『O Mundo Agora』のカバーアート

O Mundo Agora

O Mundo Agora

著者: RFI Brasil
無料で聴く

このコンテンツについて

Crônica semanal de geopolítica internacional. Os fatos que são notícia no mundo analisados por Thiago de Aragão, direto dos Estados Unidos, e Thomás Zicman de Barros, da Europa.

France Médias Monde
政治・政府
エピソード
  • Vitória de Milei nas urnas revela uma crise de dois populismos
    2025/10/27
    As eleições legislativas argentinas revelaram uma crise compartilhada. Javier Milei venceu nas urnas, mas perdeu o ímpeto populista que o tornara símbolo dos descontentes. O peronismo, por sua vez, resistiu sem recuperar o fôlego. O país parece cansado, dividido entre dois projetos em crise. Thomás Zicman de Barros, analista político O clima no comitê de Javier Milei era de celebração. Com cerca de 40% dos votos, o presidente argentino saiu das eleições legislativas parciais deste domingo consolidado como a principal força política do país, à frente de um peronismo que se reduz a 31% do eleitorado. Mas, por trás da vitória, o que se vê é um país cansado, marcado por uma abstenção recorde e um clima de desânimo generalizado. As eleições, que renovavam um terço da Câmara e do Senado, registraram uma taxa de comparecimento de apenas 68%, a mais baixa desde 1942. O dado é eloquente: a Argentina parece exausta. O mileísmo sobreviveu e se expandiu no Parlamento, obtendo uma bancada suficiente para proteger seus decretos e resistir a tentativas de destituição, mas num ambiente de retração da participação. Os 40% de hoje garantem poder, mas estão longe dos 55% que o consagraram em 2023, num cenário de maior mobilização popular. O entusiasmo libertário de então deu lugar à simples rejeição ao peronismo. Naquele ano, Milei não venceu apenas como candidato das elites tradicionais, hostis à herança de Perón. Venceu como figura de transgressão, um outsider que falava a linguagem dos desencantados. Conseguiu atrair parte dos trabalhadores precários, dos jovens sem perspectivas e de uma população exausta do Estado e descrente dos partidos. Seu estilo anárquico, feito de improviso e fúria, parecia disputar com o peronismo o monopólio de representar “os de baixo” contra “a casta”. Era um populismo de extrema direita, o primeiro capaz de desafiar o tradicional populismo peronista em seu próprio terreno. Reorganização do voto antiperonista O que se viu neste domingo foi outra coisa. Milei demonstrou fôlego, venceu em províncias importantes como Santa Fé, Córdoba, Mendoza e na Cidade de Buenos Aires. Sobretudo, empatou na província de Buenos Aires, a mais populosa do país, onde vive cerca de 40% do eleitorado, revertendo a vantagem de dois dígitos que o peronismo havia conquistado há apenas um mês. O que explica esse desempenho, porém, não é o fervor de 2023, mas a reorganização do voto antiperonista. Ao longo do mandato, Milei alienou parte da base popular que o levara ao poder. Assumiu prometendo ajustes dolorosos em nome de uma futura prosperidade, mas o que se viu foi recessão, inflação ainda persistente e cortes sociais que corroeram o pouco apoio entre os setores populares. A isso se somaram dois escândalos que abalaram sua imagem moralista: o caso da criptomoeda promovida pelo próprio presidente, cujo valor disparou após suas declarações antes de o dinheiro sumir, e o das propinas de 3% em programas sociais que teriam beneficiado sua irmã e chefe de gabinete, Karina Milei. Os setores populares em que Milei se enfraquece o deixaram restrito à base que antes orbitava o PRO de Mauricio Macri e aos grupos mais à direita da União Cívica Radical, partidos que encolheram no Parlamento e hoje veem seu eleitorado migrar para La Libertad Avanza. O medo substituiu o entusiasmo. Parte dos argentinos votou nele não por convicção, mas por rejeição ao retorno do peronismo, visto como sinônimo de estagnação e crise. Mas se o populismo de extrema direita perdeu vitalidade, o peronismo está ainda mais combalido, incapaz de capitalizar o desgaste do governo. A abstenção o atingiu em cheio. Apesar de conseguir preservar sua bancada na Câmara, o movimento que por décadas encarnou o populismo argentino perdeu força no Senado e vive talvez sua crise mais profunda. O fracasso do governo Fernández, a prisão domiciliar de Cristina Kirchner e as divisões internas esvaziam seu apelo popular. No mês passado, Axel Kicillof, governador da província de Buenos Aires, comemorava uma vitória arrasadora nas eleições provinciais. Agora, vê-se diante de um empate que mina seu impulso e reabre espaço para Cristina, cuja liderança é, ao mesmo tempo, carismática e profundamente rejeitada. Crise dupla O resultado deste domingo mostra que Milei ainda é o nome forte da política argentina, mas que sua capacidade de mobilização está debilitada. Seu diferencial era dar voz aos descontentes, aos precarizados e aos que se sentiam deixados para trás. Essa parte do eleitorado, hoje, parece ter preferido ficar em casa. A Argentina vive, assim, uma crise dupla: a do populismo de extrema direita, que perdeu o fôlego transgressor, e a do populismo peronista, que perdeu a capacidade de encantar os de baixo. Milei governa um país cansado, e o peronismo o enfrenta sem vigor. Nenhum dos dois parece capaz, por ora, de devolver sentido à ...
    続きを読む 一部表示
    5 分
  • Por que uma invasão dos EUA à Venezuela seria um desastre anunciado
    2025/10/20

    A ideia de uma intervenção militar dos EUA na Venezuela parece simples: derrubar Maduro e garantir petróleo. Mas o país é um labirinto geográfico e político, com características que poderiam arrastar o conflito por meses, talvez anos, como explica o cientista político Thiago de Aragão.

    Thiago de Aragão, analista político

    De tempos em tempos, volta à mesa de alguns estrategistas em Washington a ideia de uma intervenção militar na Venezuela. O raciocínio, à primeira vista, parece simples: derrubar Maduro, instalar a democracia e garantir o fluxo de petróleo. Mas basta olhar um pouco mais de perto para perceber que isso seria tudo, menos simples. Na prática, uma invasão americana à Venezuela seria um pesadelo militar, político e humanitário. Um erro que começaria fácil e terminaria impossível.

    O primeiro grande inimigo seria o próprio território. A Venezuela é um labirinto natural: selvas úmidas, montanhas que rasgam o horizonte, planícies que viram pântanos e cidades caóticas à beira do Caribe. Tentar mover tropas por esse terreno seria como marchar contra a natureza. O calor e as doenças tropicais fariam parte do combate, e cidades como Caracas e Maracaibo se transformariam em campos de batalha urbanos, onde cada esquina pode virar uma emboscada. Os Estados Unidos já aprenderam (e de forma dolorosa) que dominar o mapa não é o mesmo que dominar o país.

    Mas o terreno é apenas parte do problema. A Venezuela construiu, ao longo dos anos, uma estrutura militar que vive mais de lealdade política do que de hierarquia formal. Além do exército, existem milhares de milicianos e “coletivos” espalhados por bairros e cidades, armados e organizados em rede. Eles conhecem o terreno, têm base social e não enfrentariam os invasores de frente. Sumiriam nas comunidades, atacariam de surpresa, arrastando o conflito por meses, talvez anos. Seria uma guerra de desgaste, e ninguém aguenta um pântano desses por muito tempo.

    Logística

    A logística também seria um pesadelo. Apesar da proximidade geográfica, a Venezuela é de difícil acesso. Poucos portos, estradas precárias e infraestrutura mínima. Sustentar tropas em um país quase duas vezes maior que o Iraque exigiria um esforço gigantesco e caro. Cada avião, cada navio, cada caminhão de suprimentos seria um alvo em potencial. E sem aliados regionais dispostos a ceder bases, os EUA teriam de bancar sozinhos uma operação longa, vulnerável e impopular.

    O petróleo, que à distância parece o grande prêmio, na verdade seria o estopim de novos problemas. As principais reservas estão em áreas frágeis, tanto do ponto de vista ambiental quanto político. Combates na região do Lago de Maracaibo ou na Faixa do Orinoco poderiam gerar desastres ambientais catastróficos e destruir boa parte da infraestrutura petrolífera. E mesmo que os poços fossem “tomados”, retomar a produção levaria anos. Em vez de financiar a reconstrução, o petróleo viraria uma fonte de corrupção, sabotagem e instabilidade.

    E, se por um golpe de sorte, Maduro caísse rápido, o verdadeiro caos começaria no dia seguinte. O país não tem instituições sólidas, a economia está arruinada e as divisões políticas e sociais são profundas. Sem um governo legítimo e funcional para assumir o controle, a Venezuela se fragmentaria em pedaços, entre facções chavistas, grupos criminosos e líderes locais disputando território. Os Estados Unidos se veriam presos em um tipo de ocupação que já conhecem bem: longa, cara e sem final feliz.

    Invadir a Venezuela não seria um ato de força, mas de ingenuidade. O país é uma armadilha disfarçada de solução: um território difícil, com redes armadas entranhadas e uma crise estrutural que não se resolve com tanques. Em vez de um troféu, seria um abismo político e moral. E talvez a maior lição de tudo isso seja justamente essa: algumas guerras são tão complexas que o verdadeiro gesto de poder é não começá-las.

    続きを読む 一部表示
    4 分
  • Na França de Macron, nada muda para que nada mude
    2025/10/13
    Quatro dias bastaram para que o primeiro-ministro da França caísse — e voltasse, como se nada tivesse acontecido. A crise se arrasta, entre alianças movidas pelo medo e um presidente que repete a mesma estratégia, à espera de um resultado diferente. Thomás Zicman de Barros, analista político No domingo, 5 de outubro, após 26 dias de negociações, o primeiro-ministro Sébastien Lecornu anunciou seu governo. Havia dúvida se a oposição — sobretudo o Partido Socialista — tentaria censurá-lo, mas nem foi preciso. Em apenas doze horas, o gabinete implodiu. O golpe veio de dentro: aliados do próprio campo presidencial se rebelaram, a começar pelo líder da direita tradicional e ministro do Interior Bruno Retailleau — um aspirante à sucessão de Macron que parece ter reinventado a lógica política. Se já se conhecia o “apoio sem participação” no governo, Retailleau inaugurava a “participação sem apoio”. Na manhã seguinte, diante da desintegração da base e da impossibilidade de aprovar o orçamento, Lecornu apresentou sua demissão. Era o quarto chefe de governo a cair em menos de dois anos. Seu antecessor, François Bayrou, havia durado dez meses antes de perder um voto de confiança. Michel Barnier, o anterior, caíra por uma moção de censura. A origem dessa instabilidade é conhecida. Após sua reeleição em 2022, Emmanuel Macron conseguiu apenas uma maioria relativa no Parlamento. Em 2024, buscando recuperar o controle, decidiu dissolver a Assembleia Nacional de surpresa. Mas o tiro saiu pela culatra: o presidente voltou das urnas com ainda menos deputados. Desde então, cada governo nasce minoritário, dependente de alianças contraditórias e fadado à implosão. A crise, que começou como um impasse parlamentar, tornou-se uma espécie de paralisia estrutural. Com a saída de Lecornu, reacendeu-se a hipótese de uma nova dissolução — e, junto dela, o coro pela renúncia do próprio Macron. Segundo as pesquisas, 73% dos franceses querem que ele deixe o cargo. Até Édouard Philippe, ex-primeiro-ministro — e outro provável candidato a sucedê-lo — declarou que a solução poderia ser uma eleição presidencial antecipada. O medo como método Na segunda-feira, Macron foi visto caminhando sozinho pela beira do Sena. Àquela altura, o presidente parecia encenar sua própria solidão política. Pediu a Lecornu 48 horas para “consultar as forças políticas” e trazer opções. Na noite de quarta, o premiê demissionário deu uma entrevista melancólica: disse sair frustrado, mas satisfeito por ter “feito o possível”. E deixou escapar o diagnóstico mais preciso da semana: não há maioria para governar, mas há maioria absoluta contra uma nova dissolução. É esse medo que sustenta o sistema. Nenhum partido — exceto a extrema direita, favorita nas pesquisas — quer voltar às urnas. Os macronistas temem ser varridos. A esquerda, dividida e em crise, também teme perder terreno. Quando o espectro da dissolução voltou a pairar, Jean-Luc Mélenchon propôs uma reunião de toda a esquerda. Os socialistas recusaram. Assim, a Nova Frente Popular foi finalmente enterrada, em meio a acusações mútuas de traição e irresponsabilidade. A esquerda francesa, que havia se unido em torno da esperança de uma alternativa, agora se esfarela diante do ressentimento. Na sexta-feira à noite, o país recebeu embasbacado a notícia de que Macron havia renomeado Lecornu. O mesmo primeiro-ministro que havia renunciado quatro dias antes voltou ao cargo, como se nada tivesse acontecido. A política francesa entrou oficialmente em modo “Dia da Marmota”, como no filme com Bill Murray: as mesmas cenas, as mesmas falas, os mesmos personagens, revividos até a exaustão. O presidente tenta repetir a fórmula — um governo de “união” sustentado pelo medo da dissolução — esperando resultados diferentes. É improvável que dê certo. A nova versão do gabinete já nasce sob ameaça: 269 deputados se declararam prontos a votar uma moção de censura, e faltam apenas 21 para que Lecornu caia — de novo. Um simples gesto, à direita ou à esquerda, bastaria para ejetá-lo do cargo pela segunda vez. Após uma reunião marcada por ofensas, Retailleau e seus aliados decidiram não integrar o governo, mas tampouco censurá-lo. Já os socialistas, fiéis à sua reputação, parecem sempre prontos a sentar-se à mesa com os macronistas em busca de concessões que jamais vêm. A última delas — a ideia de suspender temporariamente a reforma da previdência — não convenceu ninguém: irritou os aliados, dividiu o governo e reacendeu o fogo sob a cadeira do primeiro-ministro. Um impasse que se repete Lecornu governa sobre escombros, tentando erguer uma “coalizão negativa”, unida apenas pelo medo de novas eleições. Mas o país parece exaurido. De forma cada vez mais acelerada, novos gabinetes nascem e morrem um após o outro, em um ritual de desgaste que já ...
    続きを読む 一部表示
    5 分
まだレビューはありません