エピソード

  • 'QUIS O SÃO PAULO. DISSE NÃO AO REAL MADRID. ACERTEI.'
    2025/05/13

    "Para sair do Nacional, queria o melhor futebol do mundo.

    "Na época, o Brasil era 'o' Brasil. Ou seja, o melhor entre os melhores.

    "E a proposta era do gigante São Paulo, clube vencedor. Onde jogou o ídolo de todo uruguaio, o Pedro Rocha. Aceitei, lógico.

    Alfonso Dario Pereyra Bueno.

    De futebol tão refinado que ganhou, por todo merecimento, o apelido de 'Don' Dario Pereyra. 'Don', precedendo o nome, é uma forma de tratamento, em espanhol, reservado à elite.

    E Dario Pereyra mereceu.

    Foi contratado pelo São Paulo para ser o sucessor de Pedro Rocha, que vivia seus últimos momentos no clube, em 1977. Era visto como a principal revelação uruguaia. Misturava personalidade forte, técnica e muita garra.

    Volante talentoso, jogava com a camisa 10 e faixa de capitão na Seleção Uruguaia. Aos 18 anos!

    Chegou no São Paulo e já fez história.

    Venceu o primeiro brasileiro do clube, em 1977.

    Mas depois dessa conquista, Dario sofreu. E muito. Ficou um jogador marcado por lesões. Jornalistas questionavam se ele não teria problemas crônicos. Ou psicológicos.

    "Só falavam das minhas 'dolores', dores, em espanhol. E eu tinha mesmo. Fortíssimas dores musculares, distensões. O meu problema era alimentação. Eu estava sozinho no Brasil, em uma casa que me deixaram com outros jogadores. Havia uma funcionária que só fazia arroz, feijão e carne de panela. Todos os dias. Eu estava acostumado a muitos legumes, carnes grelhadas, ovos, verduras, alimentação balanceada. Tudo acabou quando trouxe minha família para São Paulo. E passei a me alimentar como estava acostumado no Uruguai."

    Carlos Alberto Silva foi fundamental na sua vida. Assim como o acaso. Gassem, o quarto zagueiro, estava contundido. "Ele me perguntou se eu poderia deixar de ser meio-campista e jogar na zaga. Disse que sim. E nunca mais saí de lá. Formei uma dupla maravilhosa com o Oscar. Nós nos completávamos."

    Quem revelou o segredo do sucesso de Dario Pereira foi outro craque imortal. Ademir da Guia. "Ele era um excelente jogador de meio-campo, com enorme visão de jogo. Atuando como zagueiro, ele pegava a bola de frente e enxergava toda a movimentação, a distribuição do time adversário. Com sua técnica já começava desequilibrando a partida para o São Paulo."

    Para completar, tinha uma impulsão fora de série e antecipação marcante, não precisava dar pontapés. Ele antecipava os passes para os atacantes adversários e saía jogando.

    Foram 11 anos no São Paulo e seis títulos. Com a direção recusando várias propostas do Exterior. "Eu tive sorte porque peguei três gerações sensacionais. A primeira, campeã brasileira, do Minelli. A segunda, bicampeã, em 1986, do Pepe, muito técnica, com Careca, Oscar. E os 'Menudos', com Müller, Silas, Sidney e o Cilinho comandando."

    Dario revela que não ganhou Libertadores com o São Paulo porque o clube não priorizava a competição. 'Era disputada ao mesmo tempo que o Paulista, no primeiro semestre. Não tinha o mesmo valor que hoje. Não tinha transmissão pela tevê. Os juízes nos roubavam. Eram muitas agressões. Não tinha antidoping. Era só desgaste e não valia a pena. Potencial para ganhar, o São Paulo teve naquela época. Mas não era prioridade."

    Depois de marcar época no São Paulo, Dario passou pelo São Paulo, Palmeiras e terminou a carreira no Matsushita Electric, atual Gamba Osaka, no Japão.

    Se aventurou como treinador, por 18 anos. Foi campeão mineiro pelo Atlético. Mas a falta de um empresário, escolhas erradas e fases dos clubes se juntaram para atrapalhar sua trajetória. Mesmo assim revelou jogadores como Denilson.

    Aos 68 anos, Dario segue completamente identificado com o São Paulo. É um dos maiores ídolos da história do clube. Com todo merecimento.

    "Eu não me arrependo de ter dito não ao Real Madrid.

    "Escolhi o São Paulo e escolheria de novo.

    "O Brasil era o Brasil, do melhor futebol do mundo.

    "E o melhor clube do Brasil era o São Paulo. E ainda é"...

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  • 'VI TODO O DRAMA. RONALDO TEVE CONVULSÕES. ZAGALLO NÃO SUPORTOU A PRESSÃO. E O ESCALOU.'
    2025/05/06

    Ricardo Setyon foi testemunha do caso mais mal contado do futebol brasileiro.

    Um dos jornalistas de maior currículo deste país.

    Psicólogo, formado em Ciências Políticas, poliglota.

    Professor de gestão do Esporte.

    Toda essa bagagem o levou a trabalhar na Fifa, por 15 anos.

    Cobriu guerras, viveu a Fórmula 1, colaborou para jornais, revistas e sites do Japão, França, Espanha. Trabalhou em rádio, tevê, portais. Viajou o mundo todo. Morou em vários lugares.

    Sua alma inquieta não o deixa fixar em um local.

    Freelancer é a expressão que melhor o define.

    Ele quer cobrir torneios, jogos, corridas, guerras, o veículo não importa.

    Mas a história que ele não escapa é a final da Copa de 1998.

    Desta vez, Setyon destrinchou como nunca o que aconteceu, naquele 12 de julho de 1998, em Paris, no estádio Saint-Denis.

    Ele era chefe de Mídia da Fifa, só para a Seleção Brasileira.

    E frequentava os bastidores da Seleção, para desespero do então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que não tinha o controle sobre ele.

    São tantas histórias... Mas é melhor se fixar sobre o 'episódio Ronaldo'.

    Setyon tinha total acesso à concentração brasileira em Ozoir-la-Ferrière, 'cidadezinha' ao lado de Paris. A Seleção se hospedava em um castelo. E ele acompanhou o que Ronaldo viveu.

    "Ele estava extremamente tenso por tudo que acontecia na sua vida pessoal. (Sua mãe e seu pai estavam separados, com namorados, convivendo na mesma casa. Telefonavam diariamente para ele, contando brigas. Ele tinha ciúmes, pela namorada Susana Werner fazer inúmeras matérias com Pedro Bial.)

    "O Roberto Carlos e o Ronaldo estavam no mesmo quarto.

    "Eles sempre foram muito amigos, se tratavam por 'lixo', brincando. O Ronaldo deitou. O Roberto Carlos começa a chamá-lo para se preparar para o jogo. Quando ele cai da cama e começa a convulsionar, roxo. Aí, chegam Edmundo, Leonardo. Há um caos generalizado e o Ronaldo acorda.

    "É levado para a clínica Lilas (ortopédica) em Paris. Sim, ele foi levado por um ortopedista. E não o médico principal (Lídio Toledo). E que não fala inglês e nem francês. O Ronaldo faz uma bateria de exames. Os jogadores se preparam para a final. O Zagallo escala o Edmundo. Estava tudo pronto. Mas aí, o Ronaldo chega. Pálido. E diz para o Zagallo 'Professor, vou jogar."

    "O Zagallo já tinha passado para a Fifa a escalação, que foi distribuída para jornalistas de todo o planeta. Ele não suporta a pressão de não colocar em campo o melhor jogador do mundo. E o escala. Edmundo fica revoltado.

    "Mas o pior foi a reação dos outros jogadores titulares. Todos assustados. O Brasil entrou derrotado para a final da Copa do Mundo de 1998. Os companheiros viram as convulsões de Ronaldo. E tinham medo que ele fosse morrer durante o jogo. Acabou a concentração para a partida. O resultado foi 3 a 0 para os franceses. Com Ronaldo chorando no ombro do Zidane."

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  • 'CHOREI, POR NÃO TER IDO À COPA DE 2002. EU MERECIA. NEM VI OS JOGOS. FELIPÃO FOI INJUSTO COMIGO'
    2025/04/22

    Alex é muito racional.

    Firme, sério.

    Nas atitudes, nas palavras.

    Desde quando teve de escolher jogar no Corinthians ou no Palmeiras, aos 20 anos.

    A opção foi dele: a proposta que chegou ao Coritiba foi a mesma.

    Analisou a Parmalat e o Excel e a disputa que teria pela posição.

    Venceu o Palestra Itália, para desespero da direção corintiana.

    Sabe que é um dos grandes ídolos da história de dois gigantes brasileiros. E eterno, para a equipe que divide Istambul.

    Mas por trás da persona dura que criou, para viver no ambiente, muitas vezes, peçonhento do futebol, há uma pessoa sensível.

    Seus amigos no futebol revelam, que as emoções, ele sempre deixou para os poucos muito íntimos.

    "Sou filho de pessoas simples. Meu pai era pintor de paredes e minha mãe, cozinheira. Tive de enfrentar, como garoto, pressão enorme de jogar em clubes grandes como o Coritiba e o Palmeiras, ainda menino. Me dedicar ao máximo em campo, nos treinos, não basta. É preciso desenvolver o lado psicológico. O que é muito mais difícil. Ainda mais naquela época."

    Menino, mostrou talento jogando futebol em um campo na periferia de Curitiba, que tinha de dividir com sapos. Enfrentou a peneira para jogar no Coritiba. E rapidamente já estava nas Seleções de base.

    Resumir a carreira de Alex é impossível, em um texto curto. 20 títulos. Mais de 400 gols, 600 assistências. Meia brasileiro, só não fez mais gols que seu ídolo Zico. Se a Fifa e a France Football fossem justas, deveria ter brigado pelo troféu de melhor do mundo, em 2003, pelo Cruzeiro.

    Mas a conquista da Libertadores de 1999 pelo Palmeiras foi épica. Sua partida maravilhosa na semifinal, eliminando um dos melhores River Plate da história, não pode ser esquecida.

    Assim como a covarde perseguição de parte da imprensa. Como outros jogadores, Alex teve partidas irregulares. A cobrança no Palmeiras, bancado pela Parmalat, sempre foi exagerada. Pela seleção de atletas que conseguiu montar.

    'Um jornalista quis fazer graça e me chamou de Alexsotan. (Referência ao calmante Lexotan. Alex não quis dizer o nome. Mas foi Dalmo Pessoa, que trabalhava na TV Gazeta). Isso me prejudicou muito. Foi duro. Pessoas maldosas se aproveitavam. Eu não fui formado para recompor. Era meia armador, que recebia a bola. Mas me adaptei. Tive a chance de falar com essa pessoa, olhos nos olhos. E ela entendeu o mal que havia feito.'

    Alex não esquece a não ida para a Copa de 2002. Felipão era o técnico com quem ganhou a primeira Libertadores da história do Palmeiras.

    "Bom, primeiro, quem me indicou para o Palmeiras foi o Telê Santana. Não sei se seria escolhido pelo Felipe. Disputei os jogos das Eliminatórias com o Vanderlei Luxemburgo. Estava certo da chamada. Ainda mais com Djalminha fora, por ter brigado com seu técnico. Depois, o Emerson é cortado e vai o Ricardinho. Felipe disse que a escolha foi dele. Respeito. Mas foi injusta. Fiquei muito mal. Chorei. Nem vi os jogos da Copa."

    A passagem relâmpago no Flamengo? A maestria raivosa no Cruzeiro, vencedor da Tríplice Coroa? A idolatria absurda no Fenerbhaçe, com direito a estátua do tamanho natural, feita para um estrangeiro, na nacionalista Turquia?

    Sua trajetória brilhante como comentarista da ESPN/Brasil? Só acompanhando a entrevista.

    Vale destacar, no entanto, o seu estudo profundo, a visão moderna como treinador. Treinando o sub-20 do São Paulo, foi vice brasileiro. E levou o time à semifinal da Copa São Paulo. E ainda revelou jogadores que renderam mais de R$ 100 milhões ao clube.

    Estava sendo preparado para técnico do time principal. Mas se sentiu pronto para o profissional. Foi para o Avaí e Antalyaspor, da Turquia. Foi enganado duas vezes, por direções que prometeram contratações que não vieram.

    "Foram duras lições. Mas aprendo rápido. Vou seguir como técnico. Quero trabalhar em parceira com um clube com filosofia de trabalho, estrutura. E me juntar a pessoas sérias. Sinto que tenho condições de crescer muito na profissão."

    Alguém ainda duvida de Alex de Souza?

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  • Argel:'CHORAR EM CAMPO? NO PALMEIRAS, NA FINAL DA LIBERTADORES DE 2000. TRISTE DEMAIS!'
    2025/04/15

    Argel se define como 'sanguíneo'. "Fui guerreiro, batalhador. Lutava, dava a alma. Chegava duro. Ninguém se impunha comigo, não. Mas era leal. Nunca fui violento."Torcedores do Internacional, Tokyo Verdy, Santos, Porto, Palmeiras, Benfica, Racing Santander, Cruzeiro, Ulbra e Zhejiang Lucheng,da China, não têm como negar.Zagueiro, que chegou até a Seleção Brasileira, sempre se doou como um guerreiro em um campo de futebol. 'Dava até a última gota de sangue em cada jogo, em cada treino. Por um motivo que não poderia ficar expondo. Meu pai foi assassinado quando eu tinha 18 anos. "Me vi responsável por toda a minha família. Sabia que do meu futebol dependia o sustento dos meus. E assumi toda essa carga para mim. O que foi uma pressão psicológica enorme. Daí a minha entrega. E consegui cuidar de todos. Meu grande orgulho, formar o meu irmão médico."Apesar de toda a relação de coração com o Internacional, Argel primeiro fez dois meses de testes no Grêmio. 'Fui bem, mas disseram que não poderiam me oferecer alojamento. Eu sou de Santa Rosa, cidade do interior do Rio Grande. Fui para o Inter e me encontrei. Logo fui para a Seleção Brasileira. E campeão mundial sub-20. Daí a minha carreira explodiu. Só que sofri o choque da perda do meu pai.'Argel é uma pessoa muito direta. 'Meu pai foi tudo para mim. Ele que quis que eu jogasse futebol. Insistia que eu seria um grande jogador, iria para o Exterior, para a Seleção. Ele era muito alegre. E adorava dançar no clube de Santa Rosa. Uma noite se desentendeu com uma pessoa, que estava armada. E foi assassinado. Eu tinha 18 anos. O que poderia fazer? Assumi toda a responsabilidade da minha família. Joguei pelos meus e pelo sonho do meu pai. Minha vida mudou. Eu mudei."Ganhou 11 títulos, pelo Inter, Santos, Palmeiras, Porto, Benfica. Mas lembra muito bem a final da Libertadores de 2000."Me doeu muito. Chorei demais. Tínhamos toda a chance de ganhar do Boca, diante da nossa torcida. O Morumbi estava lotado. Bastava ganhar. Empatamos e perdemos nos pênaltis. Fizemos de tudo. Mas faltou definir o jogo."No ano seguinte, a Parmalat se preparava para sair do Palmeiras. Mas o time chegou à semifinal da Libertadores. Argel estava vendido para o Benfica. 'Me apresentei em Lisboa, quando o Celso Roth disse que precisava de mim. Se eu me machucasse seria um caos. Fiquei na reserva, como precaução. Entrei aos 30 do segundo tempo. Mas perdemos, de novo, nos pênaltis. Foi terrível. De novo para o Boca!"Chegou a ser convocado para amistoso da Seleção, mas não teve sequência.Dois meses. Foi o prazo máximo que Argel ficou longe do futebol, depois que parou. Ele decidiu trabalhar como técnico. Já são 17 anos como treinador."Tive escola. Trabalhei com Trapattoni, Mourinho, Camacho, Felipão, Abel Braga, Antônio Lopes. Fui campeão gaúcho, da Recopa Gaúcha. Catarinense e baiano", avisa, com orgulho. 'E digo mais, se eu ficasse no Inter em 2016, o clube não seria rebaixado."Argel caiu em um redemoinho de clubes, intenso demais. Foram 33 trocas. "Com certeza aceitei convites que não deveria. Mas guerreiro não sabe ficar sem batalhar. Agora, com 50 anos, vou pensar com calma, nos convites que receber. Porque só sei de uma coisa. Não consigo ficar sem trabalhar. Isso, não..."

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  • Rosemiro: 'Osmar Santos me chamava de namoradinho da Raquel Welch. Era ruim. Minha família sofria.'
    2025/04/02

    Seu nome é inesquecível para a torcida do Palmeiras.

    Rosemiro.

    Um dos melhores da história do Parque Antártica.

    Taticamente pelo menos 30 anos à frente do seu tempo. Atuou entre 1975 e 1980 com a camisa verde. Foram cerca de 300 partidas.

    "Eu não era um lateral comum, de só marcar, nem passar do meio-campo. Durante o jogo, exercia, duas, três funções táticas. Era lateral, volante, ponta. As pessoas se espantavam na época. Muitos jornalistas nem entendiam o que eu fazia.

    "Mas há explicação. Quem me formou taticamente, na Seleção Olímpica, foi Cláudio Coutinho, um gênio. Depois peguei pela frente o Oswaldo Brandão, sensacional no comando de um grupo. E, finalmente, o Telê Santana, que antevia os jogos, a movimentação do adversário e adorava montar times ofensivos, poderosos."

    Aos 71 anos, Rosemiro segue com a memória viva e um corpo atlético. Dono de preparo físico incrível, quando jogava, viveu muitas histórias importantes.

    E generoso, repare algumas.

    "O Jorge Mendonça era meu grande amigo no Palmeiras. Veio de Pernambuco e acabou se perdendo na noite de São Paulo. Virou alcoólatra. Várias vezes chegava no treino virado, das noitadas.

    "O Telê Santana era muito rígido. E eu me coloquei várias vezes contra o Telê, que queria punir o Jorge. Ele precisava de ajuda, não de punições. Irritei tanto o Telê que, quando ele assumiu a Seleção Brasileira, foi muito homem.

    "Me chamou para conversar e disse que não me levaria para a Copa do Mundo de 1982, apesar de eu merecer pelo que fazia em campo. Mas não poderia ter no grupo um jogador que o desrespeitava. Entendi e não me arrependo. Defenderia de novo, meu amigo Jorge Mendonça."

    Rosemiro lembra também a espetacular semifinal do Brasileiro entre Palmeiras e Internacional. 'Tínhamos empatado em Porto Alegre, em 1 a 1. No Morumbi lotado de palmeirenses, tínhamos a chance de jogar com inteligência. Mas o Telê Santana só pensou no ataque. Nós jogamos abertos. Havia uma polêmica criada pela imprensa paulista, antes do jogo: quem era melhor? Mococa, nosso volante. Ou Falcão?

    "O resultado de Telê ter colocado o Palmeiras aberto. 3 a 2 Internacional. Com dois gols do Falcão, que teve uma atuação sensacional.

    "O Telê sempre desprezou a chance de empatar jogos, mesmo sendo melhor para o time, para a Seleção. Por isso não estranhei a derrota contra a Itália na Copa de 1982. O Brasil atacando quando o empate bastava."

    Rosemiro, paraense, sentiu o choque da cidade grande, de São Paulo. O pior foi o apelido irônico que o grande narrador Osmar Santos decidiu colocar no lateral. 'Namoradinho de Raquel Welch', por seu rosto não ser bonito.

    "Foi ruim. Gosto muito do Osmar, sei que ele não fez por mal. Mas ela doloroso. Principalmente para a minha família. Mas já passou."

    Rosemiro também não esquece a Olimpíada de 1984. "Ficamos seis meses no preparando. Ganhamos o Panamericano. Tínhamos um timaço. Com Carlos, da Ponte, Júnior, do Flamengo, Batista, do Inter, Edinho, do Fluminense, Marinho, Botafogo.

    "Ganhamos dos times da nossa idade, até 21 anos, éramos 'amadores'. Todos com 'contrato de gaveta'. Eu já era do Palmeiras, comprado do Remo. Só que enfrentamos os 'amadores' da Cortina de Ferro. Lá diziam que não existia o 'futebol profissional'. Enfrentamos jogadores de 28, 30, 31 anos. Aí, não deu. Perdemos para a Polônia e para a União Soviética. Fomos quartos colocados.

    "O Coutinho foi nosso técnico. O governo (ditadura) nos apoiou. Queria a medalha de ouro. Treinamos por seis meses, mas não conseguimos."

    Rosemiro lembra que chegou ao Palmeiras no fim da segunda Academia. Foi uma pena. Venderam o Luís Pereira e o Leivinha para o Atlético de Madrid. O time sensacional estava sendo desfeito. Jogadores envelheceram. Ganhamos só o Paulista de 1976.

    "E a direção errou muito. Daí o jejum de 16 anos sem títulos. Hoje, o Palmeiras está espetacular. Mas na minha época, os dirigentes se sabotavam. A oposição sabotava a situação. O reflexo caía no time. Foi um desperdício."

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    1 時間 46 分
  • Zé Teodoro: 'Jogadores fizeram o Telê me escalar. E ganhamos o Brasileiro'
    2025/03/25

    Ele foi um dos melhores laterais da história do São Paulo.

    Bicampeão brasileiro. Tetra paulista.

    Além de tricampeão goiano.

    Nascido há 61 anos no interior de Anápolis, não só seguiu o caminho dos irmãos Fernandinho e Gilson Bonfim. Foi muito além dos dois. Conseguiu a independência financeira que a família precisava.

    Veloz, vigoroso, inteligente e com cruzamentos precisos, ele se impôs no Goiás. Moderno para a década de 80. Mas a projeção nacional veio no São Paulo, que conseguiu vencer o duelo com o Flamengo e contratá-lo.

    "O São Paulo era, disparado, o melhor clube do Brasil.

    Infraestrutura, dirigentes. Tive muita sorte. Peguei a geração 'Menudos': com Muller, Silas, Sidney. O Cilinho, que era fantástico, como treinador. E ainda o time que ganhou a Libertadores e o Mundial. Fui um privilegiado. Vejo hoje como as equipes era modernas, à frente do seu tempo."

    Em rara entrevista exclusiva, Zé Teodoro faz revelações.

    "O São Paulo era um time de muita raça na minha época. E eu não me intimidei. Ia para cima mesmo dos adversários. Leal, como sempre fui na minha vida, mas ninguém tinha moleza comigo. Nem com o São Paulo.

    "O Cilinho me obrigava a dar 30 cruzamentos por jogo. 15 no primeiro tempo e 15 no segundo tempo. Eu marcava muito bem, passei a atacar também. Era um ala, posição que não existia.

    "O Cafu só virou Cafu porque eu me machuquei, fraturei o tornozelo. Vou explicar: ele era um ótimo jogador, mas coringa. Ou seja, atuava como lateral, volante, meia, ponta. Eu o chamei para conversar e falei que coringa é a pior coisa no futebol. Ele concordou.

    "Eu passei a ajudá-lo a cruzar com precisão. Apesar de ser meu rival pela lateral. Por coincidência, fraturei o meu tornozelo. E o Cafu assumiu a lateral do São Paulo. E virou o Cafu."

    "Na final do Brasileiro de 1991, os líderes do time tiveram uma reunião com o Telê Santana. E disseram que para garantir o título contra o Bragantino, do Parreira, eu precisava voltar a ser titular. E o Cafu jogaria como ponta esquerda. O Telê aceitou. E ganhamos o título."

    "O Guarani reclama até hoje de um pênalti no João Paulo, do Vagner. Mas o João Paulo era especialista em simulação. Não foi pênalti. E ganhamos o Brasileiro de 1986, em Campinas.

    "Eu deveria ter disputado a Copa de 1986. Mas o Telê Santana não me convocou. Preferiu levar um meia que atuava improvisado na lateral, o Josimar. Naquele tempo tinha aquela rivalidade entre São Paulo e Rio de Janeiro na Seleção. Foi muita injustiça comigo.'

    "O maior erro da minha carreira foi não ter empresário. E eu pedi para ir embora em 1992, antes de o São Paulo ganhar Libertadores e o Mundial. Sabia que era um timaço. Poderia ter ficado quieto. Na reserva. Teria esses títulos. Mas queria ser titular e fui para o Fluminense. Errei.

    Com personalidade forte, ótima visão tática, Zé Teodoro decidiu seguir como treinador.

    Foi tricampeão em Pernambuco. Dois títulos com o Santa Cruz e um com o Náutico. E bicampeão cearense. Uma conquista com o Ceará e outra com o Fortaleza.

    "Outro erro que cometi foi não ter empresário como treinador. Isso faz toda a diferença."

    Zé Teodoro se tornou coordenador técnico.

    E agora quer trabalhar descobrindo jovens atletas.

    "Sou treinador, mas tenho esse dom de saber se o garoto vai virar bom jogador ou não..."

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    1 時間 37 分
  • Fernando Scherer (Xuxa): 'Pobre no Brasil não vira nadador. Cadê piscinas públicas'
    2025/03/18

    Fernando Scherer é motivo de orgulho para este país.


    Medalhista olímpico, tetracampeão mundial.


    Filho de classe alta de Florianópolis, foi levado ao esporte pela asma.


    Não queria se dedicar a este algum, como modo de vida. Mas se mostrou um fenômeno dentro das piscinas. As vitórias se acumularam de maneira absurda.


    "Eu adolescente me senti destacando de alguma forma para o mundo. Tudo o que a gente quer, no fundo, é ser valorizado, amado, aceito. E decidi me dedicar à natação."


    O apelido Xuxa veio dos cabelos louros, que existiam, longos.


    Se nas piscinas, o desempenho era impressionante, fora delas, ele seguia rebelde.


    "Eu bebi desde os 14 anos. Treinava feito um louco. E à noite bebia. Foi assim quase a carreira toda. Se me atrapalhou fisicamente? Pode ser. Mas eu não seria o Xuxa se não agisse como eu quis."


    Para deixar tudo ainda mais cinematográfico, ele competia com Gustavo Borges. "Ele era um nadador fantástico. Mas o contrário da minha personalidade. Todo organizado, centrado, certinho. Levava uma vida de atleta dentro e fora da piscina. Ele foi o meu grande rival. Foi ótimo, que eu o puxei e ele me puxou. E nós sempre nos respeitamos. Apesar de sermos completamente diferente."


    Xuxa fez história. Foi tetracampeão mundial. Ganhou sete medalhas de ouro em Panamericanos.


    Tem duas medalhas olímpicas de bronze.


    O currículo é fabuloso.


    Mas o grande orgulho foi ter derrotado Alexander Vladimirovich Popov, tetracampeão olímpico.


    "Era uma obsessão. Ele ganhava sempre. Até que o venci nos Jogos da Amizade. Ele ficou inconformado. E teve uma reação péssima. Ele olhou para mim e perguntou : 'O que você tomou?' Péssimo perdedor." Havia antidoping na competição, o russo não simplesmente não se conformou.


    Longe do esporte, Xuxa acabou caindo na depressão. "Foi quando acabou a minha carreira e acabou o personagem 'Xuxa nadador'. Foi terrível. Não queria sair da cama. Não queria comer, viver. Foi difícil. Mas consegui superar. Com ajuda de três psicólogos e um psiquiatra. Quem estiver com sintomas de depressão, tem de procurar ajuda. Afeta a todos, não importa quem seja. Nunca pensei que fosse passar por isso.


    "Eu cheguei a pensar em tirar a minha vida."


    Quando ele estava melhor e decidido a viajar para a Índia, para tentar se redescobrir, veio o convite para a A Fazenda. Ele aceitou. Conheceu Sheila Mello. E acabaram casando, tendo uma filha. "Foi surreal. Fragilizados, o programa nos aproximou. Casamos e tivemos Brenda. Acabamos o casamento, mas seguimos amigos. A nossa missão era ter nossa filha, que é uma pessoa muito especial."


    Aos 50 anos, com aparência de 35, Xuxa segue a vida como empresário de sucesso. E palestrante. Usufruindo tudo o que conseguiu na natação.


    Ele só lamenta a falta de política esportiva no Brasil.


    "Quem for pobre não vai conseguir virar nadador neste país. As dificuldades são imensas. É preciso ser sócio de um clube para começar a nadar. Pagar professor. Cadê as piscinas públicas? Isso me incomoda muito. É um enorme desperdício..."

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    2 時間 21 分
  • Heródoto Barbeiro: 'A Copa de 70 serviu para disfarçar a ditadura militar.'
    2025/03/11

    Historiador, jornalista, professor, apresentador, advogado, monge.

    Heródoto Barbeiro tem uma visão profunda, que vai além, do futebol, do esporte.

    Principalmente no Brasil.

    "Neste país e, como em todos, se repete o que acontecia no Império Romano. A população precisa de pão e circo.

    "E o esporte entra como circo, como alienação para que as pessoas possam viver. E muitas vezes, ficarem distraídas do que realmente acontece no governo.

    "O esporte é usado até como propaganda ideológica. Foi assim na antiga União Soviética, cada vitória sobre os países capitalistas era política.

    "Assim também como quando os Estados Unidos vencem nas Olimpíadas é ao contrário.

    "Hoje, a China faz isso muito bem.

    "Vi o uso absurdo do grupo terrorista Setembro Negro fez da Olimpíada de 72, na Alemanha, matando atletas judeus inocentes. Para aproveitar os holofotes da Olimpíada.

    "Apesar compreender perfeitamente como o esporte é utilizado pelos governantes, não dá para se isolar do mundo. E racionalizar tudo.

    "Entendo que acontece com os nossos dirigentes, mas não deixo de ser corintiano, de verdade!

    "O homem não é só levado pela inteligência.

    "Mas também pela paixão, futebol é paixão, emoção, competição. Está na nossa essência."

    Heródoto tem o maior prazer em ensinar, desvendar, contextualizar os acontecimentos do mundo. Faz isso com maestria.

    Esse dom vem desde quando o office boy descobriu o dom para ser professor, há mais de 60 anos.

    Esse prazer de ensinar passou para a Comunicação.

    Professor de Cursinho, entrou para o rádio, sua paixão.

    Do rádio para a televisão.

    E desde então, jamais parou de seguir a sua missão, que é muito nobre.

    "Eu não só 'dou' a notícia. Faço questão de explicar o que ela vai mudar na vida da pessoa. E quem assiste entenda um pouco melhor o mundo onde vive."

    Heródoto confessa que, muitas vezes, se deixou levar pela empolgação do esporte.

    "Acreditei que a Copa (de 2014) e a Olimpíada (2016), em seguidas no Brasil, seriam marcos para o país. Trouxessem progressos. Não fossem apenas usadas. Mas elas aconteceram e não deixaram legado algum."

    Heródoto também desvenda um velho tabu. O de que os jornalistas brasileiros se deixaram alienar pela conquista da Copa do Mundo de 1970. E, em plena Ditadura Militar, com extrema e violenta repressão, os repórteres só queriam celebrar Pelé, Rivellino, Gerson, Tostão...

    "Nada disso. Os jornalistas brasileiros ficaram felizes pelas conquistas. Mas não perderam a noção do que acontecia no país. Havia a Censura, que impedia os repórteres de escrever sobre os exageros. O risco era ser preso, sumir, morrer.

    "A conquista do tri mundial foi muito bem usada pelo governo militar, eu não tenho a menor dúvida."

    Um dos pais da CBN, como rádio que 'toca notícia' 24 horas, viu a morte da rádio Globo, de São Paulo. Passou pela Jovem Pan, pela CBN.

    Marcou época na TV Cultura. Na apresentação do Roda Viva.

    É contratado pelo portal R7.

    Segue também traduzindo, as cada vez mais incompreensíveis, notícias, na rádio Novabrasil.

    Aos 78 anos, transborda energia e sapiência.

    Heródoto não foi entrevistado.

    Deu apenas mais uma aula na sua vida.

    E ajudou a traduzir muito do que vemos.

    Mas não enxergamos...

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