エピソード

  • França: dilema identitário e polêmica com bandeiras palestinas provoca ruptura entre judeus e esquerda
    2025/11/01
    Nesta edição da resenha semanal da imprensa francesa, Le Nouvel Observateur e L’Express revelam duas fraturas profundas na sociedade francesa atual: o afastamento entre judeus e partidos de esquerda após os ataques do Hamas de 2023, e a crescente tensão em torno da exibição de bandeiras palestinas - e israelenses - em prédios e espaços públicos na França. Os relatos expõem dilemas políticos, identitários e simbólicos que atravessam o país em pleno 2025. Dois anos após os atentados de 7 de outubro de 2023, que reacenderam o conflito Israel-Palestina, judeus franceses que historicamente se identificaram com a esquerda vivem um momento de ruptura. Segundo a revista Le Nouvel Observateur, o mal-estar ficou evidente em um evento na prefeitura de Paris, onde a senadora socialista Laurence Rossignol foi criticada por não endossar o gesto de seu partido de "hastear a bandeira palestina". Rossignol tentou lembrar que a luta contra o antissemitismo sempre foi uma bandeira da esquerda, citando Léon Blum. Mas foi interrompida por vozes da plateia do Parlamento que afirmaram: “Isso é passado!”. Uma participante resumiu o sentimento, entrevistada pelo veículo: “Nós, judeus de esquerda, estamos um pouco órfãos. Pela primeira vez, não sei em quem votar”. A revista destaca que o vínculo histórico entre judeus e esquerda está em crise. O presidente do Crif — Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França —, Yonathan Arfi, afirmou que o ataque do Hamas não foi apenas contra Israel, mas contra os judeus do mundo inteiro. “Nosso cotidiano mudou, vivemos com medo e solidão, e a esquerda não soube ouvir isso.” Para o historiador Jonas Pardo, o antissemitismo na esquerda representa uma "regressão inaceitável". O deputado Boris Vallaud reforçou à reportagem: “Ser socialista é ter o antissemitismo como inimigo”. A revista também ouviu intelectuais e militantes judeus que relatam dilemas íntimos entre identidade, história familiar e engajamento político. O advogado Arié Alimi, próximo da esquerda radical francesa, afirmou que sua militância não compreende "o vínculo entre identidade judaica e Israel". “Esse vínculo é parte da nossa identidade”, disse ele à L'Obs. Alimi estudou em Jerusalém e tem família no país, sublinha a revista. Leia tambémFrança: prefeituras içam bandeiras palestinas ou israelenses, desafiando neutralidade do serviço público Combate identitário Já L’Express aborda a tensão em torno da exibição de bandeiras em espaços públicos e privados. Após os ataques de 2023, algumas prefeituras hastearam a bandeira de Israel; outras, a da Palestina. Ambas as ações foram contestadas judicialmente. Em setembro de 2025, 86 cidades desafiaram a ordem do governo e exibiram a bandeira palestina no dia em que Macron reconheceu o Estado da Palestina. A revista relata o caso de Maria, jovem franco-libanesa que foi pressionada a retirar bandeiras do Líbano e da Palestina de seu apartamento em Paris. “Queria demonstrar apoio às vítimas civis dos bombardeios em Gaza e no sul do Líbano”, disse ela à revista. Segundo o cientista político François Foret, há um “retorno do uso simbólico das bandeiras”, mas a questão Israel-Palestina "é muito mais polarizada que outras". No cotidiano, o uso de bandeiras também gera hostilidade. Em Paris, pichações acusaram um morador de ser ligado ao Hamas. Um comerciante foi ameaçado por exibir uma bandeira israelense em sua loja. Arfi relata que muitos judeus escondem símbolos religiosos ou mudam seus nomes nas caixas de correio para evitar problemas. “Há uma vontade de discrição”, afirmou à L'Express. A revista publica que mesmo os síndicos evitam o tema em "reuniões de condomínio". Um gestor contou à revista que pediu a retirada imediata de uma faixa pró-Gaza em um prédio. “Não podemos correr o risco de conflitos.” Até mesmo a bandeira francesa pode gerar desconforto, em diversoso casos, relata L'Express. Em Plessis-Robinson, uma moradora reclamou da bandeira tricolor nacional. A tensão simbólica revela "feridas profundas e desafios democráticos", conclui o semanário.
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  • Joias roubadas do museu do Louvre podem ser desmontadas para revenda no mercado clandestino
    2025/10/25

    O roubo cinematográfico das joias da Coroa Francesa no museu do Louvre, em 19 de outubro de 2025, ganha uma grande cobertura na imprensa semanal francesa. As revistas Le Point e Télérama desta semana mergulharam nos aspectos históricos, simbólicos e operacionais do crime, revelando não apenas o que foi levado, mas o que esse ataque representa para a memória nacional e para a segurança dos museus.

    Paris amanheceu tranquila naquele domingo, mas terminou com um dos episódios mais audaciosos da história recente dos museus europeus. Um grupo de quatro homens invadiu a Galeria de Apolo do Louvre, quebrando vitrines e roubando oito joias da Coroa Francesa em apenas sete minutos. A operação, descrita como “cinematográfica” pela revista Le Point, envolveu o uso de serras elétricas e fuga em scooters.

    Segundo Le Point, o furto visou principalmente as joias da imperatriz Eugênia, esposa de Napoleão III. Entre os itens levados estão sua diadema, um broche relicário e um laço de corpete. A coroa, embora danificada, foi abandonada na fuga dos criminosos. A publicação destaca que, ao lado das peças da imperatriz Maria Luísa e da rainha Maria Amélia, o roubo abrange boa parte das joias das soberanas do século XIX, marcando uma perda irreparável para o patrimônio francês.

    A reportagem traça uma linha entre o esplendor do Segundo Império e a ostentação joalheira que marcou o período. Napoleão III, em busca de legitimidade, investiu em joias como forma de rivalizar com a monarquia britânica. Os joalheiros Lemonnier, Bapst e Kramer foram encarregados de criar peças que exaltassem o savoir-faire francês, como o laço de corpete de Eugênia, composto por 4.720 diamantes da Coroa e 70 pedras adicionais.

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    Alta rastreabilidade

    A Télérama, por sua vez, adota um tom mais crítico e reflexivo. A revista questiona o valor comercial das peças roubadas, destacando que, se os ladrões buscavam lucro, teriam feito melhor em atacar vitrines de grandes joalherias contemporâneas. As joias da Coroa, embora de valor histórico e simbólico inestimável, dificilmente serão revendidas no mercado clandestino — justamente por serem únicas e rastreáveis.

    A historiadora Capucine Juncker, especialista em joalheria, expressa forte preocupação com o destino das joias, em entrevista à Télérama. Para ela, o roubo não parece ter sido encomendado por um colecionador bilionário. Juncker teme que os ladrões desmontem as peças e vendam as pedras separadamente, apagando sua origem e valor patrimonial. “Essas joias não são apenas objetos de luxo. Elas contam a história da França, da Europa e da arte joalheira do século XIX”, afirmou.

    Ambas as revistas convergem em um ponto: o roubo não é apenas um ataque ao patrimônio, mas uma ferida aberta na memória nacional francesa. A Galeria de Apolo, palco do crime, é o mesmo cômodo por onde Eugênia fugiu em 1870, durante a queda do Império, na época em que o Louvre era um palácio. A ironia histórica não passou despercebida pela revista. Como conclui Le Point, “nada se perdia, tudo se transformava. Mas agora, quase tudo se perdeu.”

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  • Risco de ‘ingovernabilidade’ na França: revistas semanais alertam para ‘implosão’ do sistema político
    2025/10/18

    A crise política francesa atinge novo patamar, segundo as revistas semanais Le Nouvel Obs e Le Point. Para a primeira, a suspensão da reforma da Previdência não basta para sustentar o governo Lecornu 2, que opera sem maioria e sob tensão orçamentária. Já a Le Point defende que Emmanuel Macron antecipe sua saída em 2026, apesar do primeiro-ministro francês ter sobrevivido, na quinta-feira (16), a duas moções de censura no Parlamento, dias após propor a suspensão dessa reforma crucial de Macron.

    A crise política francesa ganhou novos contornos nesta semana, com as revistas Le Nouvel Obs e Le Point apontando o esgotamento do governo Lecornu 2 e o isolamento crescente do presidente Emmanuel Macron. Para os semanários, a "arquitetura do sistema político" do país estaria comprometida, apesar do premiê francês Sébastien Lecornu ter conseguido superar a moção de censura – por apenas 18 votos – na Assembleia Nacional dos deputados.

    Segundo Le Nouvel Obs, “a suspensão da reforma da Previdência, arrancada pelo Partido Socialista, talvez não seja suficiente para manter vivo o frágil governo Lecornu 2”. Sem o respaldo do artigo constitucional 49.3 – que permite aprovar leis sem votação parlamentar – e diante de uma Assembleia fragmentada, o Executivo tenta sobreviver em meio a tensões orçamentárias e disputas ideológicas.

    O chefe de governo anunciou medidas como a tributação de holdings utilizadas por ultrarricos e a suspensão da idade mínima para aposentadoria aos 64 anos até a próxima eleição presidencial. Mas, como alerta Le Nouvel Obs, “todos os temas em pauta; orçamento, taxação dos mais ricos, cortes na seguridade; são inflamáveis”.

    A presidência também enfrenta desgaste. Macron, segundo a mesma revista, “continuou a agir como um presidente todo-poderoso entre 2022 e 2024, mesmo sem ter mais os instrumentos para impor sua vontade — ou seja, a maioria absoluta no Parlamento”. A esquerda, fora do poder há quase uma década, ainda não conseguiu se consolidar como alternativa, e as alianças progressistas se fragmentam diante da ascensão da extrema direita.

    Saída antecipada de Macron?

    Já a revista Le Point vai além e sugere que Macron deveria organizar sua saída antecipada em 2026, um ano antes do final de seu segundo mandato. “O impasse político se tornou perigoso, para a economia e para as instituições”, afirma a publicação. A dificuldade de aprovar o orçamento e a sucessão de sete ministros da Educação em apenas três anos são sinais de um sistema em colapso. E mais: ao longo de seus dois mandatos, Macron nomeou sete primeiros-ministros, "um recorde sob a Quinta República", pontua.

    A revista questiona: “É razoável deixar esse fardo para o próximo presidente? E como fazer campanha nessas condições, apenas para permanecer alguns meses a mais no poder?”.

    Citando o economista francês que acaba de ganhar o Nobel, Philippe Aghion, Le Point propõe: “Se é preciso parar o relógio da reforma, por que não adiantar o da eleição presidencial?” A decisão, como disse De Gaulle após sua renúncia, pode ser “uma boa saída”, relembra Le Point. "Cabe a Emmanuel Macron escolher qual é a melhor para ele, e sobretudo para o país", conclui a revista.

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  • Revista francesa destaca avanço do câncer em pessoas jovens e especialista aponta causas ambientais
    2025/10/11

    Em meio ao aumento dos casos de câncer entre menores de 40 anos, a revista Nouvel Obs desta semana traz como matéria de capa a história do velejador francês Charlie Dalin, vencedor da competição de vela em solitário ao redor do mundo Vendée Globe, que revelou, em um livro, que estava em tratamento contra um câncer de intestino.

    Aos 40 anos, em fevereiro de 2025, Dalin venceu a competição conhecida como o “Everest dos mares”, devido à sua dificuldade, estabelecendo um recorde de 64 dias, 19 horas, 22 minutos e 49 segundos. Na época, “todos ignoravam que a façanha era ainda mais impressionante”, escreve a Nouvel Obs. “Porque, ao mesmo tempo em que enfrentava tempestades e depressões austrais no fim do mundo, ele lutava contra um câncer.”

    Durante a Vendée Globe, Dalin realizava tratamento imunoterápico contra um tumor gastrointestinal raro. Com a publicação de seu livro “La force du destin” (A força do destino, em tradução livre), o navegador pretende mudar o olhar do público sobre a doença.

    A revista também traz uma entrevista com Elie Rassy, médico responsável pelo programa de pesquisa do hospital de referência no tratamento do câncer na França, Gustave Roussy. Ele estuda as causas que favorecem o aparecimento da doença em pessoas na faixa dos 30 anos.

    O programa tem ainda o objetivo de desenvolver estratégias de prevenção e tratamentos personalizados. Isso porque, nessa faixa etária, como explica o especialista, os cânceres tendem a ser mais agressivos e menos sensíveis à medicação.

    O contexto de vida também é diferente: trata-se de “um momento em que construímos uma carreira, um percurso acadêmico ou pensamos em formar uma família”, diz Rassy. Além disso, o câncer nessa etapa costuma ser diagnosticado, na maioria dos casos, em estágio avançado, já que não há exames obrigatórios nessa idade — com exceção do de colo do útero.

    O British Medical Journal, citado pela Nouvel Obs, aponta um aumento de 79,1% no número de casos entre pessoas com menos de 50 anos, bem como de 27,7% nas mortes. O meio-campista do Bahia Éverton Ribeiro, que revelou nesta semana ter sido diagnosticado com câncer de tireoide, é um exemplo recente.

    Causas ambientais

    Rassy observa que nossos hábitos mudaram muito nos últimos 40 anos. “As hipóteses [para explicar o aumento dos casos] apontam para modificações no expossoma — o conjunto de fatores ambientais aos quais uma pessoa é exposta ao longo da vida: o ar que respira, os alimentos que consome, os produtos químicos, os micróbios, o estresse”, destaca.

    Entre os jovens adultos — como são chamados os pacientes entre 30 e 40 anos —, os cânceres mais comuns são os de mama, tireoide, pulmão, trato digestivo e rins.

    Embora muitos avanços tenham sido feitos nos tratamentos, ainda há muito a ser aprimorado para que deixem menos sequelas nos pacientes.

    A pesquisa desenvolvida no hospital Gustave Roussy também investiga os poluentes aos quais os pacientes foram expostos — como microplásticos, substâncias químicas e até metais pesados.

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  • Dor, memória e espionagem: revistas francesas avaliam as cicatrizes dos dois anos do ataque do Hamas
    2025/10/04
    Na semana que antecede os dois anos do ataque do Hamas a Israel, as revistas semanais francesas abordam as feridas abertas na comunidade judaica, o luto coletivo em Israel e os bastidores da cooperação entre os serviços secretos dos dois países. A grande rabina da França, Delphine Horvilleur, denuncia o silêncio imposto aos judeus críticos da guerra na Le Nouvel Obs. A filósofa Élisabeth Badinter alerta para o avanço do antissemitismo na Le Point, enquanto a L’Express revela segredos do Mossad, o serviço secreto de inteligência e operações especiais de Israel. Dois anos após o ataque do Hamas a Israel, a revista Le Nouvel Observateur publica uma entrevista com a rabina Delphine Horvilleur, que reflete sobre o trauma persistente entre judeus na França e em Israel. Ela denuncia a escalada do antissemitismo e a radicalização interna da comunidade judaica, além de criticar a resposta militar israelense. Horvilleur relata o impacto emocional do 7 de Outubro de 2023, que despertou nela memórias da Shoah, como é conhecido o Holocausto na França. Em meio ao luto e à perplexidade, ela afirma que o sonho de Israel como refúgio não pode se concretizar à custa da destruição de outro povo. A rabina também destaca o silêncio imposto a intelectuais judeus que se posicionam contra a guerra. Na entrevista à Nouvel Obs, ela relembra o gesto simbólico de convidar uma palestina para rezar ao seu lado no Yom Kippur. Horvilleur defende que o diálogo é essencial, mesmo em tempos de polarização extrema, e alerta para os riscos de uma sociedade que só se comunica por meio de slogans e agressões. Leia também“Antissemitismo surge com crise da virilidade”, diz rabina Delphine Horvilleur, best seller na França O legado de Robert Badinter e o luto israelense A revista Le Point homenageia Robert Badinter, que será incluído no Panteão francês no dia 9 de outubro, data da abolição da pena de morte, orquestrada por ele na França. Em entrevista, Élisabeth Badinter relembra os combates do marido e lamenta o clima atual na França. “Tudo parece ter que recomeçar, nossos valores se tornaram inaudíveis”, afirma. Ela denuncia a traição da esquerda francesa, que segundo ela passou a ocupar o lugar da extrema direita no debate sobre o antissemitismo. Badinter, que perdeu familiares em Auschwitz, temia o ressurgimento do ódio. “Pouco antes de morrer, ele disse: ‘É preciso estar pronto para partir na hora certa’”, revela Élisabeth. Na mesma edição, Le Point publica uma reportagem sobre o luto coletivo em Israel, uma "sociedade traumatizada". A comunidade vive em estado de espera pela libertação dos reféns e pelo fim da guerra, segundo o veículo, que reporta ainda que manifestações semanais em Tel Aviv exigem um acordo de paz. Enquanto isso, o número de mortos em Gaza ultrapassa 62 mil pessoas, e o cemitério militar israelense precisa ser ampliado pela quarta vez. Leia tambémMorre Robert Badinter, ícone dos direitos humanos e promotor do fim da pena de morte na França Espiões, tensão diplomática e cooperação estratégica A revista L’Express revela os bastidores da relação entre os serviços secretos de Israel e da França. Após o ataque do Hamas, o chefe da inteligência militar israelense buscou apoio da DGSE (Direção-Geral da Segurança Externa) em Paris. A França, com informantes em Gaza, tornou-se peça-chave na coleta de dados, enquanto Israel se vê fragilizado por depender da tecnologia. Apesar das tensões políticas, como a exclusão de empresas israelenses da feira Eurosatory e o reconhecimento do Estado palestino pelo presidente Emmanuel Macron, os laços de segurança entre os dois países permanecem sólidos. “O diálogo entre os serviços nunca foi interrompido”, afirma um especialista ouvido pela L’Express. A revista confirma que os diretores do Mossad e da DGSE se reuniram diversas vezes nos últimos meses, em Paris e Tel Aviv. Mesmo com ameaças diplomáticas, como o possível fechamento do consulado francês em Jerusalém, os dois países seguem trocando informações estratégicas sobre o Oriente Médio, o Hezbollah e o Irã. Entre o luto coletivo, os dilemas morais e os bastidores da segurança, as revistas nas bancas mostram que, dois anos após o ataque de 7 de Outubro, a questão israelo-palestina continua uma ferida aberta na França e no mundo, capaz de moldar o futuro político da região.
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  • 'Futuro Estado da Palestina, e agora?': revistas francesas se dividem entre avanço diplomático ou erro tático
    2025/09/27
    O tema do reconhecimento do Estado da Palestina por países ocidentais, liderados pela França, marca uma virada diplomática no conflito israelo-palestino. Segundo a revista francesa Le Nouvel Obs, Macron celebra uma “vitória histórica”. A L’Express vê o início de uma nova arquitetura regional. Já o filósofo francês Bernard-Henri Lévy, na semanal Le Point, alerta para o risco de legitimar o Hamas e aprofundar o isolamento de Israel. Três visões, um impasse. Segundo a revista semanal Le Nouvel Obs, o presidente francês, Emmanuel Macron, cumpriu a promessa de liderar um movimento coletivo de reconhecimento do Estado da Palestina à margem da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. A publicação descreve o momento como "carregado de simbolismo", com aplausos vindos sobretudo de países árabes e a delegação saudita “de pé como uma só pessoa”. O assento israelense, por sua vez, permaneceu vazio em sinal de protesto, observa a Nouvel Obs. A revista destaca ainda que Paris buscou ampliar o apoio internacional à iniciativa, citando países como Reino Unido, Canadá, Austrália, Bélgica e Portugal, além de pequenos Estados europeus. Os Estados Unidos, por outro lado, endureceram sua posição: “suspenderam os vistos da Autoridade Palestina”, impedindo Mahmoud Abbas de viajar a Nova York, aponta o veículo. A publicação relata que, dias antes do discurso, uma comissão independente da ONU concluiu que Israel teria “intenção de destruir os palestinos em Gaza, conforme definido pela Convenção sobre o Genocídio”. Macron, ao ser questionado pela emissora CBS, respondeu que “cabe aos juízes ou aos historiadores qualificar um genocídio com base em provas e jurisprudência”. Para a Le Nouvel Obs, essa inflexão contrasta com a reação de setores que apoiam o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que rejeitam qualquer balanço de vítimas e se recusam a reconhecer que, para cada morto israelense, já há dezenas de palestinos sob os escombros. A revista francesa L’Express descreve o reconhecimento do Estado da Palestina como um ponto sem retorno. Uma fonte europeia ouvida pela publicação resumiu com ironia: “Reconhecer um Estado é como perder a virgindade, não há volta.” Para o semanário, o dia 22 de setembro marca uma virada no conflito israelo-palestino, com impactos diplomáticos imediatos. Israel cada vez mais isolado Segundo L’Express, Israel está “cada vez mais isolado” e conta apenas com o apoio dos Estados Unidos para manter sua ofensiva em Gaza. A revista aponta que esse novo cenário pode inaugurar um processo diplomático inédito. O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Noël Barrot, afirmou à publicação que o documento apresentado é “o mais ambicioso sobre o conflito desde os Acordos de Oslo, há 30 anos, ou a iniciativa árabe de paz, há 20”. Barrot também destacou que se trata da “primeira condenação oficial do Hamas pela comunidade internacional” e da “primeira manifestação clara do desejo dos países árabes de uma integração regional com Israel e com o futuro Estado da Palestina”. Para o ministro, “uma nova página começa a ser escrita” — e L’Express reforça que esse gesto diplomático pode redesenhar os equilíbrios no Oriente Médio. Um erro? No entanto, no editorial publicado pela revista Le Point, o filósofo francês Bernard-Henri Lévy afirma que o reconhecimento do Estado da Palestina neste momento é uma “ideia funesta”. Embora defenda há décadas a solução de dois Estados e tenha participado de fóruns de diálogo, ele considera que “se houve um único momento em que esse reconhecimento não deveria ocorrer, é agora”. Segundo Lévy, a decisão pode ser interpretada como uma vitória política do grupo Hamas, mesmo diante das atrocidades cometidas em 7 de outubro. Ele alerta que, para muitos palestinos, o gesto internacional pode parecer “um milagre” que legitima “um movimento radical e sem concessões”, eclipsando a Autoridade Palestina, descrita como “envelhecida e corrupta”. A Le Point destaca ainda que Lévy vê duas urgências reais: libertar os 48 reféns ainda mantidos em túneis e interromper a guerra. Ele argumenta que, após o reconhecimento, “não há mais incentivo para negociação” por parte dos sequestradores, e que Israel, “traído por seus aliados e tomado pela vertigem do isolamento”, pode intensificar sua ofensiva. “Aspiro à paz com toda minha alma”, conclui o filósofo, “mas não a essa paz. Não desse jeito”.
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  • Revista francesa traça perfil de Alexandre de Moraes, o 'xerife da democracia' brasileira
    2025/09/20

    Referência entre o público francês para análises políticas e sociais, a revista semanal Le Nouvel Obs traz nesta semana um perfil do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Figura central no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, Moraes é retratado como "um magistrado inflexível", cuja atuação se tornou símbolo da resistência institucional à erosão democrática no Brasil, um verdadeiro "xerife da democracia" no país.

    O Nouvel Obs traça, em dez pontos, o perfil do ministro Alexandre de Moraes, destacando sua atuação no julgamento de Jair Bolsonaro. Segundo a revista, o magistrado brasileiro “descreveu, durante cinco horas e sem consultar suas anotações, a organização criminosa liderada por Bolsonaro e seus aliados”.

    Apelidado de “Batman” nas redes sociais, Moraes é apresentado como o juiz mais visível — e também o mais criticado — do país, diz a revista. A semanal relembra episódios emblemáticos, como o bloqueio do aplicativo Telegram em 2021, e a ofensiva verbal de Elon Musk, que o classificou como um “ditador diabólico”.

    A publicação francesa ressalta que Moraes ingressou na magistratura aos 23 anos e, desde os anos 2000, passou a ser notado e cortejado pelas elites paulistanas. “Jurista renomado, suas ideias alinhadas à direita fizeram dele um líder pronto para a política”, afirma o veículo.

    O perfil também recorda sua passagem pelo Ministério da Justiça, entre 2016 e 2017, durante o governo Michel Temer. À época, era visto como uma “pedra no sapato da esquerda” — imagem que se transformou com a chegada de Bolsonaro ao poder, em 2019, quando Moraes passou a ser considerado um “super-herói” pelos progressistas.

    "Ombros de lutador"

    Com “maxilar definido e ombros de lutador”, Alexandre de Moraes cultiva sua imagem pessoal com o mesmo rigor que aplica em suas decisões judiciais, observa Le Nouvel Obs. A revista relembra o episódio em que o ministro foi fotografado exibindo o dedo do meio durante uma partida de futebol — gesto que teria ocorrido pouco depois de o presidente Donald Trump revogar seu visto de entrada nos Estados Unidos.

    Aos 56 anos, Moraes tem mandato no Supremo Tribunal Federal até 2043, o que, segundo a publicação, garante-lhe “uma longa influência sobre a vida política brasileira”.

    Figurinha carimbada na imprensa francesa

    Esta não é a primeira vez que Alexandre de Moraes vira manchete na imprensa francesa. No dia 10 de setembro, a revista Les Echos também traçou o seu perfil, dizendo que "o juiz que derrubou Bolsonaro afirma que 'houve, sim, um golpe de Estado' no Brasil".

    No dia 8 de setembro, o jornal Le Figaro titulou "Alexandre de Moraes, o todo-poderoso juiz brasileiro que liderou a batalha judicial contra Jair Bolsonaro". "Enquanto o ex-presidente brasileiro acaba de ser condenado a 27 anos de prisão em seu julgamento por tentativa de golpe de Estado perante a Suprema Corte, os olhos se voltam para um magistrado, conhecido por sua intransigência, que se tornou alvo de Donald Trump", publicou o diário francês.

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  • França: livro revela custo bilionário de 'presentes' de Macron para os ricos em oito anos de poder
    2025/09/13

    € 270 bilhões de apoio às empresas, sem contrapartida, e subsídios fiscais para os mais ricos: este é o valor total dos “presentes" do presidente Emmanuel Macron à elite econômica do país, conforme revelações de um livro de investigação publicado esta semana na França.

    Os autores, dois jornalistas da revista Le Nouvel Obs, afirmam que a política “pró-business” do presidente desestabilizou o modelo social e pesou sobre a dívida pública francesa, estopim de mais um capítulo da crise política no país.

    “O Grande Desvio – como milionários e multinacionais captam o dinheiro do Estado” é o título da obra (em tradução livre do original em francês). Baseados em relatórios de instituições como Tribunal de Contas e a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), os autores, Matthieu Aron e Caroline Michel-Aguirre, analisam em detalhes “o buraco negro” da política de subvenções e subsídios fiscais que beneficiaram as grandes empresas e fortunas nos últimos oito anos, desde que Macron assumiu o poder.

    Redução dos impostos das sociedades e da produção, diminuição dos encargos sociais, teto da contribuição sobre a renda do capital e substituição do Imposto sobre a Fortuna por uma taxa focada apenas na "fortuna imobiliária” são algumas das medidas que favoreceram os ricos nos últimos anos – e sem que houvesse uma avaliação eficaz sobre os benefícios dessa política para a economia francesa, denuncia a obra.

    “O sistema de ajuda incondicional enriqueceu multinacionais que continuam a deslocar as linhas de produção para o exterior e entregam cada vez mais dividendos para seus acionários”, diz o livro, segundo resenha publicada na revista L’Obs. Entre os beneficiados, estão gigantes como Michelin e o império do luxo LVMH.

    Retorno da política pró-business é questionado

    Neste período, o desemprego baixou a 7%, mas a França não atingiu o pleno emprego, como prometeu Macron. As exonerações resultaram em € 80 bilhões a menos de arrecadação por ano, quase o dobro do valor previsto no plano de economias apresentado pelo ex-primeiro-ministro centrista François Bayrou, que acaba de deixar o cargo.

    Em paralelo, a edição desta semana da revista Le Point calcula quanto custa a instabilidade política na França, que acaba de conhecer o seu quarto chefe de governo em pouco mais de um ano. Segundo a publicação, a crise gerada pela dissolução da Assembleia Nacional por Macron, em junho de 2024, já gerou um prejuízo de € 12 bilhões para o país.

    Os juros para títulos do Estado francês agora estão no mesmo patamar da Itália, e a insegurança fez os investimentos desacelerarem, o consumo cair e o nível e a poupança subir. Resultado: a crise fez o país perder 0,1 ponto de PIB em 2024 e 0,3 neste ano, conforme os cálculos do Observatório Francês de Conjuntura Econômica (OFCE), citados pela Le Point.

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