Migas e migus sobreviventes da era pré-algorítmica, bora de Nietzsche pra gente tentar ultrapassar a condição demasiadamente humana que domina o planeta há milênios. E que nem a gente aguenta mais!
Se o meteoro não vem, criamos um de dentro pra fora: pra implodir de vez esse poder despótico e imperialista, que não conquistou só o planeta, mas também nossas subjetividades.
O que é esse “eu” que fala em mim, senão esse mesmo poder imperial que também domina minha forma de me movimentar?
Que linguagem é essa que a gente usa, que aprendemos desde criança e que se propaga nas nossas relações?Que desejos são esses?
Que medos são esses? O que expande nossa vida? E o que a contrai, diminui a vida em nós?
São questões que geralmente não temos tempo pra parar e pensar sobre.
E não é de hoje. Mesmo Nietzsche foi julgado na Alemanha por falar sobre assuntos que ninguém teria tempo pra ler e pra pensar…
O que acontece na humanidade, ao longo dos séculos e mesmo agora? Um amálgama, cada vez mais concreto, rígido, dessa dominação do poder imperialista sobre a Terra, mas sobretudo em nós humanos! O sujeito moral, útil ao capital. Marcado a ferro e fogo, por séculos de dominação, caça às supostas bruxas, instauração da "lei e ordem" a serviço da acumulação.
Não foi sempre assim. A humanidade já viveu outros movimentos, outras relações com a existência. A exemplo dos grupos que foram dizimados da Terra (ou restaram em pequenos números).
Mas pra nós, colonizados, é mesmo como se a gente vivesse na Matrix; só que o que suga nossa energia não é um alienígena… somos nós próprios!
Taí uma das entradas pra ideia de círculo vicioso, título da obra de Pierre Klossowski, "Nietzsche e o Círculo Vicioso", que, entre muitas outras profundidades do pensamento, aponta essa sensação que Nietzsche viveu e explorou na sua obra: a repetição de um movimento humano que se fecha em si mesmo e não se liberta pra ser criador de novidades. E é sempre bom pensar a crítica não como negação do que foi ou do que é. Porque esse é o movimento natural da humanidade. A gente perde, e também ganha. Não podemos ficar presos numa lógica dialética, mas sim encontrar a necessidade de tudo se passar como se passou.
Pra, exatamente daí, sermos capazes de criar algo novo, inédito.Fazer da nossa existência uma obra de arte.
Criar o nosso próprio tempo.Não ficar sendo esmagado pela demanda do outro, do algoritmo, da instituição... de qualquer relação de forças que não venha de dentro pra fora.
Porque nós mesmos, cada um, somos um composto de forças, sempre em relação com tudo à nossa volta.
Não é muito útil a esse império que a gente seja bem comportado, bons escravos? Atentos à hora do relógio, às regras de submissão?
E não é mais útil ainda que a gente não se conecte com nossa força criativa de vida?
Quem disse que o oposto da norma de conduta é a destruição total, o colapso da humanidade? Tá mais pro colapso do capitalismo!
Então… é tomando caldo da cultura que a gente vai tentando respirar!
Mas é preciso desconstruir essa falsa prancha de salvação que é esse eu, essa subjetividade serva do poder imperial.
A gente é parte da natureza, com uma força de vida, que Bergson chama de élan vital (ou energia criadora) e que Nietzsche chama de vontade de potência. Esse sopro de vida em nós que está além da vaidade, da ganância, da acumulação… que tem alegria na diferenciação de si, na efetuação da existência.
Não somos um eu, um sujeito com um cargo ou uma medalha. Somos muito além disso.
Estamos presos na Matrix do capital, é verdade. Mas pra sair dela não precisa de pílula nenhuma. Basta usar o pensamento, encontrar o próprio tempo, se conectar com a existência dadivosa… a mesma que flui em um átomo, em uma planta… do lado de fora do círculo vicioso imperial.
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