エピソード

  • Voto decisivo no Parlamento: desgaste da confiança na política na França desafia governo
    2025/09/05
    A França vive, neste momento, algo que o Brasil conhece: a falta de confiança na política. O país tem enfrentado sucessivas crises nos últimos anos, e o desgaste é visível. Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris Ao pedir um voto de confiança no Parlamento na segunda-feira (8), o primeiro-ministro François Bayrou não apenas tenta garantir a governabilidade, mas também convoca a sociedade a um esforço coletivo: cortar € 44 bilhões no orçamento de 2026, num momento em que os franceses já sentem uma queda na qualidade dos serviços públicos. A oposição já disse que não irá renovar a confiança no primeiro-ministro francês, abrindo uma nova etapa excessivamente delicada para o presidente Emmanuel Macron, que já teve seis chefes de governo em oito anos. Com essa instabilidade, somada à insatisfação que vinha desde o movimento dos "coletes amarelos", em 2018, os franceses perderam a confiança em relação à capacidade dos políticos de resolver os problemas. A cólera dos "coletes amarelos" — que surgiu em 2018 como expressão da insatisfação de muitos franceses — continua presente no imaginário coletivo. Eles denunciam uma desconexão entre o sistema político da vida cotidiana dos cidadãos. O que só piora em um ambiente de desinformação e fake news. Recentemente, por exemplo, circularam boatos sobre um possível confisco da poupança, após a divulgação de projetos de investimento em defesa. Alguns usuários nas redes sociais chegaram a comparar ao confisco da poupança no Brasil, em 1990. As autoridades francesas desmentiram categoricamente essa possibilidade. Diante desse clima de insegurança, sem visão sobre o futuro, os franceses decidiram guardar dinheiro no banco, pararam de consumir supérfluos. Segundo balanço oficial do Banco da França, no final de junho, os franceses tinham cerca de € 5,4 bilhões em poupança e outros tipos de aplicação financeira tradicionais. Por terem medo de uma nova crise financeira, também parecem menos dispostos a colaborar para um plano de ajuste fiscal. Eles denunciam uma desconexão entre o sistema político e a vida cotidiana. Aos olhos de muitos, o Parlamento e o governo francês perderam a capacidade de representar os interesses reais da população. O discurso político parece cada vez mais distante da realidade. Um ano após a dissolução da Assembleia Nacional pelo presidente Emmanuel Macron, e a formação de sucessivos governos de coalizão que frustraram parte do eleitorado — tanto da direita, quanto a esquerda — a população demonstra crescente descrédito. Manifestações marcadas Um dia de paralisação nacional está marcado para quarta-feira (10), e os sindicatos já convocaram outro dia de mobilização para 18 de setembro. O objetivo é expor a decepção e a contrariedade diante de uma classe política que, aos olhos de muitos, perdeu a capacidade de representar os interesses reais da população. Segundo o Barômetro de Confiança Política, publicado em fevereiro de 2025, apenas 26% dos franceses confiam na política — um dos índices mais baixos da Europa. Atrás da Alemanha (47%) e da Itália (39%). Apenas 23% confiam no presidente da República, e 27% no primeiro-ministro. A Assembleia de Deputados tem apenas 24% de aprovação e a população tem a impressão de ser sacrificada há anos. A proposta do governo de eliminar dois feriados, a Páscoa e o 8 de maio (data que marca a vitória dos Aliados contra a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial), foi considerada como a "gota d’água”, depois de cortes no funcionalismo público, das reformas do seguro-desemprego e das aposentadorias. O governo também sinalizou com o aumentando da jornada de trabalho para 36 horas semanais, o que piorou o descontentamento. Ninguém parece disposto a trabalhar mais, sem ser pago, como propôs o primeiro-ministro. O endividamento francês e a credibilidade do país A meta é reduzir o déficit público para 4,6% do PIB em 2026 — uma queda em relação aos 5,4% previstos para 2025. Reequilibrar as contas públicas é mais do que uma questão contábil: tem impacto direto na soberania nacional. O elevado nível de endividamento levanta dúvidas sobre a credibilidade da economia francesa no cenário internacional. Atualmente, a dívida pública representa cerca de 114% do PIB, o que coloca a França como a terceira mais endividada da zona do euro, atrás apenas da Grécia e da Itália. Quem pagará a conta? Entre as pistas apresentadas para conter o que o governo chama de "maldição do superendividamento", está o congelamento das despesas públicas por um ano. No entanto, ainda não está claro qual será a abrangência dessa medida e quais setores serão afetados. Com a inflação estabilizada em torno de 1%, o governo apresenta o congelamento como uma forma de mobilizar todos os franceses em um esforço coletivo para reequilibrar as contas públicas. A ...
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  • Volta às aulas na França: educação afetiva e sexual nas escolas divide pais e mobiliza professores
    2025/08/29
    Fim de férias de verão na França. Nesta-sexta-feira (29), 850 mil professores retornaram às escolas, um número que se manteve, mesmo com uma queda de mais de 100 mil alunos devido a uma baixa demográfica. Ao todo, 12 milhões de estudantes franceses voltarão às aulas na segunda-feira (1°), com algumas novidades: entre elas a proibição do uso do celular em classe e a adoção de cursos que preparam para os desafios da vida afetiva. Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris A primeira medida, não é totalmente nova: a “pausa digital”. Em outras palavras, a proibição do uso de telefones celulares nas escolas de ensino fundamental. Essa regra já tinha sido definida por uma lei de 2018, embora nem todas as escolas a respeitassem. A partir de segunda-feira, os alunos terão de guardar os seus celulares em armários ou nas mochilas. Cada escola terá liberdade para organizar isso e garantir o respeito a essa regra. O objetivo é combater o uso excessivo de telas. Para garantir esse tempo de desconexão, até a ferramenta virtual usada na comunicação entre pais, professores e alunos — onde são registradas as notas e as lições de casa — terá as interações interrompidas entre 20h e 7h, em dias úteis e totalmente nos fins de semana. A regra de ficar offline por um tempo serve tanto para os professores quanto para os alunos. Outra novidade nesse ano letivo é o reforço nos programas de francês e matemática, porque os franceses caíram nos rankings internacionais. Mas o que chama a atenção em especial nessa volta às aulas é a adoção de novos programas de educação sobre a vida afetiva, relacionamentos em geral e a sexualidade. Esses cursos deverão ser incluídos no currículo em todos as escolas públicas e privadas do país, da Educação Infantil ao Ensino Médio. Valores fundamentais Os conteúdos serão adaptados conforme a idade dos estudantes. O governo francês quer transmitir valores fundamentais desde a infância, prevenir as discriminações, lutar contra a violência e o assédio. No jardim de infância e no ensino fundamental, ou seja, dos 3 anos até os 10, 11 anos, os professores irão ensinar os alunos a reconhecer as emoções e também irão abordar questões ligadas à descoberta do corpo, como desenvolver o respeito e a empatia. Por exemplo, não olhar para um amigo que está no banheiro, saber quando abraçar ou pegar a mão de um colega, tudo isso visando que as crianças compreendam desde cedo o sentido do consentimento. Até para que elas saibam o que fazer se um amigo divulgar uma foto íntima sem permissão, ou se alguém insistir em um contato físico. Nessa faixa etária também já poderá ser discutida a igualdade entre meninas e meninos, mas não se aborda a sexualidade ainda. Já entre os adolescentes de 11 a 15 anos, os professores darão informações sobre sexualidade e saúde, métodos contraceptivos, reprodução e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Também entram nessa conversa o combate à homofobia, a conscientização sobre estereótipos de gênero, para ajudar os alunos a desenvolverem um espírito crítico e sensibilizar os estudantes contra o preconceito. Cada turma deverá ter no mínimo três aulas de duas horas por ano sobre esses assuntos. Formação de professores A educação sobre vida emocional, relacionamentos e sexualidade já é obrigatória por lei na França desde 2001 e, por isso, muitos professores e outros profissionais do sistema educacional foram formados. Mas esses cursos não eram generalizados. Na prática, havia disparidades entre as escolas e muitas não seguiam o programa. Até agora, apenas 15% dos estudantes franceses receberam essas sessões de educação afetiva e sexual. Para apoiar os professores nessa nova diretriz, eles têm passado por um novo treinamento desde o primeiro semestre. Tudo depende de uma boa comunicação, defende a ministra da Educação Nacional, Élisabeth Borne. Os programas são explicados em cartilhas impressas que foram enviadas aos pais e também podem ser consultados online. E mesmo os professores franceses, que geralmente são bem resistentes às propostas dos políticos, estão animados com os novos conteúdos e satisfeitos por poder tratar desses assuntos em sala de aula. Pais mais conservadores estão preocupados Apesar do apoio institucional, os novos programas de educação afetiva e sexual nas escolas francesas têm gerado preocupação entre alguns grupos. As críticas mais contundentes vêm de setores conservadores, geralmente ultrarreligiosos em suas convicções, que defendem que esse tipo de conteúdo deveria ser transmitido exclusivamente pelas famílias, e não na escola pública. A polêmica tem sido explorada por partidos de extrema direita. Embora não represente a maioria dos pais, há um grupo, por exemplo, o 'Pais Vigilantes', ligado ao partido Reconquista, que tem se mobilizado. O líder do Reconquista, Éric Zemmour,...
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  • Após morte ao vivo de influenciador, plataformas de streaming entram na mira do governo da França
    2025/08/22
    A morte de um influenciador francês na segunda-feira (18), durante uma transmissão em tempo real, chocou a França. Raphael Graven, 46 anos, morreu durante um streaming que tinha previsão de durar doze dias. Enquanto o caso é investigado, o governo francês debate medidas para melhorar o controle de conteúdos e práticas nessas plataformas. Daniella Franco, da RFI em Paris “Ops, algo deu errado”: essa é a mensagem exibida nesta sexta-feira (22) na plataforma de streaming Kick quando o canal de Jean Pormanove – também chamado de JP – é procurado. Esse era o pseudônimo usado pelo francês neste site de transmissões em tempo real que exibiu, entre tantas humilhações e violências impostas por outros influenciadores, sua própria morte. Após ter bloqueado no início da semana os polêmicos vídeos em que JP aparece sendo alvo de agressões físicas e psicológicas pelos gamers Narutovie e Safine, a Kick voltou a liberar o acesso ao material na quinta-feira (21). A justificativa fornecida pela direção da plataforma foi o desejo de colaborar com as investigações as autoridades francesas. No entanto, o site foi acusado de querer tirar proveito da popularidade que alcançou com a morte do influenciador. Ameaçada pela Autoridade de Regulação da Comunicação Audiovisual e Digital da França (Arcom) de ter seu funcionamento proibido no país, a plataforma voltou atrás em sua decisão nesta tarde. Enquanto isso, investigadores têm a missão de assistir a mais de 300 horas de gravações da fatídica transmissão para tentar compreender as circunstâncias da morte de JP. Dupla investigação O canal "Jeanpormanove" na plataforma Kick é alvo de uma dupla investigação do Ministério Público de Nice, no sul da França. A primeira teve início em dezembro após a publicação de uma reportagem do site francês de notícias Mediapart, e a outra foi aberta após a morte de JP. O influenciador entrou no universo dos streamings de jogos online há cinco anos, fazendo transmissões na plataforma americana Twitch. Com reações exageradas e teatrais, ele se tornou famoso na comunidade de gamers. Com outros três streamers de um grupo chamado Le Lokal, JP passou a fazer lives na Kick, devido às regras mais brandas, um controle menor das performances e uma remuneração maior do que em outras plataformas. Com o objetivo de provocar reações exageradas em JP, dois influenciadores do grupo, Narutovie e Safine, começaram a agredi-lo, e observaram os pagamentos dos seguidores aumentarem com as violências, que iam de humilhações e xingamentos a socos, chutes, estrangulamentos e sufocamentos. Segundo a imprensa francesa, o próprio JP faturava por mês até € 6 mil (cerca de R$ 38 mil). Morte ao vivo Em agosto, o grupo Le Lokal anunciou o desafio de realizar um streaming de 12 dias, sem interrupção, de uma casa alugada no sul da França. Durante a transmissão, JP era frequentemente espancado e chegou a receber choques elétricos de uma coleira instalada em seu pescoço. No segundo dia, o influenciador comentou com os colegas que não estava passando bem e que precisaria ir a um hospital, mas foi impedido. JP também enviou uma mensagem para a mãe dizendo ter sido “sequestrado” por “um conceito de merda”. Na madrugada do décimo dia do streaming, o grupo estava dormindo diante das câmeras quando seguidores começaram a alertá-los do comportamento incomum de JP, pálido e imóvel durante horas. Um dos gamers chegou a atirar uma garrafa de água na cabeça do influenciador, que não reagiu. A live foi subitamente interrompida e a polícia foi acionada, confirmando a morte de JP. Resultado da autópsia Os primeiros exames, realizados pelo Instituto Médico Legal de Nice, foram revelados na noite de quinta-feira (21), e apontaram que o corpo do JP não apresenta “lesões traumáticas”. O laudo afirma que as prováveis causas da morte “parecem ser de natureza médica ou toxicológica”. O jornal Le Monde obteve informações com uma fonte próxima às investigações que diz que o trabalho se concentra agora em saber se outros elementos ligados ao streaming poderiam ter ocasionado a morte do influenciador. As escassas horas de sono podem ter resultado em uma crise cardíaca, ou o consumo de produtos tóxicos - incentivado pelos seguidores da transmissão - pode ter envenenado JP. Por meio de advogados, os gamers que agrediam JP alegam que tudo se tratava de uma encenação e que a vítima consentia participar do que chamam de “brincadeiras”. No entanto, a irmã do influenciador, classifica sua morte de “intolerável” e acredita que JP tenha morrido “de exaustão”. A ministra francesa da Inteligência Artificial e do Digital, Clara Chappaz, classificou o caso de “horror absoluto” e acionou a Arcom, o mais alto órgão de supervisão de mídias na França e a Plataforma Pública de Alerta a Conteúdos Ilícitos na Internet. A ministra também exigiu ...
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  • 'Sono não é luxo, mas necessidade biológica': França quer incentivar população a dormir mais
    2025/08/08

    O governo da França lançou no final de julho um programa para orientar a população do país a dormir melhor. O motivo: a média de horas de sono vem caindo nas últimas décadas e isso tem um forte impacto na saúde e na produtividade dos cidadãos.

    Daniella Franco, da RFI

    O alerta veio do próprio Ministério da Saúde da França que apontou recentemente que um a cada cinco franceses dorme menos de seis horas por noite. Nos últimos 50 anos, a média de horas dormidas por noite caiu 1h30, levando 45% da população a desenvolver pelo menos um distúrbio relacionado à falta de sono.

    O fenômeno não atinge apenas os adultos. Segundo o balanço, 30% das crianças e 70% dos adolescentes da França não dormem suficientemente.

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda ao menos sete horas de sono por noite para um adulto. Para adolescentes, a indicação é de oito a 10 horas. Já para as crianças, a quantidade de horas a serem dormidas varia em relação a cada fase da infância, oscilando entre nove a 14 horas de sono necessárias.

    O que tira o sono dos franceses

    Uma rotina insalubre, combinando horários desregulados, sedentarismo, estresse e más condições de trabalho explicam a má qualidade do sono da população francesa. Outros fatores exteriores impedem os franceses de dormir, como as oscilações de temperatura devido às mudanças climáticas e a poluição sonora – um outro grande problema dos centros urbanos do país.

    Além disso, outro hábito da vida moderna que atrapalha o sono na França é a dificuldade de desligar da internet. Segundo o site de análise de dados móveis Data AI, os franceses passam em média pouco mais de 3h30 por dia no celular. Além do estímulo mental, a luz azul emitida pelas telas dos smartphones e tablets interfere na produção da melatonina, hormônio que regula o sono.

    Esses maus hábitos combinados resultam em “uma dívida generalizada de horas dormidas” na França, avaliou o ministro francês da Saúde, Yannick Neuder, ao apresentar o programa que pretende ajudar os franceses a dormirem, no último 22 de julho.

    Cinco grandes desafios

    O programa do Ministério da Saúde da França é baseado em cinco grandes desafios. O primeiro deles é sensibilizar o grande público sobre a necessidade de dormir bem, já que se criou no imaginário coletivo a ideia de que poucas horas de sono é algo nobre – ou como diz um ditado francês, “o futuro pertence àqueles que acordam cedo”.

    O segundo ponto do programa aborda esse tabu e pretende criar uma cultura de valorização e priorização do sono desde a infância. O governo quer também incentivar empresas e estabelecimentos de educação a melhorar o ritmo das atividades.

    Outra prioridade é lutar contra a poluição sonora, um problema comum nos grandes centros urbanos da França. O país vem investindo em uma série de projetos para atenuar o barulho nas cidades, principalmente no trânsito.

    Os dois últimos pontos dizem respeito à saúde: o governo quer prevenir e tratar melhor os distúrbios relacionados à falta do sono e aprimorar o acesso da população aos cuidados e aos tratamentos. Além disso, o programa prevê um aumento nos investimentos em pesquisas científicas sobre o sono.

    “O sono não é um luxo, é uma necessidade não negociável”, diz o ministro da Saúde da França. Yannick Neuder salienta que dormir “é bem mais do que um momento de descanso, é um processo biológico essencial”.

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  • Eleições municipais de 2026 reacendem debate sobre carros nas áreas centrais das cidades francesas
    2025/08/01
    A menos de um ano das eleições municipais de 2026, a mobilidade urbana volta ao centro do debate político na França. Um dos assuntos discutidos é a transformação de ruas no centro das cidades em áreas de pedestres. A proposta de restringir o acesso de carros às áreas centrais das cidades, defendida por ambientalistas e parte de alguns gestores públicos, gera reações distintas na população francesa, especialmente entre os moradores da capital e os de outras cidades periféricas. Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris Em Paris, essa medida avança. Faz parte do plano da prefeita socialista Anne Hidalgo, que está no cargo há onze anos e tem como objetivo tornar Paris mais verde e menos poluída. Ela é entusiasta do conceito da “cidade de 15 minutos”, em que tudo está a uma caminhada de distância. Já fora da capital, uma consulta realizada pela plataforma cidadã Mon Avis Citoyen, com moradores de 386 cidades de diferentes portes da França, revelou que a maioria - 72% dos entrevistados - é contra a interdição de carros nos centros urbanos. Em 2022, essa porcentagem era de 70%. Um dado novo revelado por essa enquete é que a oposição à proibição de carros aumentou 16% nas cidades com população entre 30 mil e 50 mil habitantes, consideradas de médio porte na França. Entre os principais motivos apontados pelos entrevistados estão a dependência do automóvel nas atividades cotidianas, como ir ao comércio local, além do receio de impactos econômicos negativos para as cidades. A consulta mostrou, no entanto, disparidades conforme a idade dos entrevistados e o perfil das cidades. Jovens adultos (18 a 29 anos) aumentaram seu apoio à interdição de carros nos centros urbanos (+9% desde 2022). Já a faixa acima de 70 anos permanece majoritariamente contrária à medida. Nas pequenas e médias cidades, onde a oferta de transporte público é limitada, o carro continua sendo uma necessidade. Até 2015, a regulamentação francesa impedia a operação de linhas regulares de ônibus entre regiões, algo comum no Brasil. Somente após a promulgação da chamada “Lei Macron”, em agosto de 2015, foi autorizada a abertura do setor de transporte rodoviário à concorrência. Em média, os franceses percorrem 52 km por dia, segundo os dados da Agência de Transição Ecológica do governo. Desse total, 64% dos deslocamentos são feitos de carro. Paris tem plano de longo prazo Paris é uma capital conhecida por sua boa oferta de transporte público, e os moradores parecem se adaptar bem à ampliação dos espaços para pedestres. Essas mudanças fazem parte de um plano maior, com um orçamento de € 300 milhões (quase R$ 2 bi) em investimentos entre 2023 e 2030 para a transformação e adaptação da cidade às mudanças climáticas. Na região metropolitana, caminhar é o meio de transporte mais popular (38%, um aumento de 4 pontos percentuais desde 2008) e o transporte público representa um quarto de todos os deslocamentos. Em Paris, o poder público submeteu o assunto à população, em um referendo ocorrido em março. Os parisienses que compareceram às urnas aprovaram majoritariamente a transformação de 500 novas ruas em zonas livres de carros, uma medida apoiada por 66% dos votantes. Essas 500 ruas se somam às 300 ruas exclusivas para pedestres já criadas desde 2020. Ao todo, mais de 10 mil vagas de estacionamento serão fechadas. Nesse referendo, somente o 7º, 8º e 16º distritos, governados pela direita, votaram contra a eliminação dos carros das ruas de Paris. A oposição argumenta que a taxa de participação no referendo foi baixa: 4% dos eleitores. Moradores de Montmartre protestam Em Montmartre, um dos bairros mais turísticos de Paris, uma das poucas colinas da capital, a criação de uma área exclusiva para pedestres está gerando polêmica. Consultas públicas estão sendo realizadas com a população, nas quais a administração municipal defende os benefícios ambientais da medida para a qualidade de vida dos habitantes. No entanto, faixas penduradas nas fachadas de edifícios exibem mensagens como: “moradores esquecidos pela prefeitura” ou “deixem os moradores viver”. Os protestos são uma reação ao projeto que pretende tornar várias ruas em áreas exclusivas para pedestres. Alguns temem que o fechamento prejudique o acesso em uma região com relevo acentuado. Uma associação local, Vivre à Montmartre, entrou com uma ação judicial contra o projeto. Alguns moradores de Montmartre estão preocupados com as entregas e o acesso de idosos com mobilidade reduzida, entre outras questões. Para o poder público, a iniciativa visa devolver o espaço urbano aos pedestres, reduzir a poluição, com melhoria da qualidade do ar, redução do ruído e, sobretudo, ampliar o espaço para a circulação de pessoas. É em Montmartre que fica a Basílica de Sacré-Cœur, o monumento mais visitado...
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  • Lei Duplomb e Lei da Devastação: França e Brasil no caminho do retrocesso ambiental
    2025/07/25
    Com poucos dias de diferença, a França e o Brasil aprovaram legislações que terão como consequência a flexibilização das normas ambientais. As iniciativas são vistas como um retrocesso e levam diversos setores da sociedade civil a fazerem apelos para os presidentes Emmanuel Macron e Lula não promulgarem as leis. Daniella Franco, da RFI O que a Lei Duplomb, aprovada em 8 de julho na Assembleia Nacional da França, e a Lei do Licenciamento Ambiental, conhecida como PL da Devastação, que recebeu o sinal verde da Câmara dos Deputados no Brasil em 17 de julho, têm em comum? Apesar das particularidades de cada legislação, elas flexibilizam uma série de mecanismos estabelecidos nas últimas décadas para a proteção do meio ambiente e da saúde dos cidadãos em seus respectivos países. Na França, o projeto de lei criado pelo senador Laurent Duplomb, do partido conservador Os Republicanos, suscita uma forte indignação na sociedade civil por autorizar do uso do agrotóxico acetamiprido, substância da família dos controversos neonicotinoides. Amplamente utilizado nas lavouras do Brasil, o inseticida era aplicado nas plantações francesas de beterraba, avelã, maçã e cereja até 2018, quando foi proibido ao ser cientificamente comprovado como prejudicial aos insetos polinizadores – principalmente às abelhas – além de contaminar o solo e os lençóis freáticos. O acetamiprido ainda é suspeito de causar problemas no desenvolvimento cerebral de crianças e vários tipos de câncer: de mama, fígado, tireóide e testículos. Apesar de cientistas ressaltarem a periculosidade deste agrotóxico à saúde humana, as autoridades de segurança sanitária e alimentar da França e da Europa acreditam que os estudos realizados até o momento sobre a substância não são conclusivos. Outros pontos polêmicos da Lei Duplomb a aproximam da chamada “Lei da Devastação” no Brasil: o texto francês abre caminho para o aumento de criações intensivas de frango e porco, facilita a criação de imensas bacias para a irrigação de plantações por meio do acesso a reservas freáticas e ainda reduz o papel e a independência da Agência Nacional de Segurança Alimentar, Ambiental e Trabalho da França, equivalente à Anvisa no Brasil. Histórico controverso O senador Laurent Duplomb, autor do projeto de lei francês, é ex-agricultor e foi um dos presidentes de uma organização sindical francesa Jovens Agricultores, de linha conservadora. Atualmente o parlamentar também atua na direção do grupo francês de produtos lácteos Sodiaal, dono da Yoplait, a 6a maior produtora de iogurtes do mundo. O projeto de lei foi criado na esteira da revolta dos agricultores franceses entre o final de 2023 e o início de 2024. O texto foi apresentado como uma resposta “às restrições ao exercício da profissão”. O texto é defendido pela maior organização sindical do setor na França, a conservadora Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores Agrícolas (FNSEA), grande apoiadora da agricultura intensiva. A iniciativa de Duplomb também ganhou o apoio do primeiro-ministro francês, François Bayrou, da coalizão governamental, além da direita e extrema direita do país. Além do conteúdo da lei, também suscita polêmica a interrupção do debate do texto na Assembleia Nacional de Deputados por meio de uma controversa manobra da direita. Ao receber cerca de 3.500 emendas de deputados da esquerda, os conservadores utilizaram uma estratégia para contornar a trajetória parlamentar do projeto de lei, que foi rapidamente validado pelo Senado e votado na Assembleia Nacional. A artimanha está sendo classificada de “antidemocrática” por vários juristas da França. Petição contra a lei Duplomb Um movimento inédito foi incitado por meio de uma petição criada pela universitária francesa Eléonore Pattery, de 23 anos, que já reuniu quase 2 milhões de assinaturas. O abaixo-assinado online pede a revogação da lei Duplomb, descrita como “uma aberração científica, ética, ambiental e sanitária”. A iniciativa é histórica por ter sido criada por uma integrante da sociedade civil sem ligação com partidos políticos e por conseguir quase dois milhões de assinaturas em um curto período: cerca de duas semanas. Nos últimos dias, o abaixo-assinado mobilizou vários setores da sociedade francesa: estudantes, ambientalistas, médicos, cientistas e artistas. Para ser definitivamente adotada, a lei Duplomb precisa ser promulgada pelo presidente francês, Emmanuel Macron. Enquanto multiplicam-se os apelos para que o chefe de Estado ordene um novo debate parlamentar na Assembleia Nacional do texto, o Conselho Constitucional analisa seu conteúdo. Este, que é o mais alto órgão jurídico da França, também pode barrar a contestada legislação e promete dar seu parecer no próximo 7 de agosto.
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  • Enquanto banho no Sena faz sucesso, França registra mais de 100 mortes por afogamento em um mês
    2025/07/18
    Com o calor que está fazendo na França neste verão, lagos e rios são cada vez mais procurados pelos franceses para se refrescar. A prefeitura de Paris divulgou os primeiros dados sobre o número de banhistas no rio Sena, uma forma de adaptar a cidade para as altas temperaturas. Porém, ao mesmo tempo em que os termômetros sobem, entre os meses de junho e julho houve um aumento de 58% no número de mortes por afogamentos no país, em relação ao mesmo período de 2024. Pela lei, na França os prefeitos são responsáveis pelo que acontece em locais para banho e estão na linha de frente de uma questão primordial diante das mudanças climáticas. Maria Paula Carvalho, de Paris Em Paris, o mergulho no rio Sena vem sendo um sucesso de público entre moradores e visitantes que têm aproveitado essa praia típica parisiense. A capital francesa tem dado exemplo ao cumprir a promessa de reabrir neste verão, depois de 100 anos de interdição, três piscinas fluviais ao ar livre. Elas estão localizadas no cais de Grenelle, perto da Torre Eiffel, no Bras Marie, ao lado da prefeitura, no centro, e no cais de Bercy, no noroeste da cidade. Todas tem entrada gratuita e funcionam em horários que variam das 8h às 21 horas. Desde 5 de julho, quase 20.000 pessoas já aproveitaram o mergulho no Sena. Esses espaços são delimitados por boias e circundados por decks com escadas para o acesso dos banhistas, que são obrigados a usar um flutuador. Há áreas para se trocar, guardar pertences, banheiros e até chuveiros. Cada pessoa pode nadar em média 1h, mas não há um controle rigoroso desse tempo. A rotatividade é grande. Até o momento, os parisienses e visitantes têm demonstrado muita satisfação de reencontrar o seu rio, descontrair na beira d'água e aproveitar os dias de calor, já que nessa época do ano escurece tarde em Paris. Só nos dias 12 e 14 de julho, 12.354 banhistas passaram por esses locais. O mais procurado foi o cais Bercy (com capacidade para 700 pessoas por vez) onde 6.683 pessoas foram se refrescar, seguido pela piscina natural do Hôtel de Ville, no centro da cidade (capacidade de 150 pessoas), onde 3.065 banhistas mergulharam, e o cais de Grenelle, com vista para a torre Eiffel, com capacidade para 200 pessoas, procurado por 2.606 pessoas no último fim de semana. Segundo um comunicado da prefeitura de Paris, "este sucesso popular reflete o desejo dos habitantes por espaços de convivência abertos, compartilhados e tranquilos". As autoridades locais destacam um "grande passo à frente para o bem-estar dos moradores". Nadar no Sena era proibido desde 1923, e esse foi um dos legados dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024. Mais de € 1,4 bilhão foram investidos para melhorar a qualidade da água, com obras de drenagem, o equivalente a mais de R$ 9 bilhões. Controle rigoroso da qualidade da água De acordo com a prefeitura, as análises da qualidade microbiológica água são feitas três vezes por dia. O monitoramento utiliza dois indicadores para bactérias: Escherichia coli e enterococos, cuja presença pode sinalizar germes patogênicos. O cumprimento desses critérios determinará diariamente se é permitido nadar no Sena. Além das análises da água, a prefeitura de Paris também adota monitora as instalações ao redor dos cais, onde as pessoas tomam banho de sol. Uma das medidas que permitiram a melhoria da qualidade da água do Sena foi a construção de um reservatório subterrâneo de 50.000 m3 para acumular águas pluviais e usadas (banheiros, cozinhas, etc.) e impedir que elas sejam despejadas no Sena. A obra demorou três anos para ficar pronta e foi inaugurada em maio de 2024, pouco antes dos Jogos Olímpicos. Com isso, apenas em caso de temporais pode haver despejo de águas usadas no rio e, nesses períodos, os locais para banho são sistematicamente fechados. Uma das evidências da melhoria da qualidade da água do Sena é o aumento da quantidade de peixes encontrados: 34 espécies atualmente. Isso representa um número significativamente maior do que há quarenta anos, quando apenas duas espécies viviam no rio parisiense. Mortes em locais não supervisionados preocupam prefeitos Porém, se no rio Sena há salva-vidas de plantão, o banho não é supervisionado em todos os rios e lagos da França. E o resultado é o número expressivo de 109 mortes por afogamento em um mês no país, de um total de 400 casos registrados no período, segundo um boletim da Saúde Pública da França. O número inclui crianças que se afogaram em piscinas particulares, mas a maior parte das mortes é de adolescentes que mergulharam em riachos ou lagos não supervisionados. Já entre os adultos, a maioria das mortes ocorreu no mar. Entre as vítimas, há muitos casos de pessoas que se arriscaram em locais proibidos para banho. Recentemente, um jogador de futebol de uma associação esportiva, ao norte de Paris, ...
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  • Como a extrema direita global usa a retórica da perseguição para desviar de investigações judiciais
    2025/07/11
    A decisão de Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, sob a justificativa de que o governo Lula e o Judiciário estariam promovendo uma “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro, não é um gesto isolado. A retórica da perseguição política, usada para deslegitimar investigações e decisões judiciais, tem se consolidado como uma estratégia comum entre líderes e partidos de extrema direita em diferentes democracias. Na França, o partido Reunião Nacional (RN), liderado por Marine Le Pen, adotou discurso semelhante esta semana ao reagir a novas investigações sobre financiamento ilegal de campanhas e desvio de recursos do Parlamento Europeu. A legenda acusa juízes, "as elites" e a imprensa de conduzirem uma campanha ideológica contra seus dirigentes, em uma narrativa que ecoa as falas de Trump e Bolsonaro. Em março, Le Pen foi condenada a cinco anos de inelegibilidade por desvio de recursos do Parlamento Europeu. Embora tenha recorrido, a confirmação da sentença pode impedi-la de disputar a presidência em 2027. Agora, o RN enfrenta duas novas frentes de investigação: uma sobre o uso abusivo de empréstimos de pessoas físicas em campanhas eleitorais, e outra, mais grave, conduzida pelo Ministério Público Europeu, que apura o desvio de cerca de € 4,3 milhões entre 2019 e 2024. Nesta semana, a sede do partido em Paris foi alvo de buscas por parte de policiais e juízes. Documentos foram apreendidos, e há suspeitas de que os recursos desviados tenham beneficiado empresas ligadas a aliados próximos de Le Pen, por meio de contratos sem licitação adequada. O presidente do partido, Jordan Bardella, reagiu classificando a operação como “assédio político” e acusando parte do Judiciário de agir com motivação ideológica. Um porta-voz do RN chegou a fazer alegações falsas sobre sindicatos de juízes, desmentidas por checagens documentadas pela imprensa. Crise de confiança A ofensiva contra o Judiciário francês não é exclusiva da extrema direita. Nesta sexta-feira (11), três deputados de centro-direita e direita conservadora também foram declarados inelegíveis por irregularidades nas contas de campanha. Ainda assim, a retórica de perseguição tem sido mais sistematicamente explorada por partidos como o RN, que buscam mobilizar sua base eleitoral e desviar o foco das acusações. A confiança da população francesa na Justiça está em queda: apenas 48% dizem confiar no sistema judiciário, segundo pesquisa do Instituto Ifop divulgada em abril. Especialistas alertam que ataques à independência do Judiciário alimentam essa crise e colocam em risco os pilares do Estado de Direito. Nos Estados Unidos, Trump enfrenta vários processos e acusa o sistema de ser manipulado por “juízes de esquerda”. No Brasil, Bolsonaro e seus aliados também alegam ser vítimas de perseguição. Em todos os casos, a retórica da perseguição política serve como escudo contra investigações legítimas. E como mostra a tarifa imposta pelo presidente dos EUA ao Brasil, pode até ser usada como justificativa para ações controversas de intimidação contra um país soberano. Justiça francesa: absolvições e condenações recentes mostram atuação firme e diversa Dois ex-ministros da Saúde da França, Olivier Véran e Agnès Buzyn, foram recentemente inocentados pela Justiça após investigações relacionadas à gestão da pandemia de Covid-19. Ambos haviam sido acusados de falhas na antecipação e no enfrentamento da crise sanitária. No entanto, após análise detalhada dos fatos, o tribunal concluiu que não houve negligência penal por parte dos ex-ministros, reconhecendo a complexidade e a imprevisibilidade do contexto da pandemia. Os dois ex-ministros são do partido do presidente Emmanuel Macron. Em contraste com os casos de absolvição, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy teve sua condenação por corrupção e tráfico de influência confirmada pela Justiça. Ele foi sentenciado a um ano de prisão no chamado “caso das escutas telefônicas”, mas cumpriu a pena em regime domiciliar com tornozeleira eletrônica. Em maio, Sarkozy obteve liberdade condicional e teve o monitoramento eletrônico suspenso. Aos 70 anos, o ex-líder da direita ainda responde a outros processos, incluindo o julgamento sobre o suposto financiamento ilegal de sua campanha presidencial de 2007 com recursos do regime líbio de Muammar Khadafi. Outro caso emblemático é o do ex-primeiro-ministro conservador François Fillon, condenado em junho deste ano a quatro anos de prisão com suspensão condicional da pena, além de uma multa de € 375 mil e cinco anos de inelegibilidade. A condenação se refere ao escândalo conhecido como “Penelopegate”, revelado em 2017, quando veio à tona que Fillon contratou sua esposa, Penélope, como assessora parlamentar sem que ela exercesse efetivamente a função.
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