na dor quanto na alegria, tanto na opressão quanto na liberdade". A artista também traz para o campo da imagem sua experiência com a performance. “Acredito que aquilo que eu faço ainda é performance, num outro lugar. As imagens que eu crio têm esse agenciamento que não é só visual. No painel da MEP, as pessoas vão ter essa sensação: você vai precisar se mexer, estar perto, estar longe, fazer associações.” Val Souza entende que esse deslocamento do corpo do artista para o corpo da obra é também uma forma de proteção. “Fui entendendo como proteger o meu próprio corpo de situações de violência.” "Periguete" Entre suas performances mais conhecidas, Souza menciona Periguete, uma mulher negra que circula com um carrinho de bebidas. “Ela tem esse nome, mas o nome inicial era Can You See It — você consegue ver isso?”, explica. A performance questiona a visibilidade e os estereótipos associados ao corpo da mulher negra. Segundo a artista, o carrinho carrega bebidas típicas do local onde a ação acontece, como o vinho em Paris ou as cervejas pequenas e rápidas de beber no Brasil, que são associadas à ideia de uma mulher “fácil”. “Essa mulher também tem a ver com a independência de quem está ali bebendo, curtindo uma festa, e por isso é taxada como periguete, por causa da roupa, da atitude.” Val Souza usa um top e um short curto, deixando partes do corpo à mostra, e oferece dança e bebida sem dizer uma palavra — apenas uma placa com “R$ 2” sinaliza a interação. “Se as pessoas conversam comigo, eu posso responder, mas não inicio nenhuma conversa.” A artista reflete sobre como a beleza, na iconografia da mulher negra, se mistura com voyeurismo, sexualidade, exibicionismo e opressão. Costumo dizer que o mapa colonial do Brasil também é o mapa da imagem da mulher negra. Sinônimos como gostosura, delícia, captura, selvageria são usados tanto para o território quanto para os corpos colonizados. Val Souza vê essas camadas como inseparáveis: a selvageria atribuída ao corpo negro convive com uma beleza hipnótica. “Gosto da imagem da onça pintada. Ela pode acabar com você em segundos, mas você fica hipnotizado. É esse misto que sinto que pulsa na minha imagem e nas imagens de mulheres negras.”
    続きを読む 一部表示
    7 分