エピソード

  • Niilismo Miguxo #10 - Arte, Vida e Filosofia: Caos e Cosmos + Final de Temporada
    2025/12/04

    Migas e migos! Chegamos ao fechamento dessa brincadeira que chamamos de primeira temporada :)


    A gente falou muito sobre criar o nosso próprio tempo, esse entretempo que a vida oferece, quando a gente sai do torpor das ficções que nos prendem.


    Tempo de perceber nossas forças internas, de fazer da vida um laboratório vivo, sempre em relação com tudo o que existe. Porque na natureza nada está parado, nada é separado, e nós também não.


    Só a linguagem, às vezes, cria esse encanto de afastamento, essa ilusão de ordem e caos, como se a realidade precisasse caber nos nossos rótulos.


    Quando algo não corresponde ao que eu queria, eu já digo que é negativo, caótico. Mas negativo em relação a quê? Caótico pra quem?


    Bergson já falava disso lá na Evolução Criadora. Negar o real não cria nada. E esse é o niilismo que a gente quer superar. Nietzsche também trouxe essa virada: aceitar não é resignar. É afirmar. A afirmação dionisíaca dança no chão que ela mesma cria. Ela sabe que a dor faz parte da vida, e não corre pra anestesia capitalista que transforma tudo em lixo. Ela compõe com a dor, porque dor também é ocasião de invenção.


    É disso que falamos quando falamos em criar o real. Sair do hábito, sair do automático. Perceber com mais delicadeza, com mais profundidade. Acessar essas micropercepções que vivem em nós, como pequenos cosmos dentro de cada pessoa. Nosso inconsciente é povoado de infinitas representações, sonhos, lembranças, afetos. Tudo isso se relaciona e faz surgir falas inesperadas, ideias inéditas, intuições rápidas. É vida em criação constante.Se cada um de nós é feito de infinitos cosmos de ideias, por que insistir em ver apenas o cosmos exterior dos livros de ciência?


    Étienne Souriau fala que existir é existir de uma certa maneira. Quando encontro a minha maneira de existir, conecto com um modo criativo que não precisa de uma luz externa pra me guiar. Eu passo a compor com o mundo, e não a depender dele pra me dizer quem eu sou.


    E é isso que fortalece: a capacidade de selecionar encontros que aumentam nossa potência, como no eterno retorno (sempre seletivo). No niilismo ativo, a gente afirma tudo o que vem, incluindo aquilo que parece caos. Porque quando não perco tempo ressentida, eu transformo qualquer acontecimento em força criadora. Essa é a clínica da vida. É dança, é invenção, é composição.


    Que o próximo ano te encontre capaz de afirmar todo e qualquer resultado, pra saltar mais longe de você mesmo. Superar nossa condição demasiado humana é um trabalho longo, mas possível. E é por isso que seguimos. Vamo fazer a boa guerra criativa.


    Espero que você chegue forte pro que vier. Algo de uma "segunda temporada" talvez chegue ano que vem. O que você quer ver por aqui? Me manda! Bora juntos!


    Clínica e outras conversas: https://linktr.ee/niilismomiguxo

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    40 分
  • Niilismo Miguxo #9 - Inteligência Não-Artificial: Só a Vida Cria Obras de Arte Reais e Inéditas
    2025/11/27

    Seguimos mergulhando na filosofia da diferença e na potência criativa da vida, aproximando Nietzsche, Spinoza, Bergson, Deleuze e tantas outras forças que nos ajudam a desmontar o sujeito capitalístico que o tecnocolonialismo tenta fixar em nós. A conversa de hoje toca em um tema que está em todos os lugares: a tal “inteligência artificial”, que nem é inteligência e muito menos artificial. E por que isso importa? Porque entender o que é a inteligência real, a inteligência de um corpo vivo, de um ser que percebe, que sente e que cria, é fundamental para não cairmos em ficções tecnológicas que tentam sequestrar nossa própria noção de pensamento.Tudo que vimos até agora, sonhos, inconsciente, ficções científicas, percepções, memórias, aponta para a mesma direção: somos natureza, e não existe separação entre “humanidade” e “mundo natural”. Essa separação é construída, repetida, vendida e atualizada o tempo todo pelo imaginário tecnocapitalista. Só que o pensamento vivo é outra coisa: ele acontece no corpo, na experiência, na implicação que cada um faz entre o que lê, o que vive e o que sente. Não se acumula saber como quem acumula PDFs; acumula-se tempo, camadas de percepção que ampliam nossa capacidade de afetar e ser afetado.E é justamente por isso que faz sentido questionar essas narrativas de “máquinas que vão pensar por nós”, “robôs que vão substituir humanos” ou “algoritmos criativos”. A inteligência é uma construção biológica, histórica, sensório-motora, como Bergson descreve em profundidade em Matéria e Memória. Todo ser vivo percebe, seleciona, conecta lembranças, reorganiza afetos, interpreta situações novas e produz respostas inéditas. Criar não é “responder a um prompt”; criar é deixar que uma impressão nova se desdobre no corpo até virar expressão, palavra, gesto, obra, acontecimento. Essa invenção é sempre singular, porque nasce da memória viva, não de uma associação estatística.Enquanto isso, o que chamamos de “IA” depende de trabalho humano precarizado, de bancos de dados categorizados por milhares de pessoas invisibilizadas. Nenhuma máquina sente, percebe ou sofre esforço interno de intelecção. Elas operam padrões. Nós criamos mundos. Nós nos transformamos. É por isso que a vida cria obras inéditas. E bots não.Se você acompanhou o episódio sobre sonhos, já conhece a ideia de que formamos uma realidade virtual interna a partir da percepção contínua e do movimento da memória. É dessa mistura sensível entre o que vemos agora e o que já vivemos antes que surgem respostas realmente novas, não previsíveis, não calculáveis. E é disso que a filosofia da diferença trata: da potenciação do vivo, da expansão da nossa capacidade de compreender o presente e inventar o futuro a partir de nós mesmos.Então, em vez de colaborar com o abismo do pensamento alimentado pelo tecnocolonialismo, esse hype high-tech que disfarça poder imperial como se fosse inovação neutra, vamos lembrar que somos corpo, carne, osso, desejo, matéria e memória. Somos seres criativos por natureza, como toda a natureza. A criação não vem de fora, não vem da nuvem, nem de datacenters instalados em territórios destruídos. Ela vem do dentro pra fora, do esforço, da fricção, da demora, dessa profundidade interna que nenhum algoritmo possui.Este espaço é um convite para retomar nossa inteligência real, não-artificial: a do animal humano que percebe, sente, imagina, inventa e se conecta com o cosmos inteiro através de suas próprias experiências. Bora fortalecer nossa potência criativa e deixar de alimentar narrativas que empobrecem o pensamento e precarizam vidas. A tecnologia pode ser ferramenta, mas nós somos vida. E só a vida cria o novo.https://linktr.ee/niilismomiguxo

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    32 分
  • Niilismo Miguxo #8 - Sonhos e Imaginação como Força de Criação do Real - Composição Ativa
    2025/11/20

    Sonhos e inconsciente, a natureza em nós como realidade imanente. Migas e migus pré-algorítmicos, seguimos com Nietzsche, Bergson e a filosofia da diferença para ultrapassar o niilismo negativo e chegar naquele ponto em que começamos a criar modos de existência. Mas e os sonhos? E esse inconsciente que parece mágico? Para onde você vai quando dorme?

    Vem daí a ligação entre ficções que prendem o pensamento e essa imaginação que muitas vezes confundimos com realidade. No último vídeo falamos da confusão entre tempo e espaço como se fossem uma coisa só, quando na verdade há duas realidades distintas: a da matéria estática e a da vida em duração. Tudo o que percebemos se acumula na passagem do tempo e faz a gente mudar de natureza. Nada está parado. Os cortes bruscos que parecem surgir do nada são efeitos de mudanças que já estavam acontecendo.

    E então chegamos aos sonhos. O que eles são? O virtual, o inconsciente, essa zona da nossa existência que muitos tratam como sobrenatural. A resposta curta é que nada disso está fora da nossa própria imaginação fixada. Nietzsche, em Humano Demasiado Humano, diz que o sonho foi a origem de toda crença em mundos superiores. A má compreensão do sonho criou a metafísica, essa separação entre um mundo verdadeiro e um mundo sensível que sentimos.

    Nietzsche explica que no sonho continuamos percebendo o corpo. O sistema nervoso segue ativo, órgãos liberam substâncias, sensações continuam chegando. A mente interpreta essas sensações e cria imagens para justificar o que o corpo sente. A lógica do sonho é essa máquina de associações. A inteligência não para. Bergson diz que mesmo adormecido continuamos raciocinando. A mente interpreta sensações captadas no corpo e liga ideias a ideias. Estamos sempre trabalhando por dentro.

    Bergson aprofunda isso falando da diferença entre sonho e vigília, do desinteresse ao dormir e da nossa tendência a preencher lacunas com imagens e lembranças. Nada de misterioso. O sonho é leitura, interpretação, adivinhação. A pergunta é: por que confundimos isso com realidade superior? E por que deixamos essas imagens dominar a vida acordada, como se estivéssemos sonhando mesmo de olhos abertos?

    Quando não prestamos atenção à vida, ficamos presos às crenças, às imaginações, às representações que nos deixam em contradição: sabemos o que queremos e fazemos o contrário. A servidão humana parece imutável, mas é só falta de atenção à vida. Investigar rigorosamente não é virar robô lógico, é selecionar percepções reais em vez de deixar as associações aleatórias virarem verdade.

    Pensar os sonhos com Nietzsche e Bergson é uma forma de quebrar prisões do pensamento. O niilismo não precisa ser negativo. A criação começa quando percebemos como funcionam nossas crenças. A natureza supera a si própria criando diferenças e nós fazemos parte disso. No sonho, é a própria natureza operando em nós. Quando nos conectamos com esse bicho humano que somos, ampliamos nossa capacidade perceptiva e entendemos o inconsciente como parte ativa da vida real.

    No fim, tudo volta para a atenção ao presente, ao corpo, ao campo sensório-motor que é a única realidade que tocamos. O resto é ficção. O sonho nos ensina justamente isso: a vida está acontecendo agora, em duração, e o pensamento pode se libertar quando paramos de confundir nossas imagens com o real.

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    27 分
  • Niilismo Miguxo #7 - Einstein x Bergson ou Multiverso e Ficções x Vida Criativa em Devir Intensivo
    2025/11/14

    Zaratustra p.151 → o instante é um portal que vai infinitamente pra trás e infinitamente pra lá, sem nunca se cruzar e sempre se contradizer.A divisão da matéria em partes infinitas leva à crença de que toda a realidade seria divisível da mesma maneira; incluindo nossos estados afetivos, planejamentos de vida, desejos, pensamentos… nosso tão fomentado controle despótico sobre o real. Essa paranoia generalizada.A coisa é sutil ao ponto de Einstein não ter compreendido o que Bergson dizia sobre a indivisibilidade do tempo. Em vez de entrar em combate, Bergson seguiu em seus estudos e publicou uma obra sobre a teoria da relatividade: Duração e Simultaneidade. Einstein recebeu o Prêmio Nobel de Física pelo seu trabalho sobre o efeito fotoelétrico, não pela teoria da relatividade.Não estamos negando a ciência! Pelo contrário; com Nietzsche, Bergson e a filosofia da diferença, adentramos num nível granular, molecular, do funcionamento da nossa inteligência: demasiado humana, demasiado prepotente, demasiado rígida.Podemos moldar a matéria como quisermos, dividindo-a infinitamente. A ciência é uma especialização magnífica que desenvolvemos pra isso. Mas essa habilidade não foi (e não pode ser) aplicada à realidade virtual, ao tempo que ainda há de ser criado por nós.Quem assiste Rick and Morty ou qualquer história de viagem no tempo vê aí uma premissa de que o tempo poderia ser dividido em partes diferentes. No Rick and Morty, por exemplo, cada ato que eu escolhesse fazer criaria imediatamente infinitas dimensões com as linhas de atos que eu não escolhi.Mas o tempo não é divisível como a matéria!Bergson não refuta Einstein inteiro, mas refuta veementemente esse aspecto essencial pra compreensão do funcionamento da realidade, e pra libertação do pensamento.Podemos tentar entender com a ideia de multiverso: toda vez que eu escolho algo, não se cria uma infinidade de dimensões com as outras escolhas. Essa é a ficção suprema de Rick and Morty e tantos outros.Ao contrário: quando eu escolho algo; ou melhor, quando minha potência escolhe algo, em ato, em acontecimento; eu mudo de natureza.Não é uma divisão numérica que acontece, é uma mudança de natureza. Eu me torno outra coisa.E às vezes a gente não sente isso? Que somos diferentes em relação a outro momento do passado?Somos mesmo! Mudamos de natureza sem mudar em quantidade, mas em qualidade. Nos diferenciamos de nós próprios.O passado aqui não é o que foi: é o que é, agora, conosco. O passado não está em um ponto da suposta linha do tempo; o passado é um conjunto de seres de tempo em nós, hoje. Percepções, afetos, variações registradas no corpo e percebidas de alguma forma pela mente. O passado se mostra junto com o presente em nós.Não somos capazes de pensar o devir porque estamos habituados a manipular o que é “estático”, a matéria “imóvel”. E com o que é vivo, que cria realidades inéditas, temos dificuldade. Tentamos compreender como algo estático, como de costume.Pensar o devir, trabalhar no devir: aqui começa a liberdade do pensamento, do corpo, do desejo.O começo da liberação desse hábito de mau gosto, porque viver é uma questão de gosto, e alguns têm mau gosto…De querer fechar a vida em uma forma pronta, pré-fabricada, por uma moralidade, um dever-ser, um cargo, uma função que você deveria colar na sua cara pra ser aceito em determinados grupos sociais.O instante é um portal que vai infinitamente pra trás e infinitamente pra frente, sem nunca se cruzar e sempre se contradizer.O instante entendido pela lente do mau gosto, da suposta divisibilidade do tempo, é um portal pra confusão, que pode te prender por uma vida inteira.O instante é uma ficção. Vivemos um continuum, uma duração indivisível, que muda de natureza; às vezes de modo tão diferente que parece um corte brusco, quando na verdade estávamos “grávidos” de uma mudança interior que se acumulava em nós. Até onde pode ir um pensamento que chega a compreender a realidade assim?

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    31 分
  • #6 - Eterno Retorno: o Fim da Ilusão da Falta Colonialista (Abismo Útil a Tirania)
    2025/11/06

    Nietzsche não criou sua obra do nada. O nada é uma ficção colonial. Desse pensamento dominante que se alastrou sobre a Terra e sobre todos os corpos.Ficção de um povo que tem medo da Terra, medo da natureza lhe ser pouca, de lhe faltar. O que é a acumulação senão um modo de vida desconectado da abundância da natureza?Nietzsche sentiu isso no século XIX; esse medo, com essa necessidade de dominação que vem junto com o medo da morte, da Terra.E ele foi a fundo nesse modelo de pensamento, que é o niilismo no sentido negativo. Tão a fundo que muita gente confunde toda a sua obra com uma obra niilista. Mas não chega a ver que o que ele fez foi levar isso ao extremo; e chegar ao pensamento do eterno retorno, quando o niilismo nega a si próprio e desaparece: o chamado niilismo ativo, ou quarto e último estágio.Mas não conseguimos chegar de maneira simples, porque sofremos dessa doença que é a desconexão com a Terra, com a natureza.Fixados nesse modo de vida do colonizador. Seu senhor não é só seu patrão. Seu senhor é seu sistema familiar, é a imposição do dia, é a grade na qual você precisa se enjaular pra manter sua dita posição social. Toda essa invenção que funciona à parte da própria natureza.Onde fica a criação?A arte de inventar novos modos de existência, de composição, de novos mundos?Então: entrar nos conceitos de Nietzsche, sim; de Bergson, de Spinoza, de Deleuze; mas não sem aplicar cada frase, cada ideia, ao nosso modo de vida aqui e agora. Nietzsche sentiu o colonialismo e se voltou profundamente contra ele; contra a imposição de um único modo de sobrevivência, imposto por essa humanidade medrosa, niilista no sentido negativo, que precisa acumular sem fim e nunca chega numa alegria plena. Quanto mais acumula, mais cava um buraco; um abismo pra si mesma.Até as psicologias ortodoxas insistem que o desejo humano é constituído pela falta, que seríamos fracos, necessitados, sempre em busca de um objeto pra nos preencher.E como isso funciona bem no capitalismo!Você sempre em busca de um objeto no shopping, na prateleira, que, depois de comprado, quase imediatamente, já te deixa vazio de novo.Como a gente pode aceitar isso, se temos aqui tanta abundância de natureza? De outros povos, como os quilombolas? De obras lindas como “A Terra Dá, A Terra Quer”?Nego Bispo:“Nós somos os diversais, os cosmológicos, os naturais, os orgânicos. Não somos humanistas. Os humanistas são as pessoas que transformam a natureza em dinheiro, em carro do ano. (...) Apesar de serem criaturas da natureza, os humanistas se descolam dela.(...) Existem modos de vida fora da colonização. Mas política, não.Toda política é um instrumento colonialista, porque a política diz respeito à gestão da vida alheia. Política não é autogestão."E vamos mais longe: existem modos de vida ainda não vistos na Terra. Enquanto houver ser humano, teremos capacidade de criar pra nós outras existências possíveis, em composições mais fortes de viventes.Mas pra sair desse pensamento colonial imposto de fora, dessa gestão de fora pra dentro, a gente tem que se conectar conosco, com nossa potência de se diferenciar de nós mesmos, como toda a natureza.O que está muito acima das pequenas questões que essa humanidade se coloca.Nietzsche rompe com a ficção do real como se fosse um objeto que se suporta, que se carrega; o suposto peso da vida adulta, da vida em sociedade, etc.Ele rompe com toda negatividade, e diz:“O que quer que queira, queira de tal maneira que queira também o seu eterno retorno.(...) Se em tudo que fizer, começar por perguntar: ‘eu quero isso um número infinito de vezes?’, isso será um centro de gravidade mais firme.” (Vontade de Potência)E com a entrada no eterno retorno, como lei da natureza, a gente pode chegar a equação, com Deleuze:Querer = Criar.Destruição ativa: o estado dos espíritos fortes, que destroem neles o que há de reativo, de hábito triste, empobrecido.https://linktr.ee/niilismomiguxo

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    37 分
  • #5 - Vilões e Medo de Bruxa na Matrix do Capital: Subjetividades Despóticas
    2025/10/30

    Migas e migus sobreviventes da era pré-algorítmica, bora de Nietzsche pra gente tentar ultrapassar a condição demasiadamente humana que domina o planeta há milênios. E que nem a gente aguenta mais!


    Se o meteoro não vem, criamos um de dentro pra fora: pra implodir de vez esse poder despótico e imperialista, que não conquistou só o planeta, mas também nossas subjetividades.

    O que é esse “eu” que fala em mim, senão esse mesmo poder imperial que também domina minha forma de me movimentar?

    Que linguagem é essa que a gente usa, que aprendemos desde criança e que se propaga nas nossas relações?Que desejos são esses?

    Que medos são esses? O que expande nossa vida? E o que a contrai, diminui a vida em nós?

    São questões que geralmente não temos tempo pra parar e pensar sobre.

    E não é de hoje. Mesmo Nietzsche foi julgado na Alemanha por falar sobre assuntos que ninguém teria tempo pra ler e pra pensar…

    O que acontece na humanidade, ao longo dos séculos e mesmo agora? Um amálgama, cada vez mais concreto, rígido, dessa dominação do poder imperialista sobre a Terra, mas sobretudo em nós humanos! O sujeito moral, útil ao capital. Marcado a ferro e fogo, por séculos de dominação, caça às supostas bruxas, instauração da "lei e ordem" a serviço da acumulação.

    Não foi sempre assim. A humanidade já viveu outros movimentos, outras relações com a existência. A exemplo dos grupos que foram dizimados da Terra (ou restaram em pequenos números).

    Mas pra nós, colonizados, é mesmo como se a gente vivesse na Matrix; só que o que suga nossa energia não é um alienígena… somos nós próprios!

    Taí uma das entradas pra ideia de círculo vicioso, título da obra de Pierre Klossowski, "Nietzsche e o Círculo Vicioso", que, entre muitas outras profundidades do pensamento, aponta essa sensação que Nietzsche viveu e explorou na sua obra: a repetição de um movimento humano que se fecha em si mesmo e não se liberta pra ser criador de novidades. E é sempre bom pensar a crítica não como negação do que foi ou do que é. Porque esse é o movimento natural da humanidade. A gente perde, e também ganha. Não podemos ficar presos numa lógica dialética, mas sim encontrar a necessidade de tudo se passar como se passou.

    Pra, exatamente daí, sermos capazes de criar algo novo, inédito.Fazer da nossa existência uma obra de arte.

    Criar o nosso próprio tempo.Não ficar sendo esmagado pela demanda do outro, do algoritmo, da instituição... de qualquer relação de forças que não venha de dentro pra fora.

    Porque nós mesmos, cada um, somos um composto de forças, sempre em relação com tudo à nossa volta.

    Não é muito útil a esse império que a gente seja bem comportado, bons escravos? Atentos à hora do relógio, às regras de submissão?

    E não é mais útil ainda que a gente não se conecte com nossa força criativa de vida?

    Quem disse que o oposto da norma de conduta é a destruição total, o colapso da humanidade? Tá mais pro colapso do capitalismo!

    Então… é tomando caldo da cultura que a gente vai tentando respirar!

    Mas é preciso desconstruir essa falsa prancha de salvação que é esse eu, essa subjetividade serva do poder imperial.

    A gente é parte da natureza, com uma força de vida, que Bergson chama de élan vital (ou energia criadora) e que Nietzsche chama de vontade de potência. Esse sopro de vida em nós que está além da vaidade, da ganância, da acumulação… que tem alegria na diferenciação de si, na efetuação da existência.

    Não somos um eu, um sujeito com um cargo ou uma medalha. Somos muito além disso.

    Estamos presos na Matrix do capital, é verdade. Mas pra sair dela não precisa de pílula nenhuma. Basta usar o pensamento, encontrar o próprio tempo, se conectar com a existência dadivosa… a mesma que flui em um átomo, em uma planta… do lado de fora do círculo vicioso imperial.

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  • Niilismo Miguxo #4 - A Vida e a Arte na Criação de Si como Potência em Toda a Natureza, com Nietzsche e Deleuze
    2025/10/23

    Vamos com Nietzsche e o sentido da sua obra na filosofia da diferença.

    O ser humano é algo que precisa ser superado; cada um deve fazer o trabalho de si para chegar ao além-homem, além do bem e do mal.

    Isso porque somos todos naturalmente presos no pensamento sempre baseado na relação senhor-escravo.

    Mas, se chegamos a conquistar a liberdade de recolocar os problemas, que nos são impostos por outros, iniciamos o processo de criação de nós mesmos, agora a partir de um outro ponto de vista:

    O ponto de vista da nossa própria força -- e não mais aceitando as imposições que vêm de fora. Ou seja, criamos um meio de respeitar nosso próprio tempo, enquanto criamos a nós próprios.

    Assim, chegamos enfim a nos conectar com a nossa capacidade criativa na existência. Que está em toda a natureza.

    A capacidade de não mais obedecer ao problema imposto do outro, de um outro.

    Essa relação, no humano, se olharmos com uma "lupa", chegando ao granular, ao molecular, se mostra em duas vias: uma do poder, tirânico, e uma da potência, que é própria de tudo o que existe no cosmos.

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  • Niilismo Miguxo #3 - O Super Homem de Nietzsche Também Grita: "Vem, Meteoro!"
    2025/10/16

    Nietzsche diz, através de Zaratustra e outros textos: "O ser humano é algo que precisa ser superado".

    O quanto isso se relaciona com nossa "raiva", pela nossa própria espécie, que sentimos hoje, por sabermos que aniquilamos tudo por onde passamos?

    Muitos de nós dizemos que a praga da Terra e da natureza é o ser humano.

    E, há quase 2 séculos atrás, Nietzsche também se relacionou com esse sentimento: do bicho humano como algo desprezível, e que ainda se sente superior!

    Nosso problema não é só o aquecimento global, ou só as fake news, ou só o imperialismo midiático, guerras, ou o que quer que seja a notícia de aflição dessa semana.

    Nosso problema é não usar nossa plena capacidade de pensar. É sermos presos, escravos dos nossos afetos e das relações padronizadas pela cultura. O mais longo trabalho do humano sobre o humano.

    Nossa espécie dominou o mundo, mas não sem também dominar a si mesma. Vivemos em uma relação servil, de senhor-escravo, entre nós e com nós mesmos.

    O que é a consciência-padrão, senão o senhor interiorizado em nós? O poder imperialista que domina nosso corpo-território?

    Mas esse animal sapiens é também um produto da natureza. Não há distinção entre humano e natureza. A crítica não pode se tornar também refém da lógica despótica.

    É preciso chegar na necessidade de tudo ser como é. Não para se resignar, mas para criar formas de se compor com a realidade, de rearranjar os circuitos.

    Superar o humano, a condição humana inerente à nossa espécie, é fazer o trabalho de si, através de um uso pleno da nossa capacidade de pensar, de se movimentar.

    E Bergson, filósofo da diferença e ganhador do Nobel em 1927, que também estudou Spinoza e Nietzsche, aprofunda alguns erros-base da humanidade. Como o erro de acreditar que o verdadeiro e o falso estariam só nas soluções.

    Assim, aceitamos os problemas que nos são impostos; quando a verdadeira liberdade está em recolocar os problemas, em vez de apenas aceitá-los e aprofundá-los. Por mais erudita que seja uma resposta, se ela for dada a um falso problema, ela será também uma falsa solução.

    c tb axa q nohs somus hapenas sakinhus d karni replikantis? xD entaum vem pra k!

    Viver filosofia, juntas.

    Nietzsche, Spinoza, Bergson, Deleuze, mais umas, outras e nós.

    Bora mergulhar?

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    32 分