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O futebol e outras civilizações ficcionais. Outra conversa com Carlos Maria Bobone

O futebol e outras civilizações ficcionais. Outra conversa com Carlos Maria Bobone

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Teria sido bom se em vez de cigarros e outros vícios ocasionais, tivéssemos aprendido um instrumento, desses que puxam por nós, tornam mais fértil a solidão, e nos levam por lugares perdidos à boleia do som, frequentando uma gente que prescindiu de se fazer interessante, de se explicar, coleccionar temas e opiniões, mas que prefere outro ângulo do mundo, outras frequências, promete o sangue a uma circulação mais vasta, prescindir do teatro de quem está aí para nos dizer uma e outra vez quem é, antes tornar-se um nativo do fundo, das regiões que acatam todo o balanço, gostam de ranger com o mundo. A música bem pode ser uma forma de jogo que persiste até mais tarde na vida. Quem forma bandas ou acede a essa promiscuidade tão fluída das formações que despontam de forma ocasional, acidental, são os miúdos que se defendem da realidade através dessas formas de recreio sonoro. Devemos pensar na teoria dos círculos mágicos de que fala Huizinga, esses que se desenham numa situação de jogo, o qual não apenas gera uma zona nova, sujeita a outras leis ou regras particulares, mas também se extrai do contexto geral, e admite possibilidades mais profundas de recreação, activando modos de atenção particularmente fortes que, para alguns, são negativamente associados a formas de distracção frívolas, superficiais e improdutivas. Ao longo da história, como lembra Patrícia Gouveia, no catálogo da exposição Playmode, brincar e jogar foram habitualmente considerados opostos à disciplina, ao trabalho, à seriedade. Mas, em Homo Ludens, Huizinga vincou como “o conceito de jogo pertence a uma ordem mais elevada do que a seriedade dado que esta procura excluir a ideia de jogo, enquanto que o jogo pode perfeitamente integrar a ideia de seriedade”. Esta seriedade do jogo nada tem que ver com uma questão de produtividade, eficiência, ou qualquer dessas medidas do enredo capitalista. Huizinga preferia evocar a forma de envolvimento do jogador em formas de acção sublime e sagrada com a mais alta seriedade, arrebatamento e absorção. É esse modo de sublimar e de construir um enredo alternativo que integra uma série de propriedades mágicas e autonomiza os círculos do jogo. “Perfeito é não quebrar a imaginária linha”, escreveu Sophia. Assim, o jogo é um ensaio rebelde, um impulso de transformação decisiva, que pensa por propor um outro modo, mudar, escapar, dar margem para uma ficção que chega a ser para nós bem mais decisiva, bem mais absorvente e cativante. Como assinalava alguém, no jogo há qualquer coisa “em jogo” que transcende as necessidades imediatas da vida e que confere sentido à acção. Em certo sentido podemos encarar o futebol como um jogo que foi levado ao extremo e se impôs como uma espécie de civilização ficcional, com a sua mitologia própria, os seus heróis, e a sua carga de epicidade estupenda, que serve um recreio àqueles que viram o caminho para a infância e as liturgias do jogo serem-lhes proibidas. Em O Jogo da Glória, Carlos Maria Bobone nota como o desporto tem para nós “esta função escandalosa de oferecer uma escapatória ao destino e mostrar que, pelo menos, podemos criar qualquer coisa que nos diverte a partir de todo o mal que fazemos”… Mas e porquê? “Porque a vida em geral precisa de alívio, precisa que nos libertemos das suas finalidades, é que um desporto como o futebol pode ser tão apelativo. Não há nada necessário em chutar uma bola, nada funcional em marcar um golo. Um desporto destes liberta de uma obrigação mais geral de viver a vida e do peso dessa obrigação.” Neste episódio vamos andar à volta destas possibilidades de recreação e de ficção, nos modos mais ou menos subtis de insubordinação, e para isso, contámos com o apoio do Benjamin-velhinho, este reaccionário erudito, que se tem desdobrado entre ensaios de algum fôlego sobre aspectos mais ou menos centrais da cultura, sempre de forma esclarecida e saborosa. Também tem mantido uma empenhada acção crítica, e é alguém que traz um relógio de pulso que se ouve pela sala como um metrónomo. Ora, se queremos saber que horas são, qual é a nossa circunstância presente, devemos reconhecer que qualquer época deve, necessariamente, ser aferida através de uma relação crítica. “É unicamente através dela que a humanidade se pode tornar consciente do ponto a que chegou”, diz-nos Oscar Wilde. “É a Crítica, como sublinha Arnold, que cria a atmosfera intelectual de uma época. É a Crítica, como espero vir a sublinhá-lo eu um dia, que faz do espírito um instrumento preciso. Nós, com o nosso sistema educativo, derreámos a memória com uma carga de factos desconexos, e tentámos transmitir esforçadamente os conhecimentos que esforçadamente adquirimos. Ensinamos as pessoas a lembrar-se, nunca as ensinamos a crescer. Nunca nos ocorreu tentar desenvolver no espírito uma qualidade de apreensão e discernimento mais ...

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