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Sozinha de si


著者: Mayra Abbondanza - Ghostwriter
  • サマリー

  • Histórias silenciadas de mulheres despedaçadas, contadas anonimamente, para cuidar de todas de uma vez. Quantas histórias são silenciadas porque não há coragem para contar? Quantas mulheres poderiam estar se apoiando, se soubessem o que estão vivendo? Escrever sobre traumas dá a chance de resignificá-los, dando à história um outro final. Mas como poder contar histórias sem cortes, para construir uma rede de apoio, sem precisar expor nenhuma mulher ou suas famílias? ANONIMAMENTE! O processo é blindado e ninguém saberá quem você é. Mande sua história para mim 📥 ghostwriter@maabbondanza.com
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エピソード
  • #5 - A fresta -
    2024/05/06

    Entre meus 12 e 16 anos, todos os dias na hora de dormir, começava o meu pavor. Ainda que não fosse ao meu quarto naquela noite, eu antecipava o medo que poderia me congelar novamente.

    Eu dormi terrivelmente mal por 4 anos. Eu morava com o inimigo, e ninguém sabia.

    Acordava várias vezes durante a noite, pois a qualquer momento poderia acontecer a fresta.

    A fresta da porta, que ele abria silenciosamente, e aquele maldito faixo de luz amarela, que junto com ele invadiam o meu quarto.

    Houve algo perversamente terno, e essa delicadeza só aumentava as minhas dúvidas.

    Eu fingia dormir, para ver se ele desistia, mas ele me tocava até eu acordar. Muito delicadamente. Em câmera lenta. Por cima da roupa. De um corpo virgem e em transformação, de 12 anos da sua própria filha.

    Quando eu via a fresta se abrindo, eu me perguntava: Minha camisola está cobrindo tudo? Finjo que estou dormindo ou me cubro mais?

    Ele sentava na cama, e eu ficava completamente imobilizada, já sabendo o que ia acontecer. Eu sentia PAVOR, e desejava desesperadamente que ele não viesse.

    Ele nunca foi bruto, mas eu me sentia sem poder. Eu ficava paralisada, não me mexia, não fazia barulho, não falava, ficava absolutamente petrificada. Ele não ficava muito tempo, e nunca deitou.

    No começo eu tive muitas dúvidas.

    O que está acontecendo? Por que acontece? Pode?

    Eu que provocava aquele absurdo? Posso gritar, será? O que aconteceria?

    Será que eu seria injusta se reclamasse de tanto carinho e atenção?

    Eu queria poder voltar lá e abraçar aquela adolescente. Eu gostaria de acreditar que voltar lá, fazer um cafuné e dizer pra ela dormir tranquila, seria suficiente. Mas não sou eu que volto. É ela que vem comigo e me acompanha até hoje.

    É um óculos através do qual a gente olha a vida juntas.

    Não tem futuro que não tenha esse passado, e o que me move pra frente é saber que eu nunca abandonei ela e nem ela a mim.
    #ghostwriter #sozinhadesi #historiasanonimas #rededemulheres #escrita #cura #abuso #vulnerabilidade #generosidade

    Lembrando que o Podcast Sozinha de si é um projeto de acolhimento através de histórias anônimas, manda a sua história pra mim: ghostwriter@maabbondanza.com

    Você também pode me mandar a sua história através de um audio, diretamente por aqui, o link está abaixo.


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    3 分
  • #4 - O vôo da borboleta -
    2024/04/29

    O conto de fadas para mim era casar, ter filhos, e ser fiel - até que a morte nos separe.

    Esse era o certo e o resto era errado, pecado. Essa era felicidade prometida.

    Eu coube nesse padrão por um tempo. Eu casei apaixonada, minha rotina de casada era confortável e me dava status.

    Estava feliz brincando de casinha com direito a fazer comidinhas, lavar e passar a roupa do príncipe encantado.

    Podia transar sem sentir culpa, tinha um carro só meu, e podia chegar tarde em casa porque estava junto com o meu guarda costas.

    Para pagar as contas era só dar um cheque, sem nem precisava anotar o valor, pois ele fazia tudo e mais um pouco pra ter o controle de tudo. Eu adorava!

    Eu assumia um lugar de inferioridade e permissividade porque me interessava, não tinha que brigar por coisas que eu julgava pequenas e quando eu realmente me impunha eu conseguia o que queria. Tinha momentos em que eu era mimada e retribuía com submissão.

    Mas caso eu não fizesse o que as regras absolutas mandavam, a repreensão acontecia.

    Uma dinâmica bombástica!

    Tinha preguiça de discutir e em geral deixava as pessoas me conduzirem.

    Ter um marido era tudo que eu precisava naquele momento, me ajudou a não sentir falta da minha mãe, recém falecida. Ela era pessoa mais doce que conheci.

    Mas o melhor de estar casada era estar longe do olhar do meu pai, que antes ocupava esse mesmo papel patriarcal.

    Quando meu pai morreu, muitos anos depois, vivi o primeiro momento de liberdade da minha vida.

    Nem sabia o que fazer...

    Aos poucos comecei a não aceitar algumas “ordens" e daí a competição entre o casal se acirrou. Me lembro de olhar pros aviões que passavam e pensar quem seria o felizardo lá dentro indo pra algum lugar bem longe.

    Tinha um grito abafado em minha garganta. Minha casa se tornou insuportável, tinha uma névoa sombria em cima dela, era fria.

    Quanto mais eu saia de casa, me interessava por atividades novas, cuidava de minha alimentação, ficava magra, bonita, mais olhares repressores eu recebia dele.

    E também tive que lutar contra preconceitos de amigos "que nunca foram”.

    Isso tudo me sufocou tanto que muitas vezes desejei a morte para terminar algo que eu tinha prometido levar até o fim.

    Eu não conseguia mais viver esse personagem para a qual fui criada. Queria quebrar esses padrões que me foram impostos, mas era difícil.

    Me sentia como uma lagarta dentro do casulo, apertada.

    Eu tinha recebido desde criança uma lavagem cerebral e não sabia mais pelo que valia a pena lutar.

    Não via uma saída que não magoasse a todos, então continuava me magoando.

    Precisei de muitos anos para descobrir que era uma mulher interessante, que podia ser amada fora desses termos, que era inteligente (não era tonta?), que existia um universo lá fora pra eu desbravar, e que meus filhos iam ficar bem, já eram adultos agora.

    Eu já estava preparada pra me responsabilizar por mim, por meus atos, minhas decisões.

    Estava pronta pra errar e acertar, e escolher como viver. Isso era muito poderoso!

    Eu gostaria de voltar lá e dizer para aquela mulher, que olhava para os aviões pensando em fugir, que ela acharia o caminho. Que o corte, por pior que pareça, é momentâneo e passa. Depois viria a melhor coisa do mundo: autonomia.

    Hoje olho pra trás e sinto orgulho por ter sido corajosa.

    Não tenho mais vergonha de mostrar a minha a criança impulsiva, alegre e amorosa que sempre fui. Aquela que não cabia nos padrões e era sempre desconsiderada. Agora ela pode acordar e dormir comigo.

    Hoje virei borboleta e vôo por aí, de flor em flor, e sei que o pólen que carrego vai germinar.

    Isso pra mim é paz. Isso é missão cumprida.

    #ghostwriter #sozinhadesi #historiasanonimas #rededemulheres #escrita #cura #abuso #vulnerabilidade #generosidade


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    5 分
  • #3 - A mochila florida -
    2024/04/29

    No escritório eu era menina-mulher brincando de executiva. Usava blazer, mas não sabia nem subir no salto, que afundava no carpete cinza e sem graça.

    No começo, pra compensar a monotonia, andava com a minha mochila florida. Antes do início de qualquer reunião com eles, comentavam o quanto eu era nova. Eu respondia, bem-humorada, que eram “minhas bochechas de criança”. Por dentro sentia o nó na garganta, porque sabia da verdade: era a menina com “bochechas de criança” que seria chefe deles em um ano ou dois, por isso o questionamento desconfortável.

    A reunião se transformava numa aula particular - deles para mim - de qualquer que fosse o assunto. Às vezes até sobre meu próprio trabalho, que eu fazia bem feito todos os dias. Eu era aluna exemplar, ouvia com atenção e calma (até tomava nota).

    Dentro das salas de reunião, meus comentários eram acompanhados de feições incrédulas e altas gargalhadas. Nos corredores, recebia beijos de longe, com caras maliciosas, apelidos íntimos sem intimidade, de homens com o dobro da minha idade.

    Era uma quinta-feira à tarde quando o escritório cheio ria de uma piada que brincava com uma mulher que foi espancada por um famoso.

    Olhei para a minha mochila, e pensei: acabou. Eu já não usava mais a florida, usava uma preta. Era como se ela tivesse desbotado junto comigo. Me levantei e nunca mais voltei.

    Mas não acabou aí, tive que revisitar essa mágoa por várias vezes.

    Me pediram para recontar a minha história para pessoas diferentes da empresa: RH, meus líderes, e como estava num programa trainee que era de grande visibilidade, pediram ate pra eu falar com o CEO e o VP pra eles me convencerem a ficar, mas eu recusei.

    A cada vez que repetia a história e descrevia o rosto indescritível dos homens que me diminuíam, as lágrimas também iam cessando. Algumas vezes desejei ter inventado qualquer desculpa ao invés de contar a verdade, que me esgotava e me tornava mais fria ao mesmo tempo. Apesar da tristeza que me consumia, não queria parar de sentir raiva e revolta para lembrar de nunca mais me esquecer.

    Eles diziam que faltou paciência e que eu deveria ter ensinado esses homens a se comportarem, dizer o que eles faziam de errado, já que, por serem de outras gerações, não me entendiam. Ou seja, além de aturar aulas particulares para as minhas bochechas eu teria que agora ser a adulta e madura da relação.

    Me disseram que eu estava largando uma carreira brilhante por situações pontuais.

    Minhas pares e chefes mulheres diziam que, se pudessem, também sairiam.

    Me sentia impotente e fraca por não poder ficar pra ajudar e tentar reverter a situação para algumas de nós. Mas com o tempo entendi que o mais importante era conseguir cuidar de mim. Minhas bochechas entregavam mesmo a idade, e eu não conseguia mais crescer ali.

    Eu gostaria de voltar lá hoje e dizer para essa menina-mulher que ela não estava doida e nem sozinha!

    Eu me daria um abraço e diria que só aguentei esse nó na garganta porque me sentia inadequada em reclamar, já que todo o sistema prefere passar pano.

    Diria pra mim que é importante sempre estar disposta a aprender - mas com quem quiser tro-car, porque ninguém é melhor do que eu.

    Que de agora em diante não irei tentar me encaixar num lugar onde não caibo inteira.

    Eu e minha mochila florida.

    #ghostwriter #sozinhadesi #historiasanonimas #rededemulheres #escrita #cura #abuso #vulnerabilidade #generosidade


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あらすじ・解説

Histórias silenciadas de mulheres despedaçadas, contadas anonimamente, para cuidar de todas de uma vez. Quantas histórias são silenciadas porque não há coragem para contar? Quantas mulheres poderiam estar se apoiando, se soubessem o que estão vivendo? Escrever sobre traumas dá a chance de resignificá-los, dando à história um outro final. Mas como poder contar histórias sem cortes, para construir uma rede de apoio, sem precisar expor nenhuma mulher ou suas famílias? ANONIMAMENTE! O processo é blindado e ninguém saberá quem você é. Mande sua história para mim 📥 ghostwriter@maabbondanza.com
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