O governo da França lançou no final de julho um programa para orientar a população do país a dormir melhor. O motivo: a média de horas de sono vem caindo nas últimas décadas e isso tem um forte impacto na saúde e na produtividade dos cidadãos.
Daniella Franco, da RFI
O alerta veio do próprio Ministério da Saúde da França que apontou recentemente que um a cada cinco franceses dorme menos de seis horas por noite. Nos últimos 50 anos, a média de horas dormidas por noite caiu 1h30, levando 45% da população a desenvolver pelo menos um distúrbio relacionado à falta de sono.
O fenômeno não atinge apenas os adultos. Segundo o balanço, 30% das crianças e 70% dos adolescentes da França não dormem suficientemente.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda ao menos sete horas de sono por noite para um adulto. Para adolescentes, a indicação é de oito a 10 horas. Já para as crianças, a quantidade de horas a serem dormidas varia em relação a cada fase da infância, oscilando entre nove a 14 horas de sono necessárias.
O que tira o sono dos franceses Uma rotina insalubre, combinando horários desregulados, sedentarismo, estresse e más condições de trabalho explicam a má qualidade do sono da população francesa. Outros fatores exteriores impedem os franceses de dormir, como as oscilações de temperatura devido às mudanças climáticas e a poluição sonora – um outro grande problema dos centros urbanos do país.
Além disso, outro hábito da vida moderna que atrapalha o sono na França é a dificuldade de desligar da internet. Segundo o site de análise de dados móveis Data AI, os franceses passam em média pouco mais de 3h30 por dia no celular. Além do estímulo mental, a luz azul emitida pelas telas dos smartphones e tablets interfere na produção da melatonina, hormônio que regula o sono.
Esses maus hábitos combinados resultam em “uma dívida generalizada de horas dormidas” na França, avaliou o ministro francês da Saúde, Yannick Neuder, ao apresentar o programa que pretende ajudar os franceses a dormirem, no último 22 de julho.
Cinco grandes desafios O programa do Ministério da Saúde da França é baseado em cinco grandes desafios. O primeiro deles é sensibilizar o grande público sobre a necessidade de dormir bem, já que se criou no imaginário coletivo a ideia de que poucas horas de sono é algo nobre – ou como diz um ditado francês, “o futuro pertence àqueles que acordam cedo”.
O segundo ponto do programa aborda esse tabu e pretende criar uma cultura de valorização e priorização do sono desde a infância. O governo quer também incentivar empresas e estabelecimentos de educação a melhorar o ritmo das atividades.
Outra prioridade é lutar contra a poluição sonora, um problema comum nos grandes centros urbanos da França. O país vem investindo em uma série de projetos para atenuar o barulho nas cidades, principalmente no trânsito.
Os dois últimos pontos dizem respeito à saúde: o governo quer prevenir e tratar melhor os distúrbios relacionados à falta do sono e aprimorar o acesso da população aos cuidados e aos tratamentos. Além disso, o programa prevê um aumento nos investimentos em pesquisas científicas sobre o sono.
“O sono não é um luxo, é uma necessidade não negociável”, diz o ministro da Saúde da França. Yannick Neuder salienta que dormir “é bem mais do que um momento de descanso, é um processo biológico essencial”.