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Meio Século de Independência de Angola: as cicatrizes da guerra

Meio Século de Independência de Angola: as cicatrizes da guerra

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Cinquenta anos depois da sua independência, Angola continua marcada pelas feridas da guerra civil e pelas promessas não cumpridas da liberdade. Entre memórias de dor, medo e esperança, antigos combatentes, pensadores e activistas reflectem sobre um país dividido entre a riqueza do petróleo e a pobreza do povo, onde a reconciliação e o sentido de pátria permanecem os grandes desafios da nação. Angola celebra esta terça-feira o quinquagésimo aniversário da sua independência. No entanto, a data de 11 de Novembro de 1975 continua a ser inseparável das memórias dolorosas da guerra civil que se lhe seguiu. Foram 27 anos de combates, de desilusões e de cicatrizes ainda visíveis numa nação que, meio século depois, continua a interrogar-se sobre as suas origens e sobre a sua memória colectiva. A esperança que floresceu com o fim do domínio colonial dissipou-se rapidamente. A fragilidade da transição e as antigas divisões étnico-regionais mergulharam o país numa turbulência profunda. O antigo primeiro-ministro Marcolino Moco é peremptório ao identificar as raízes desse conflito: “Aí que nos enganamos. O sonho [do MPLA, UNITA e FNLA] não era o mesmo. Os sonhos eram mais ou menos étnico-regionais.” O dirigente recorda que “a FNLA nasceu como União das Populações do Norte de Angola, representando sobretudo os Bakongo”, enquanto “o MPLA, embora invocasse Angola inteira, partiu também de uma base parcial, ligada ao povo ambundo”. Já a UNITA, acrescenta, “teve o seu próprio sonho parcial”. Esta fragmentação dos movimentos de libertação, associada ao Acordo de Alvor, “totalmente desajustado e irrealista”, precipitou o país no abismo. O coronel português João Andrade da Silva, testemunha do processo de descolonização, reconhece responsabilidades externas. “Somos responsáveis também por haver guerra civil”, admite, evocando as “alianças inaceitáveis” feitas entre oficiais portugueses e forças locais antes da independência, que acabaram por alimentar divisões e violências que se seguiram. O 11 de Novembro de 1975, data da proclamação da independência, amanheceu sob o som das bombas e dos canhões. O dia que deveria ser de júbilo transformou-se em pânico e medo. Henriqueta Pedro, antiga combatente da FNLA, relembra “a confusão terrível” causada pela entrada das forças cubanas e pelos massacres que se seguiram. “A Angola que nós lutamos não é esta Angola que estamos a viver”, lamenta. “Crianças a comer nos contentores, pessoas que desaparecem do dia para a noite... Não sei se valeu a pena.” A guerra e a repressão deixaram marcas profundas. O cantor Bonga descreve o 27 de Maio de 1977 como “o inferno na Terra”. “As pessoas foram amedrontadas”, afirma. “Nem sabemos quantas foram as vítimas... Ficámos enlutados. É difícil falar nós entre nós, porque há medo da ingerência abusiva nos nossos lares.” A sua voz exprime a dor de uma geração marcada pelo medo e pela desconfiança. Também Álvaro Chikwamanga Daniel, actual secretário-geral da UNITA e combatente durante os últimos anos do conflito, guarda lembranças que ainda o assombram. “Lembranças tristes de ver companheiros a ficarem pelo caminho, casas queimadas, mulheres violadas, crianças perdidas em pleno combate.” São memórias que continuam a ecoar num país onde a reconciliação se mostra incompleta. Vinte anos depois do fim formal da guerra, Angola vive uma paz que muitos consideram incerta. O filósofo e activista Domingos da Cruz compara a estabilidade actual à Pax Romana: “Uma paz baseada na violência, uma paz injusta, a paz da espada.” Para o académico, “não houve avanço efectivo das liberdades” e “o movimento que tomou o poder é responsável pelo estado de coisas em Angola”. A reconciliação nacional, que deveria unir o país, permanece frágil. O dirigente da UNITA reconhece que “a reconciliação é ainda um processo que tem de ser continuado com muita coragem”. Apesar disso, mantém esperança: “Tem que haver coragem para enterrar o passado e olhar o futuro de maneira diferente, com vontade de ter o outro mais próximo do que longe.” O investigador português Vasco Martins vê a sociedade angolana presa a uma sobrevivência diária que impede uma reflexão profunda. “Os angolanos pensam a liberdade e a reconciliação com o estômago e não com a cabeça”, afirma. Enquanto persistirem “a pobreza extrema” e a desigualdade, a verdadeira reconciliação “não acontecerá necessariamente”. O medo continua a dominar o dia-a-dia, a activista Laura Macedo descreve um país onde “a censura interior se tornou norma” e onde “o poder político interfere directamente na justiça”. “O cidadão tem medo do regime”, diz, “mas o mais engraçado é que o medo do cidadão faz com que o cidadão às vezes tenha atitudes de revolta. Os governantes têm medo dos nossos medos.” A ...
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