A Flor da Lapela
Ele espera pacientemente a fila andar.
Seu velho chapéu o protege do frio e do sol.
Uma flor na lapela do seu paletó não o abandona, por nada.
Hoje, ele acordou mais cedo.
Escolheu sua roupa com os mesmos cuidados que sua mulher teria feito.
Então, veio a saudade e uma maldita dor no peito, que encharcou
de lágrimas seu lenço desbotado.
Mas não desistiu.
Porque sua mulher não permitiria.
Ajeitou o chapéu na cabeça, alisou o bigode, pegou a bengala, deu um último tapa nos sapatos, ajeitou o porta-retrato no aparador e tomou as ruas solitárias do seu bairro.
Um tanto perdido.
Um tanto inquieto.
Faltando um braço agarrado no seu,
que lhe dava rumo e afago.
Agora sim - a fila andou.
E ele pôde saborear os aromas de tantas flores que habitam os jardins.
As cores de todas as flores são como pinceladas de boas lembranças que conceberam uma vida inteira.
Sem pudor, com suas mãos trêmulas, ele rouba um broto de malva rosa e troca a sua flor na lapela.
Giverny, França - Jardins de Monet / 2011 - Canon EOS 1Ds - Era início da primavera. Estava quente e frio. O cheiro das flores presenteava os visitantes na fila da entrada.