エピソード

  • Jau celebra retorno a Paris na Lavagem da Madeleine ao lado do Olodum
    2025/09/12

    A Lavagem da Igreja de la Madeleine, a maior festa popular afro-brasileira de Paris, acontece no próximo domingo (14). Neste ano em que a França e o Brasil comemoram 200 anos de relações diplomáticas, o cortejo de blocos de percussão e baianas será puxado pelo Olodum e terá participação do cantor baiano Jau.

    O reencontro de Jau com o Olodum na festa popular ganha contornos ainda mais simbólicos, pois foi com o grupo que ele iniciou sua trajetória musical.

    “Eu comecei minha carreira no Olodum, já viajei o mundo inteiro com eles. Ter a oportunidade de dividir o palco da Madeleine com o Olodum é sensacional. Estou em casa, com os amigos, com a banda que é o meu útero e que me pariu”, afirmou o cantor em entrevista à RFI.

    Nesta 27⁠ª edição da Lavagem de la Madeleine, Jau será acompanhado por uma banda base de cerca de oito músicos, que também tocarão com outros artistas convidados, como Armandinho Macêdo e Robertinho. Segundo ele, tudo está ensaiado e preparado para uma apresentação vibrante: “Está tudo muito lindo para a gente fazer uma entrega maravilhosa.”

    Mais do que uma performance musical, a Lavagem da Igreja de la Madeleine representa, para Jau, uma oportunidade de diálogo cultural. Ele destaca a abertura da França à cultura afro-brasileira, afro-baiana e a muitos países do continente africano, como Senegal e Costa do Marfim.

    “A França talvez seja o país europeu que mais abre as portas para a cultura afro. Não só a afro-brasileira, mas também uma abertura gigante para a cultura dos países africanos. A França talvez seja o país europeu que mais abra as portas para essa cultura afro-mundial”, afirma.

    Após a apresentação em Paris, Jau segue para Lisboa, onde participa de outro evento cultural, antes de retornar ao Brasil. Lá, ele continua envolvido em projetos como o “Pôr do Jau”, que percorre o país com shows ao pôr do sol, e gravações audiovisuais no Pelourinho, exaltando a beleza e a força da música baiana.

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  • ONU aos 80 anos: encruzilhada entre relevância global e soberania nacional
    2025/09/09

    A Organização das Nações Unidas (ONU) vive um momento crítico em sua trajetória. Ao completar 80 anos, a instituição enfrenta uma crise multifacetada que envolve desafios financeiros, estruturais e de identidade. Segundo a professora Tânia Mansur, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, o programa de reformas internas da ONU representa uma “tarefa bastante complexa”.

    Patrícia Moribe, em Paris

    Para enfrentar esses desafios, a ONU lançou a iniciativa "ONU80", um ambicioso programa de reformas com o objetivo de racionalizar suas operações, ampliar seu impacto e reafirmar sua relevância em um mundo em constante transformação.

    A professora da UnB identifica um "momento de virada" para a organização, especialmente desde a década de 1990, que exige uma redefinição de seus papéis. Isso levanta questões importantes, como “qual será a participação do Brasil nesse novo contexto?” e “qual o futuro das Nações Unidas?”.

    Além dos desafios políticos e conceituais, a ONU enfrenta uma grave crise financeira e estrutural. Em 2024, a instituição registrou um déficit orçamentário de US$ 859 milhões, com apenas 112 dos 193 países-membros em dia com suas contribuições – incluindo a inadimplência dos Estados Unidos, seu maior financiador histórico. Diante desse cenário, o secretário-geral António Guterres foi obrigado a congelar contratações e adotar medidas rigorosas de contenção de gastos.

    Tarefa complexa

    Para Mansur, reformar a ONU é uma tarefa complexa, pois exigiria a anuência de atores com interesses profundamente divergentes – algumas vezes “inimigos viscerais” –​​​​​,​​ o que levanta dúvidas sobre a viabilidade técnica dessas negociações. Ela ressalta que a ONU é uma estrutura gigantesca, com 15 agências especializadas, além de diversos programas, fundos e escritórios, o que torna difícil imaginar soluções simples. Segundo ela, é necessário mais “clareza”, “responsabilização” (accountability) e “agilidade no processo decisório”.

    A iniciativa "ONU80" busca justamente esses objetivos: melhorar a eficiência interna, revisar mandatos e promover mudanças estruturais. No entanto, essas propostas têm gerado preocupações internas. Estimativas não oficiais apontam para a possível eliminação de cerca de 2.000 funcionários em Genebra e até 7.000 no secretariado global. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), por exemplo, já confirmou o corte de 3.500 postos de trabalho em todo o mundo.

    Para o governo brasileiro, segundo Mansur, as soluções passam pela “negociação” e por uma “mudança na visão do que é o poder mundial”. Ela também destaca que, historicamente, ações de “solidariedade” e “ajuda humanitária” nas relações internacionais carregam elementos de influência estratégica (soft power) e interesses específicos, nem sempre motivados apenas por altruísmo. Essa compreensão exige atenção especial aos modelos e formatos de atuação da ONU, para garantir que a organização continue relevante e eficaz.

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  • Lavagem da Madeleine 2025: Paris se rende à força da cultura afro-brasileira
    2025/09/09

    Entre os dias 9 e 14 de setembro, Paris será tomada pelo espírito da Bahia. A 24ª edição da Lavagem da Madeleine, criada pelo artista baiano Roberto Chaves, promete ser a maior já realizada na capital francesa. Mais do que um ritual, o evento é uma celebração da ancestralidade, da fé e da inclusão – e este ano, ganha ainda mais força por integrar as comemorações dos 200 anos das relações diplomáticas entre Brasil e França.

    A força da batida do Olodum, liderado pelo cantor e compositor Jau, animará o cortejo no domingo. “Essa edição é especial porque a Lavagem foi colocada como carro-chefe da programação oficial do ano do Brasil na França. A França inteira está sabendo que a gente existe”, comemora Chaves, conhecido carinhosamente como Robertinho.

    Apesar de ocorrer em um país laico, o ritual da lavagem das escadarias da Igreja da Madeleine, no 8° distrito de Paris, tem conquistado os parisienses. “Os franceses vão pela cultura, pela alegria, mas muitos também vão pela fé. Já ouvi histórias de cura, de encontros, até de casamentos que nasceram ali”, conta o artista.

    A cerimônia mistura elementos do candomblé e do catolicismo, com baianas jogando água de cheiro e fiéis abraçando o padre e o pai de santo. “Cada um interpreta à sua maneira. Uns veem Santa Madalena, outros os orixás. O importante é que a fé move montanhas”, diz Chaves.

    A programação começa nesta terça-feira (9), com uma cerimônia fechada ao público na Embaixada do Brasil. O momento será dedicado à entrega de medalhas e honrarias a voluntários, empresários e instituições que, ao longo dos anos, contribuíram para a realização da Lavagem – muitas vezes sem contar tempo, esforço ou recursos. “São pessoas que carregam esse evento nas costas. É justo que recebam esse reconhecimento”, diz o artista.

    Cultura e resistência

    A Lavagem também assume seu papel pedagógico com um colóquio universitário sobre os afro-atlânticos, o patrimônio imaterial e a ancestralidade como eixo de resistência no anfiteatro da Universidade Nouvelle Sorbonne, na quarta-feira (10). A proposta, segundo Chaves, é reafirmar que o evento não se resume à festa: “A Lavagem é uma manifestação cultural pela paz, pela reparação, pela inclusão. Não é Carnaval de rua.”

    No dia 11, o escritor Antônio Cansado lança seu livro “O Menino que Sonhava com Pão de Queijo”, celebrando a força da narrativa pessoal como instrumento de resistência e identidade. Já no dia 12, o palco será do músico Armandinho Macedo, filho do idealizador do trio elétrico e da guitarra baiana. Em apresentação no Bellucci’s Bar, ele representa, segundo Chaves, “a alma do Carnaval da Bahia, a revolução sonora que mudou o Brasil”.

    No sábado (13), estão previstas oficinas gratuitas de samba, lambada e samba-reggae. Os workshops, já lotados, funcionam como aquecimento para o cortejo, conectando corpo e espírito à vibração brasileira. “É o esquenta da alma”, resume Chaves.

    O ápice da celebração acontece no domingo (14). Às 10h, o público se reunirá na Praça da República, em Paris. "Todos vestidos de branco, em um gesto simbólico pela paz mundial", destaca. A concentração será animada por um DJ brasileiro e pela banda de Robertinho, culminando com a chegada triunfal do grupo Olodum, liderado por Jau. “É o grupo mais mediatizado da cultura afro no mundo. Recebê-los é um gesto de respeito à nossa história”, ressalta.

    Apoteose e homenagens

    Às 11h, o animado cortejo, embalado pelos ritmos das batucadas e maracatus, a ginga da capoeira e a ala das baianas, seguirá em direção à Igreja da Madeleine. O ritual na escadaria da igreja será celebrado pelo padre da paróquia e o babalorixá Pai Pote, do terreiro Ilê Axé Ojú Onirê de Santo Amaro da Purificação. “A Lavagem é isso: um gesto de amor, de tolerância, de aceitação das diferenças”, enfatiza o baiano radicado na França.

    Na porta da igreja, duas mulheres serão homenageadas: a jornalista negra Wanda Chase, responsável por divulgar o evento no Brasil, e a cantora Preta Gil, primeira madrinha da Lavagem, ambas falecidas em 2024. “Elas deixaram um legado muito importante que não será esquecido. Vamos cantar por elas”, promete Chaves.

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  • 'Queremos um governo de esquerda que defenda justiça fiscal e social', diz deputada socialista
    2025/09/06

    Em meio à instabilidade que marca a política francesa desde a dissolução da Assembleia Nacional em 2024, o Partido Socialista (PS) se apresenta como uma alternativa viável para liderar um novo governo, caso o atual primeiro-ministro seja derrotado na votação de confiança marcada para esta segunda-feira (8).

    Em entrevista à RFI, a deputada socialista franco-brasileira Céline Hervieu, representante de Paris, confirmou que o partido está interessado em uma eventual participação no próximo governo, mas com condições claras. “Não queremos entrar num governo da direita para ser fiador de uma política que não representa nossos valores. Queremos um governo de esquerda de verdade, que defenda os mais vulneráveis, a justiça social e fiscal, e enfrente os problemas climáticos e de desigualdade”, afirmou.

    Desde as eleições legislativas de 2024, a Nova Frente Popular – coalizão de partidos de esquerda – obteve a maioria dos votos, mas não conseguiu chegar ao poder Executivo. Segundo a deputada, o presidente Emmanuel Macron ignorou o resultado das urnas ao nomear um governo que não refletia a vontade popular. “O presidente fez uma escolha diferente, não respeitou o resultado das eleições. Isso nunca aconteceu antes”, criticou.

    A crise se agravou com a proposta do atual primeiro-ministro, François Bayrou, de centro, de cortar € 44 bilhões do orçamento de 2026, medida que visa conter o déficit público e reduzir a dívida nacional. Para os socialistas, essa política de austeridade é insustentável. “Essa lógica vai desgastar ainda mais os nossos serviços públicos, os hospitais, as creches, as casas de repouso. E ainda querem que os franceses trabalhem mais tempo, sem ganhar mais”, denunciou a parlamentar.

    Como alternativa, entre outras propostas, o PS propõe uma economia de € 14 bilhões por meio da revisão de subsídios ineficazes às empresas e da redução de gastos com ex-políticos e agências pouco transparentes. “A França gasta bilhões de euros por ano ajudando empresas sem contrapartida. Podemos economizar sem pesar nas costas de quem já paga muito”, explicou.

    Sem maioria, socialistas apostam em compromissos parlamentares

    Apesar da disposição do PS em formar um governo de compromisso, a conta no plenário não fecha. Mesmo com o apoio dos ecologistas, comunistas e parte do bloco presidencial, o número de deputados ainda não alcança os 289 votos necessários para garantir a maioria na Assembleia Nacional. Questionada sobre essa limitação, a deputada reconheceu o desafio, mas defendeu uma abordagem pragmática.

    “Estamos prontos para encontrar maioria com todos que acreditam que os esforços devem ser compartilhados de forma justa”, afirmou. Ela citou como exemplo o apoio suprapartidário à proposta do imposto Zucman, já aprovada no Parlamento, como sinal de que é possível construir consensos pontuais. “Podemos encontrar maioria com parlamentares que colocam o interesse do país acima do seu próprio interesse político. Pode ser da esquerda, pode ser da direita”, disse.

    A deputada também garantiu que, caso o Partido Socialista assuma o governo, não recorrerá ao artigo constitucional 49-3 que permite aprovar o orçamento sem votação. “Nós não iremos utilizar esse mecanismo. Isso significa que seremos forçados a fazer concessões com os outros partidos. E estamos prontos para isso”, afirmou.

    Sobre o risco de novas eleições antecipadas, ela reconheceu o impacto do calendário eleitoral, com a eleição presidencial marcada para 2027 e as municipais no ano que vem. No entanto, ela acredita que o momento exige maturidade política. “Os franceses esperam que a classe política seja capaz de tomar boas decisões para o bem do país. Precisamos de responsabilidade e de uma direção justa”.

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  • Anna Suav traz a força do hip-hop amazônida para festival em Marselha
    2025/09/05

    No Dia da Amazônia, celebrado neste 5 de setembro, a rapper manauara Anna Suav faz sua estreia internacional no palco do Festival Trópicos de Verão, em Marselha, no sul da França. A artista, que nasceu em Manaus e vive em Belém, é uma das vozes mais potentes da cena afro-amazônida e leva ao palco europeu uma estética sonora e visual que denuncia injustiças, celebra identidades periféricas e transforma narrativas sobre a Amazônia, revelando sua complexidade urbana, cultural e ancestral.

    “É a primeira vez que saio do Brasil, e logo para um país que sempre sonhei conhecer”, conta Anna, emocionada. Estrear justamente no Dia da Amazônia, diz ela, tem um simbolismo muito forte. “Acho que cada vez mais o mundo está entendendo o quanto a gente precisa comunicar e denunciar o que acontece na Amazônia. Usar meu trabalho, minha arte e o hip-hop, que é também um movimento ideológico, para ocupar esse espaço é uma responsabilidade enorme, mas também um propósito do meu trabalho.”

    Com letras que abordam racismo, machismo, xenofobia e a realidade das periferias amazônicas, Anna Suav vê no rap uma ferramenta de transformação. “O DNA do hip-hop é denunciativo. É sobre dar voz às pessoas que vivem à margem, não por serem marginais, mas por serem excluídas. Meu compromisso com o movimento é iluminar essas questões e provocar micro revoluções.”

    A relação com o hip-hop começou cedo, ainda na infância, mesmo sem saber nomear o estilo. “Eu achava incrível as batidas, o flow. Depois, na juventude, fui às batalhas de rima e entendi que aquilo era rap. Fez todo sentido, porque reunia todos os elementos dos quais faço parte: juventude, negritude, periferia. Foi assim que me tornei rapper.”

    Ode à Amazônia urbana

    Recentemente, Anna lançou o single “Barril 092”, que marca uma nova fase em sua carreira. A faixa é uma ode à Amazônia urbana, conectando Manaus e Belém por meio de referências culturais como o Boi Bumbá de Parintins, o Forró de Galeroso e símbolos da gastronomia local, como o dindim, geladinho que em alguns lugares é chamado de sacolé e em outros de chope (ou chopp). “Queríamos mostrar que as periferias têm linguagem própria, sotaque, vestimenta. E fazer isso sem estereótipos, dentro da cultura hip-hop.”

    Enquanto mulher preta, amazônida e LGBTQIA+, Anna encontra no território sua maior fonte de inspiração. Sua arte nasce da vivência e da urgência de transformar realidades. “Essa música é sobre não esperar a validação de ninguém para existir, para sonhar alto ou pra conquistar o que é meu. É sobre ambição sim, mas uma ambição que nasce da vontade de mudar minha realidade e abrir caminho para quem vem junto”, afirma a artista, que também assina a composição e a direção criativa do clipe.

    O videoclipe de "Barril 092" traz uma estética pop vibrante, influenciada por divas da disco music e pela formação de Anna como bailarina. “Meu pai me alfabetizou musicalmente com cultura pop. Isso atravessa meu trabalho, minha estética, minha forma de comunicar.”

    Reconhecimento

    Reconhecida pela Academia Latina da Gravação como uma das dez rappers femininas que estão dando nome ao hip-hop brasileiro, Anna celebra o destaque da região Norte. “Esse reconhecimento carimba nosso percurso. Ainda passamos por esse aspecto da xenofobia dentro do Brasil, por uma região ainda considerada muito isolada, muito distanciada do restante do Brasil. Quando é o Brasil que está distanciado da gente. É importante que a diversidade brasileira seja contemplada, que se lembrem da nossa intelectualidade amazônida, da nossa inteligência ancestral.”

    Após o show em Marselha, Anna segue para Paris, onde se apresenta no dia 12 de setembro. Depois, retorna à cidade para uma roda de conversa sobre produção artística e audiovisual na Amazônia. A turnê se encerra em Portugal, com apresentações na cidade do Porto nos dias 20 e 21.

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  • Em 100 fotografias, livro revela conexões globais da América Latina desde o período pré-colonial
    2025/09/04
    Um continente marcado por revoluções, trocas culturais e conexões globais ganha nova leitura no livro "História da América Latina em 100 fotografias", do historiador e jornalista Paulo Antonio Paranaguá, lançado neste mês de setembro pela editora Bazar do Tempo. A obra, construída como um mosaico de 100 fotografias, percorre desde o passado pré-colombiano até os dias atuais, revelando momentos decisivos e figuras emblemáticas que moldaram a região. “As histórias se escreveram na América Latina a partir do século 19 para justificar os países independentes, com fronteiras muito aleatórias. Essas histórias estão voltadas para si mesmas e não tratam das relações na região, e às vezes não tratam sequer das relações entre esses países e o resto do mundo”, afirma o autor, ao explicar o ponto de partida de sua pesquisa. Paranaguá defende que a evolução da América Latina precisa ser contada como uma história conectada, que reconheça a relação triangular permanente com Europa, Estados Unidos e uma relação forçada com a África, além de uma conexão menos conhecida com a Ásia desde o período colonial. "É importante abordar a história da América Latina em termos de história comparada, de história global, de uma história conectada entre esses países e outras regiões do mundo", sublinha. A escolha das fotografias não seguiu uma cronologia tradicional. Paranaguá recorreu a registros dos descobrimentos arqueológicos do século 19 e início do século 20 para lembrar ao leitor que a história da região começou muito antes da invenção da fotografia. "Nossa história começou com os olmecas, os astecas, os incas, os guaranis", destaca. “Isso dá uma outra perspectiva histórica para o livro”, explica. A curadoria das imagens foi um dos maiores desafios. “Enquadrar um período tão amplo em apenas 100 imagens foi terrível. Às vezes choro com tudo o que tive que deixar de fora”, confessa. Produtos como o café e o cacau estão presentes por sua importância econômica, cultural e social, mas o tabaco, por exemplo, ficou de fora – uma ausência que Paranaguá lamenta com humor: “Afinal de contas, eu adoro charutos”. Entre guerras e diversidade O livro não ignora os episódios dramáticos da história política e institucional da América Latina, como guerras e revoluções. Mas Paranaguá faz questão de destacar que a região é também marcada por uma diversidade cultural, social, étnica e religiosa espantosa. “A fotografia já é uma história cultural. Ela amplia o espectro. Não podemos tratar a evolução da região apenas com base em batalhas e golpes. É preciso ir mais longe”, defende. Com textos curtos e linguagem acessível, o livro busca dialogar com um público amplo, especialmente os jovens. “Tenho uma formação acadêmica sólida, mas trabalhei a vida inteira como jornalista. Aprendi que me dirijo ao público em geral, não à panelinha de professores ou estudantes que querem ser cada um mais genial do que o outro. Isso não me interessa”, afirma. Apesar da leveza na forma, o conteúdo é denso e revelador. “Os conhecedores da América Latina vão descobrir imagens que não conhecem, aspectos para os quais talvez não tenham dado a devida relevância”, garante. A motivação maior, segundo ele, é a transmissão de conhecimento às novas gerações. “Pensei nos meus sobrinhos, no meu filho... essa geração que não teve a ocasião de estudar a América Latina, que é a região do mundo na qual nós estamos inseridos. Nós fazemos parte dela.” Cartões postais, cabeças reduzidas e a guerra das imagens Ao mergulhar em arquivos e mercados de antiguidades, Paranaguá descobriu registros fotográficos que o surpreenderam, mesmo após mais de cinco décadas dedicadas ao estudo da América Latina. Uma das descobertas mais marcantes foi uma série de cartões postais produzidos pelas missões salesianas em 1937, em Lyon, com imagens da África, da Ásia e da América Latina. “Achei imagens sobre o Mato Grosso e várias sobre o Equador. Algumas mostravam o trabalho dos missionários em saúde, ensino, construção de pontes. Outras revelavam aspectos da vida dos indígenas equatorianos, como a maloca e, curiosamente, as cabeças reduzidas dos chamados jívaros – que na verdade são os shuar”, conta. Os shuar ficaram conhecidos por uma prática ritual que consistia em reduzir a cabeça de seus inimigos, como uma maneira de impedir que seus espíritos revidassem. A imagem das cabeças reduzidas, reproduzida no livro, revela mais do que um costume ancestral: expõe o olhar europeu sobre os povos originários. “Para o olhar europeu, é a prova de que os índios são bárbaros e precisam ser evangelizados. Isso faz parte de uma verdadeira guerra das imagens", aponta o autor. A colonização não foi só obra de soldados, mas também de evangelizadores e de uma produção simbólica que moldou a visão ...
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  • 'Nova política de vistos reflete exclusão', afirma advogada especializada em imigração nos EUA
    2025/09/03

    As novas exigências da administração de Donald Trump para a emissão de vistos de viagem aos Estados Unidos entraram em vigor na terça-feira, 2 de setembro. Segundo a advogada Flavia Santos Lloyd, especialista em direitos dos imigrantes, o endurecimento das medidas de admissão no país revela, talvez, "a mentalidade de que nem todas as pessoas devem vir para os Estados Unidos".

    Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles

    A principal mudança a partir deste mês de setembro é que todos os cidadãos de países que precisam de visto, incluindo os brasileiros, deverão agendar uma entrevista presencial com um oficial consular, inclusive os menores de 14 e os maiores de 79 anos, que eram dispensados até agora.

    Desde junho, o Departamento de Estado americano passou a solicitar para quem pedisse vistos de estudante e intercambista, manter públicas suas contas das redes sociais, “a fim de facilitar a verificação necessária”.

    “Nós estamos vivendo um momento nacionalista, em que o interior dos Estados Unidos é considerado mais importante do que outros países e do que as relações com outros países. Então, essa movimentação do Departamento de Estado é completamente consistente com a política interna e externa do governo americano”, diz Flavia Lloyd.

    "O valor maior do visto, o fato de as pessoas terem que ir para entrevistas, abrir a rede social e, se não estiver aberta, o caso não será aprovado, é uma movimentação de exclusão. Talvez a mentalidade seja que nem todas as pessoas devem vir para os Estados Unidos", pontua a advogada.

    Posições políticas pesam em decisões de seleção

    Com 23 anos de atuação na área de direito de imigração na Califórnia, Flavia Lloyd está preocupada com a atividade digital dos brasileiros, que estão habituados a manifestar livremente suas opiniões políticas nas redes sociais. Em um memorando publicado em julho, o Departamento de Estado americano, que é responsável pelos consulados e pelas embaixadas, informou sobre as novas diretrizes: "Vamos revisar as suas opiniões e, caso as suas opiniões não estejam alinhadas com o governo ou tenham um sentimento antiamericano ou alguma coisa que afete a política externa dos Estados Unidos, isso pode ser usado para a negação do visto".

    No passado, essa verificação de comentários publicados nas redes era focada em terroristas, em pessoas suspeitas que manifestavam sentimentos negativos contra os EUA. De acordo com a advogada, a análise mais abrangente das opiniões de cada cidadão que quiser entrar nos Estados Unidos "é um grande divisor de águas" em comparação às práticas anteriores.

    Flavia Lloyd constata que a comunicação da atual administração, mesmo para pessoas que possuem a cidadania americana, vistos de trabalho ou de residência, e que não cometeram crimes, provoca um grande sentimento de medo e insegurança. "Eu acho que a mensagem e a maneira como está sendo comunicada – 'olha, estamos abrindo uma unidade de desnaturalização, vamos tirar a cidadania das pessoas' – tem impacto para quem está no país e para quem está querendo vir para cá", afirma a jurista.

    Revogação de visto

    Em relação a pessoas que estão recebendo e-mails dizendo que o visto foi cancelado, Flavia Lloyd recorda que a prática de revogação de vistos sempre existiu, principalmente se estivesse relacionada a algum tipo de violação legal e histórico de criminalidade. Porém, a escala em que está ocorrendo atualmente é considerada inédita.

    A advogada recomenda aos brasileiros que receberem este tipo de notificação "que tentem entender o que aconteceu, verificando o seu próprio perfil e de familiares nas redes sociais e outras fontes de informações públicas, para ver se vale a pena (ou não) reaplicar o pedido de visto".

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  • 'Objetivo é segurança com respeito à dignidade humana', diz chefe da nova força policial de imigração em Portugal
    2025/09/01

    A nova Unidade Especial de Fronteiras (UNEF) da Polícia de Segurança Pública (PSP) de Portugal apresentou o balanço da sua primeira semana de funcionamento: cerca de trinta operações realizadas, que resultaram na identificação de quase uma centena de cidadãos em situação irregular. Em entrevista à RFI, o responsável pela nova unidade de controle migratório garantiu que o trabalho é focado no reforço da segurança e respeita às regras europeias de proteção à "dignidade humana".

    Lizzie Nassar, correspondente da RFI em Portugal

    “O foco principal esteve nos processos de retorno”, afirmou à RFI o Superintendente-Chefe João Ribeiro, responsável pela UNEF. “Há muitas pessoas em centros de instalação temporária. Além disso, registramos uma elevada taxa de detecção de cidadãos que não cumpriram notificações de saída voluntária. Nestes casos, são detidos e apresentados a um juiz que valida ou não o afastamento”, acrescentou.

    Criada recentemente, a UNEF tem como missão reforçar o controle das fronteiras e gerir os processos de afastamento coercivo de imigrantes irregulares. A lei transferiu para a PSP competências que até então pertenciam à Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA).

    Segundo o superintendente, as nacionalidades mais frequentes nos casos de afastamento são cidadãos da Índia, Paquistão, Bangladesh e Nepal —, além de imigrantes da América do Sul, sobretudo do Brasil, e de vários países africanos. As primeiras operações foram nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, bem como na região Oeste do país.

    A UNEF foi estruturada a partir de cerca de 1.200 polícias e técnicos já atuantes nestas funções, com previsão de expansão para 2 mil efetivos.

    "Respeito pelos direitos humanos"

    João Ribeiro destaca que a formação dos profissionais segue os referenciais da Frontex, agência europeia de fronteiras, alinhados ao espaço Schengen [de livre circulação entre pessoas, envolvendo 29 países, entre eles, Portugal].

    “O pilar central é o respeito pelos direitos humanos. Qualquer violação tem consequências disciplinares ou criminais”, afirmou João Ribeiro.

    Até 2027, estão previstos investimentos de mais de 90 milhões de euros para a criação de dois novos centros de instalação — em Lisboa e no Porto — e para o reforço das capacidades tecnológicas da PSP.

    Apesar da nova missão, o responsável faz questão de frisar que o tratamento dos imigrantes deve ser pautado pela dignidade: “Uma pessoa em situação irregular não é um delinquente. Está numa situação que obriga a um processo de afastamento, mas o nosso objetivo é garantir segurança com respeito pela dignidade humana.”

    A criação da UNEF está inserida na implementação do novo Pacto para a Migração e o Asilo, que reforça mecanismos de retorno e readmissão nos Estados-membros da União Europeia.

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